Após prometer ao mercado “um novo IRB” no quarto trimestre, o IRB Brasil (IRBR3) já passou a colher os frutos de sua reestruturação. Embora ainda não tenha o guidance de 2021 fechado, a companhia espera voltar a reportar lucros ainda neste ano.
Segundo o CEO do IRB Brasil, Antonio Cássio dos Santos, a empresa deve ter um 2021 similar a 2017 e 2018, períodos positivos e que foram anteriores às irregularidades identificadas nas contas da resseguradora. O executivo diz que, a partir de 2019, os números se tornaram poluídos e não refletem o potencial da empresa.
Em teleconferência com a imprensa sobre os resultados do quarto trimestre do ano passado, executivos da empresa, contudo, disseram que desconsiderando efeitos não recorrentes, o resultado líquido do IRB no ano passado seria positivo em R$ 195 milhões.
O principal impacto one-off, como é chamado um evento não recorrente pela empresa, no período foi relacionado à reversão do crédito tributário da sucursal de Londres. Em anos anteriores, foi constituído crédito tributário diferido referente aos prejuízos acumulados durante décadas na unidade inglesa.
Todavia, por conta da crise mundial gerada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a nova adminsitração do IRB entendeu ser pouco provável a recuperação de tal crédito tributário em 2020. Dessa forma, em dezembro a companhia reverteu o crédito tributário, conforme preconizado nas normas contábeis.
Na conversa com a mídia, o presidente da empresa disse que a aprentação dos resultados com tais “asteriscos” ocorre em função de uma “demanda do mercado, em especial da imprensa, de fazer o maior detalhamento possível de tudo o que está sendo feito. Não se trata de tirar as coisas ruins do balanço, se trata de transparência“.
“Quando se fala em efeitos recorrentes e não recorrentes, é dito em prol da transparência — seja para o bem ou para o mal –, em conformidade com as melhores práticas internacionais”, disse o executivo. “É melhor para o mercado de capitais entender o processo de recuperação da empresa. Não é enrolação.”
Segundo o CEO, o guidance do IRB Brasil para este ano deve ser apresentado no começo de abril. “A companhia já está se sentido segura para fazer as projeções, apresentá-las ao mercado e colocá-las em prática”.
Fatia da União deve voltar à pauta do IRB Brasil
Na teleconferência, os executivos da empresa foram questionados acerca do golden share que a União ainda detém na companhia.
Golden share é a nomenclatura utilizada no mercado financeiro que consiste na criação de ações que permanecerão sob controle do poder público, mesmo depois da privatização da empresa em questão. A desestatização do IRB Brasil foi concluída em 2013.
Segundo os executivos, por mais que a fatia da União sempre tenha estado no radar da administração, esteve fora do foco em 2020, sobretudo em função da crise gerada pelo coronavírus e os ajustes da contas internas. “Ano passado, nosso objetivo foi a readequação regulatória”, diz a empresa.
Vale ressaltar que a golden share ainda dá direitos exclusivos ao governo, como a indicação do presidente do Conselho da empresa, o que chama atenção do mercado. O mesmo ocorre com outras empresas de grande porte do País, como Vale (VALE3) e Embraer (EMBR3).
No entanto, os executivos salientaram que esse processo, entre outros direitos da União, não traz uma influência direta que represente uma pressão por parte do governo. A companhia faz parte do Novo Mercado, mais alto nível de governança corporativa da B3.
O presidente do empresa afirmou que a alienação dessa fatia do governo deve voltar à pauta de discussões nos próximos anos, “mas quem deve decidir sobre isso são os acionistas”, uma vez que a resseguradora é uma corporation, ou seja, tem controle pulverizado.
Por volta das 13h desta sexta-feira, as ações do IRB Brasil recuavam 2,56%, a R$ 6,48.