O ano de 2020 está sendo marcado por uma forte retomada das ofertas iniciais de ações (IPOs), embora algumas das empresas tenham desistido de suas ofertas no meio do caminho. A taxa básica de juros em suas mínimas históricas impulsionou as empresas a irem à bolsa de valores para realizar ofertas de ações, em busca dos que estavam saindo da renda fixa para a renda variável.
Até então, quase no fim de novembro de 2020, 24 companhias passaram a ser negociadas na bolsa de valores, ou seja, fizeram IPOs. Outras 16 deixaram seus planos de entrar para B3 de lado por conta da percepção de um mau momento nas bolsas mundiais, com baixas generalizadas nos preços da grande maioria das ações.
Entre as que estrearam, uma pequena parte acumula ganhos: apenas dez das 24 viram seus valores de mercado subindo. Dessas dez, um grupo ainda menor se valorizou de forma expressiva.
Segundo dados da Economatica, que levarem em conta todos os IPOs realizados em 2020, as cinco ações que ficaram mais caras após o IPOs são Locaweb, Petz, Sequoia Logística, Track & Field e Aeris. Esses negócios conseguiram espantar o pessimismo do mercado e acumulam altas de mais de 20%.
1 – Locaweb (LWSA3): alta de 286% desde IPO
Na lista de principais altas dos IPOs de 2020, a Locaweb (LWSA3) é líder com larga folga. As ações ordinárias da companhia, que foram negociadas pela primeira vez na B3 no dia 6 de fevereiro, acumulam, até o final do pregão de 19 de novembro, uma alta de 286%.
A Locaweb tem um portfólio grande de serviços de internet e levantou R$ 544,7 milhões em caixa no seu IPO, sendo precificada no topo da faixa indicativa esperada pelos ofertantes: R$ 17,25. Desde então, acelerou o ritmo de aquisições, focando, principalmente, na digitalização de negócios on-line para pequenos e médios varejistas. Impulsionada pela pandemia, a base de clientes da companhia saltou 92% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.
A base de penetração do e-commerce no Brasil está perto dos 12%, baixo em relação aos Estados Unidos, com 19%, e a China, com 35%. Isso sugere ainda que o país ainda tem um bom potencial de crescimento na área. Para Rodrigo Wainberg, analista da Suno Research, a Locaweb, entretanto, pode enfrentar um problema: gigantes do varejo como Magazine Luiza (MGLU3), Amazon e Mercado Livre podem expandir sua atuação no e-commerce (algumas oferecendo para pequenos varejistas a opção de loja online).
2- Sequoia Logística (SEQL3): alta de 36,37%
Entre os IPOs bem-sucedidos está a Sequoia Logística (SEQL3). A empresa estreou na B3 no dia 6 de outubro e a oferta primária da companhia movimentou R$ 348,1 milhões, que serão destinados a aquisições, investimentos em automação e na otimização da estrutura de capital. A maior parte do que foi levantado, entretanto, foi destinado aos sócios: R$ 652,6 milhões.
A maior alta da Sequoia se deu após a divulgação do seu balanço do terceiro trimestre, no dia 11 de novembro. A companhia chegou a entrar em leilão na B3 após arrancar 13%. Entre os números, a empresa de logística mostrou um avanço da receita de 124% na base anual e de 192% no lucro líquido ajustado, surfando no crescimento do e-commerce, setor onde mais atua no âmbito das entregas.
Em relatório recente, o BTG Pactual iniciou a cobertura e recomendou a compra das ações ordinárias da Sequoia. Para os analistas, a empresa tem um grande potencial de crescimento e é negociada em linha com concorrentes do setor de logística, a 13,8 vezes o EV/EBITDA, e descontada em relação a companhias do setor de e-commerce, em que gigantes são negociadas a 118,4 vezes EV/EBITDA).
Entre os riscos para a companhia, o analista da Suno Research, Rodrigo Wainberg sinaliza o mesmo ao qual a Locaweb está exposta: a possibilidade de as grandes do setor de e-commerce investirem em suas próprias linhas de logística. A Sequoia possui em sua lista de clientes gigantes como a Amazon, o Mercado Livre e a Magazine Luiza, que estão se movimentando nesse sentido e, inclusive, sinalizam que disputarão uma possível aquisição dos Correios com a companhia de logística.
