Após a divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Itaú (ITUB4) reajustou sua previsão para a taxa básica de juros da economia (Selic). Agora, o banco espera um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa já em março, no próximo encontro.
Em relatório, o Itaú disse que o entendimento do Copom é de que, em função do comportamento da inflação desde maio de 2020, piorando o balanço de riscos, será necessária a volta da elevação da Selic.
Embora o “estímulo monetário extraordinariamente elevado” se mantenha, mesmo em meio ao cenário fiscal desafiador, a instituição espera que seja realizado um aumento mínimo na próxima reunião. O ritmo do ciclo de alta, contudo, “dependerá da evolução da atividade econômica, da inflação e da política fiscal“.
Sob o entender do comitê, segundo o Itaú, as medidas de inflação subjacentes estão acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação. Antes, porém, essas medidas eram vistas compatíveis com a meta.
Nesse sentido, em razão da alta das commodities, os preços dos alimentos e combustíveis tendem a seguir crescendo, o que, segundo o colegiado do Banco Central (BC), é um choque temporário — ainda que persistente por mais tempo que o esperado.
Para o Itaú, Selic a 2% está chegando ao fim
A decisão pela manutenção da Selic em 2% foi unânime entre os diretores, pois o cenário básico da economia do País ainda reflete a necessidade do estímulo monetário.
No entanto, esse entendimento pode estar perto do fim. Justamente por conta das expectativas de inflação, a ata demonstra que o Copom decidiu interromper o forward guidance — principal fiador da Selic na mínima histórica — pois entende que as “projeções estão suficientemente próximas da meta para o horizonte relevante de política monetária”.
O 15º parágrafo da ata diz que membros do Copom julgam que o comitê deveria considerar o “início de um processo de normalização parcial”, reduzindo o grau de estímulo.
O fim do forward guidance, contudo, não resulta imediatamente em uma elevação da taxa de juros, disse o comitê. Isso porque, segundo a ata, “a conjuntura continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”.
Com isso, o Itaú passou a prever a elevação da Selic já na próxima reunião, que acontecerá nos dias 16 e 17 de março. Antes, a estimativa era que o ciclo de alta começaria em maio, após a correção da projeção de início em agosto.
UBS e BofA veem ata em tom mais hawkish
Em relatório divulgado nesta terça, o UBS disse entender que a ata do Copom foi mais hawkish do que a declaração pós-reunião, na última semana. A análise também foi pelo Bank of America (BofA), segundo nota divulgada hoje.
O UBS salientou que alguns membros do comitê questionaram o colegiado se seria apropriada a manutenção da taxa de juros neste patamar, uma vez que a economia se recuperou rapidamente dos primeiros meses de pandemia.
Contudo, embora a instituição financeira entenda que as chances de elevação da Selic já em março tenham aumentando, espera que o ciclo de alta vá começar na reunião de maio, com quatro elevações de 50 pontos-base, encerrando 2021 em 4%.
A projeção coincide com aquela realizada pelo banco norte-americano, de um aumento de já em março para 2,50% ao ano, chegando a 4% no fim de dezembro.
Para o BofA, a autoridade monetária sinalizou preocupação com os riscos fiscais para a inflação e com a recuperação da economia mais lenta do que o esperado. Além disso, membros do Copom pareceram dispostos a permitir que as altas na Selic comecem mais cedo, mencionando os resultados positivos do mercado de trabalho formal e questionando a necessidade de um estímulo monetário extraordinário neste momento.