Após ter uma série de fraudes reveladas em seus balanços financeiros pelo gestor Guilherme Aché, da Squadra, o IRB Brasil (IRBR3) sofre com um novo problema no campo da governança. Agora, a Securities and Exchange Comission (SEC), autoridade reguladora do mercado de capitais dos Estados Unidos, processa a resseguradora pela divulgação de informações falsas.
Isso ocorre por conta da divulgação de um documento que afirmava que a Berkshire Hathaway, veículo de investimento de Warren Buffett, teria ‘triplicado suas participações’ comprando mais ações do IRB.
Contudo, a holding de Buffett “não tem, nunca teve e nunca terá” IRBR3, conforme citado pelo megainvestidor. Tendo uma alta de quase 7% por conta da notícia falsa, Fernando Passos, o CFO do IRB, é processado pela SEC, sendo atribuído como o vetor de transmissão da informação.
Vale lembrar que apesar da alta dos papéis, quando a notícia foi verificada como falsa as ações do IRB desabaram quase 32% em um só pregão – oscilação que figura como maior queda para as ações da empresa em toda a sua história.
“A denúncia alega que Passos criou e compartilhou com outros uma lista de acionistas falso que mostrou que Berkshire havia feito compras substanciais de ações da IRB. Passos também supostamente comunicou as informações falsas a analistas e investidores durante reuniões no Reino Unido e nos EUA”, diz o comunicado da SEC, sobre o caso de Passos.
O escândalo, à época, teve tanta magnitude que o CFO teve que renunciar do cargo de vice-presidente financeiro e de relações com investidores do IRB. O cargo era ocupado por passos desde meados de 2014.
Junto com ele, também renunciou o presidente-executivo, José Carlos Cardoso.
Além disso, em 2020 a resseguradora iniciou uma investigação interna contra a sua antiga diretoria, como forma de apurar outros eventuais danos aos acionistas.
“A Companhia apresentou as conclusões de todas as apurações acima indicadas ao Ministério Público Federal, CVM e Susep. A Companhia irá colaborar com as investigações que vierem a ser conduzidas pelas autoridades competentes […] Do mesmo modo, a Companhia tomará as devidas providências legais a fim de se ressarcir de todos os prejuízos que lhe foram causados por condutas irregulares cometidas pelos indivíduos envolvidos”, disso o IRB, sobre o caso, em comunicado.
Mesmo com o histórico manchado, após a sua renúncia o ex-CFO do IRB fundou seu próprio banco, o Cactvs – uma fintech que oferece serviços financeiros para microempreendedores.
Atualmente, o banco digital já possui 100 mil clientes e 800 colaboradores.
Ainda que tenha tido diversos problemas com autoridades, em junho de 2020 Passos ganhou o prêmio de melhor diretor financeiro de instituições financeiras não bancárias da Institucional Investor.
Entenda o caso IRB x Squadra
Em fevereiro de 2020, a gestora Squadra Investimentos publicou uma carta em que questionava as práticas contábeis da resseguradora.
No documento, com mais de 30 páginas, a Squadra apontava que os lucros recorrentes eram inferiores aos lucro contábeis reportados nas demonstrações financeiras da companhia.
“Desde que o IRB Brasil realizou sua abertura de capital em bolsa de valores, no ano de 2017, acreditamos ter encontrado fatores que, em nossa opinião, indicam lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras significativamente superiores aos lucros normalizados. Essa disparidade entre lucro reportado e lucro normalizado (recorrente) foi crescente durante esse período e atingiu sua maior diferença nos nove primeiros meses de 2019”, escreveu a gestora na época.
A revelação foi tão bombástica que os papéis do IRB caíram de R$ 41,43 para R$ 6,47 em apenas dois meses, entre janeiro e março de 2020.
Desde então a companhia vem tentando recuperar a credibilidade junto ao mercado com o trabalho de estruturação. Mas os investidores permanecem examinando com lupa nas divulgações de resultados da companhia.
Veja o desempenho recente de IRBR3
Somente neste ano de 2022, as ações da resseguradora caem 23%, a R$ 3,01. Se considerarmos os últimos 12 meses, são 51% de queda.
Desde o all time high – topo do preço das ações – o IRB já caiu 92,7%, saindo de R$ 41 para R$ 3 em cerca de dois anos.