IPOs: resolução para situação fiscal será gatilho para retomada

O ano de 2020 pode ser considerado como atípico mesmo para um mercado como o brasileiro, acostumado com todo tipo de evento que venha a afetar o Ibovespa, o principal índice acionário da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e suas ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês. 

Se, no início, o ano parecia promissor para empresas que desejavam captar recursos via IPOs, o coronavírus (covid-19) e agora, o receio de o nível de endividamento do País saltar faz com que empresas venham suspendendo as operações com receio de captar um montante menor que o previsto.

Ao todo, 13 companhias já suspenderam seus IPOse  agentes do mercado preveem que o número continue aumentando. De acordo com especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias, para que uma nova onda positiva de IPOs retorne ao patamar projetado no início do ano, o País precisará de uma sinalização mais forte (e definitiva) em relação ao enfrentamento da questão fiscal.

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“O ambiente não é mais o mesmo dos últimos dois meses. E a euforia com IPOs mudou para graças ao cenário local e preocupação fiscal, que se refletiu na curva de juros, no câmbio, e na Bolsa, com uma situação de risco bem maior que anteriormente”, disse Luis Felipe Amaral, gestor da Equitas Investimentos.

Situação fiscal preocupa mercado

Após um início de ano marcado por um forte bull market, quando o Ibovespa, o principal índice acionário da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) alcançou a casa dos 119 mil pontos, 2020 parecia promissor para o mercado de capitais.

Com a taxa básica de juros (Selic) em mínima histórica e a ida em peso das pessoas físicas à Bolsa, o cenário se tornou bastante fértil para as listagem -mesmo após o impacto que o coronavírus (covid-19) trouxe.

Não à toa, até outubro, as vendas de novas ações este ano movimentaram cerca de R$ 66 bilhões em 47 operações entre IPOs e follow-on, segundo levantamento do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Mas, os gastos para manter a atividade econômica e bancar projetos como o do coronavoucher fizeram que o governo gastasse mais do que os analistas previam.

A relação dívida/PIB do Brasil chegou a 79,8% e entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI) preveem que deva ultrapassar os 100% neste ano.

Mesmo com a alta nos gastos, o governo Bolsonaro anunciou a criação do Renda Brasil, programa social que deverá substituir o atual Bolsa Família, e não desamparar quem recebe o auxílio emergencial.

Sem uma sinalização de como o novo programa será pago, contudo, o temor dos agentes do mercado é que a dívida continue a subir. Isso fez com que a aversão ao risco aumentasse e derrubasse o Ibovespa por aqui.

“Acho que teve uma mudança de visão do mercado me relação ao problema fiscal no Brasil, passando a sinalizar uma incerteza razoável a estabilização tanto do déficit quanto da dívida e isso fez a Bolsa caísse”, afirmou Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

IPOs cancelados X valuation desejado

Com a maior percepção de risco fiscal, a volatilidade abraçou de vez a Bolsa. Em meio a variação de fechamento entre grandes altas e dolorosas perdas, as companhias passaram a recolher as ofertas públicas que não alcançam o valuation desejado.

Ao todo, 13 IPOs já foram cancelados neste ano. Além disso, ainda existem 42 empresas que esperam o registro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para seguir com seus planos de IPO.

O ponto, segundo especialistas, é que a maioria das empresas que optou por segurar ou cancelar o IPO identificou que não iria conseguir alcançar o valuation previsto enquanto o mercado ainda estava positivo.

“Com menor tração no mercado de ações os investidores se retraem e boa parte dos IPOs não consegue emplacar. Empresas vendo que, para colocar as ações irão receber menos dinheiro, acabam postergando ou até cancelando na expectativa de melhora do cenário. Creio que boa parte das operações que estão a caminho ou serão canceladas ou postergadas”, disse Pedro Galdi, analista da Mirae.

Outro ponto é que, com o aumento do número de ofertas, os investidores ficam mais seletivos em relação a quais empresas comprar.

“Em uma piora de ambiente, o resultado é que as empresas e os empresários que tinham sido balizados pelos bancos com valuations bem irreais em um mercado que, com um volume grande de ofertas, fica mais seletivo”, disse Luis Felipe Amaral, da Equitas.

Gatilho para retomada é questão fiscal

Para retornar ao patamar de ofertas projetado no início deste ano, agentes do mercado aguardam uma sinalização mais forte de como o governo irá combater o endividamento

“O principal gatilho é o ambiente local. Se as coisas melhoraram na perspectiva de reforma, em função do agravamento da situação fiscal, os IPOs podem retornar. Além disso, tem uma calendário tumultuado com eleição municipal, depois dos presidentes da Câmara e Senado, o que atrapalha o encaminhamento das reformas”, disse Amaral.

Para Pedro Galdi, além da resolução sobre o problema fiscal, há também o cenário político no exterior que faz com que

“Vejo Trump como o candidato do mercado. Até a definição da eleição lá, vejo a Bolsa volátil e sem força. Definido isto o mercado melhora, além disso, há pontos que podem influenciar positivamente seria a vacina e o lançamento do programa de estímulo”, completou.

Mesmo com os cancelamentos, para Pedro Paulo Silveira a listagem das empresas não deve parar totalmente, principalmente caso os gestores aceitem um valuation menor.

“Eu acho que [as interrupções] não foi algo consensual. Temos outros IPOs em andamento, não há sinal de recuo dessa turma”, disse.

“Acho que o processo não terminou. Tem gente colocando papel, toda semana tem IPO novo, então quem quem estava receoso em algum momento vai voltar. O fato de o mercado continuar se recuperando é o próprio gatilho para o retorno dos IPOs“, completou.

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Vinicius Pereira

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