Itaú Unibanco (ITUB4): venda de 5% da XP abre espaço para um excelente negócio
A notícia de que o Itaú Unibanco (ITUB4) avalia vender uma participação na XP e alocar o restante em uma nova empresa do grupo animou o mercado. Para além do objetivo de “destravar o valor” da corretora, o banco também vê a possibilidade de fazer valer um acordo que pode aumentar a participação na companhia, segundo especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias. Próximo das 16h30 (de Brasília), as ações do Itaú Unibanco subiam 5,16%, a R$ 25,28.
Portanto, o novo desenho da participação seria uma forma de o Itaú Unibanco acatar as restrições impostas pelo Banco Central (BC) ou pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em relação a participação do banco e mesmo assim aumentar posição na XP.
Para isso, o banco atuaria em duas frentes: venderia 5% das ações da XP no mercado e, por outro lado, passaria o restante, cerca de 41,05% do capital da empresa de investimentos, para uma nova empresa, com nome ainda indefinido.
Desde a compra da participação na XP, o Itaú Unibanco possui o compromisso de comprar mais 12,5% do capital social da corretora em 2022, dependendo apenas da aprovação do BC. O BC, porém, vetou que o Itaú Unibanco assumisse o controle da XP, ou seja, o banco não poderia possuir 50% mais um dos votos na corretora.
Dessa forma, com a estratégia citada de repassar o percentual a outra empresa e vender uma pequena parcela, o Itaú abriria a possibilidade de exercer esse direito sem temer o veto do BC ou Cade.
“Essa nova empresa de fato teria os direitos do acordo de acionistas com a opção de compra. Com esse desenho, o Itaú carrega uma opção minoritária da empresa e teria menos risco de Cade ou BC, pois o controle da XP não estaria embaixo do Itaú”, disse Rafael Almeida, analista da Safari Capital.
Portanto, para além das brigas, um ativo de valor, com o a XP, sempre interessa. Não à toa, Cândido Bracher, presidente do Itaú, nesta semana se demonstrou interessado em cumprir o acordo firmado há três anos atrás.
“Não é uma opção de compra, é um compromisso, não cabe a nós cogitar se vamos cumprir ou não, nós sempre cumprimos. Se fosse uma opção nós iríamos exercer, nós continuamos achando a XP um excelente investimento”, disse Cândido Bracher, presidente do Itaú.
Para Gutenberg Neto, especialista da Suno Research, o racional da segregação pode ser a peça chave que o Itaú buscava para incorporar a XP e seu valuation em um futuro próximo.
“A partir do momento da criação da holding, os acionistas seriam os donos daquele percentual, não mais o banco. Então, a Itaúsa deteria também as ações, por exemplo, e essa nova holding burlaria o problema do veto do controle para o Itaú, ficando livre para comprar mais um pedaço da XP”, afirmou.
De acordo com Rafael Almeida, além da possibilidade de aumentar o percentual na XP, o Itaú Unibanco também faria uma compra por um valor menor do que o atual.
“Hoje a XP é cotada em um valuation de cerca de 82 vezes o lucro, mas o Itaú, em contrato, tem direito de comprar o percentual restante do acordo a 23 vezes o lucro, o que seria um ótimo negócio”, disse o analista.
Atualmente, o Itaú possui uma fatia de 46% no capital da XP — a participação de 49,9% inicial foi diluída após a oferta inicial de ações (IPO) na Nasdaq — haveria uma fatia remanescente de 5%, que pode ser vendida.
Para entregar aos seus acionistas essa fatia, seria necessário a criação de uma empresa, e segregar nela as ações da XP, ou 41,05% do capital da empresa de investimentos.
Destravar valor também é objetivo do Itaú
Além da possibilidade de ampliar a participação na XP, o Itaú Unibanco também busca destravar o valor da XP dentro do banco. Segundo Cândido Bracher, “esse investimento [na XP] não está precificado 100% em nosso valuation”.
“O mercado nunca precificou as ações de Itaú essa participação na XP. O Itaú só vem caindo na Bolsa, assim como os grandes bancos. Então, na visão do Itaú, [ a cisão] é uma forma de ele conseguir gerar valor a acionistas e caixa”, disse Gutenberg Neto.
“Se você fazer uma análise, o Itaú tem um desconto aos pares e era como se o Itaú nem tivesse a XP. O valor do banco na Bolsa estava bem próximo do Bradesco, sendo que tinha a XP dentro.
Segundo Gutenberg , além de obter um melhor valuation no mercado, a entrada de cerca de R$ 6 bilhões no caixa do banco, em um momento de crise, é também positiva.
“A cisão daria uma injeção de caixa para a empresa, aumentando o índice de Basiléia e a carteira de crédito, o que sempre é muito positivo”, afirmou o analista da Suno Research.
O Itaú Unibanco teve um lucro líquido recorrente de R$ 5,030 bilhões no terceiro trimestre deste ano, um recuo de 29,7% em comparação com os R$ 7,156 bilhões apurados no mesmo período.
As despesas de Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa do banco registraram uma queda de 16,2% no período, saindo de R$ 7,561 bilhões no segundo trimestre para R$ 6,337 bilhões no trimestre encerrado em setembro.
O índice de inadimplência do Itaú Unibanco ficou em 2,2% no trimestre, uma queda de 0,5 ponto percentual em comparação com os três meses anteriores.