3 – Petz (PETZ3): alta de 33,75% desde IPO
A Petz foi negociada pela primeira vez na B3 no dia 11 de setembro e logo no seu primeiro pregão registrou uma forte alta de 21,8%, finalizando o dia negociada a R$ 16,75. Na precificação, a companhia conseguiu ficar na faixa indicativa de preço, que ia de R$ 12,25 a R$ 15,25, ao ter seu preço fixado em R$ 13,75 por ação.
A empresa vem apresentando, mesmo com a pandemia, crescimento em seus números. No primeiro semestre de 2020, o volume de vendas saltou 36,6% na comparação com o mesmo período de 2019, atingindo R$ 731,6 milhões.
Após a divulgação do seu resultado do terceiro trimestre, divulgado no dia 27 de outubro, as ações da Petz tiveram outra sequência de altas. Na comparação anual, a receita bruta cresceu 51%. Já a receita bruta digital saltou 392,9%. “A decisão estratégica de integrar os canais online e offline foi tomada em 2015 e, desde então, vem sendo implementada com investimentos em tecnologia, processos e disciplina de execução”, afirmou o CEO.
Para Rodrigo Wainberg, além de surfar no crescimento expressivo do setor dos animais domésticos, a Petz se posiciona como uma “One-stop-shop”. A companhia, além de produtos para os animais, oferece serviços veterinários, de hotelaria para pets e, mais recentemente, o de passeio com cães.
O BTG Pactual recomenda a compra da ação, com preço-alvo de R$ 20 pelo BTG. Desde o início de sua negociação até o dia 19 de novembro, a PETZ3 acumula alta de 33,75%, sendo negociada a R$ 18,48.
4 – Aeris (AERI3): alta de 22,52%
Outro destaque entre os IPOs de 2020 foi a Aeris (AERI3), que estreou na B3 há pouco tempo, no dia 11 de novembro. Nesse pequeno intervalo de cerca de 10 dias, ela já conquistou a quarta colocação entre as empresas que mais se valorizaram depois do IPO. A alta, segundo dados da Economatica, foi 22,52% até o fechamento do pregão do dia 19.
A companhia que produz pás eólicas foi precificada abaixo da faixa indicativa de preço estimada pelos coordenadores da oferta, que esperavam algo entre o intervalo de R$ 6,50 e R$ 8,10 por ação. O IPO movimentou R$ 1,13 bilhão, sendo que desses 834,6 milhões serão usados pela Aeris para modernizar suas fábricas e expandir sua capacidade produtora.
Apesar de na precificação o valor ter frustrado, logo no seu primeiro dia negociação da B3 a AERI3 disparou 17,5% e alcançou o valor mínimo esperado da faixa indicativa: R$ 6,50. No final do pregão da quinta-feira, 19 de novembro, as ações eram negociadas a R$ 6,79, uma alta de 22,52%.
Criada em 2010, a Aerjs tem duas fábricas no complexo de Pecém, no Ceará. Em um raio de 500 quilômetros das suas plantas, encontra-se, segundo analistas, 70% do potencial eólico brasileiro. Ela possui entre seus clientes a Vestas, a General Electric, a Nordex e a WEG.
O IPO da Aeris também foi beneficiado pela vitória de Joe Biden nos Estados Unidos. Há a perspectiva de que o democrata fará mudanças nas políticas ambientais, que devem recair sobre as economias de outros países. A TPI Composite, empresa americana do mesmo setor da Aeris, sobe mais de 100% no ano, sendo 14% apenas na primeira semana de novembro.
5 – Track & Field (TFCO4): alta de 20,97%
As ações preferenciais da Track & Field começaram a ser negociadas na bolsa no dia 23 de outubro e até o pregão do dia 19 de novembro valorizavam 20,97%. Os papéis da companhia estrearam valendo R$ 9,25, abaixo da faixa indicativa esperada pelos ofertantes, que era de R$ 10,65 a R$ 14,95. No final do pregão do dia 17 de novembro, a TFCO4 era negociada por R$ 11,70.
O IPO movimentou R$ 523 milhões, dos quais R$ 340,6 milhões foram para o caixa da empresa, que vem investindo na sua presença online. Segundo o balanço divulgado no dia 12 de novembro, ela lançou, recentemente, as opções ship-from-store e a pick in store.
De acordo com Rodrigo Wainberg, analista da Suno Research, a Track & Field aproveita seu modelo de franquias e seus produtos de ticket elevado para turbinar sua rentabilidade. “A companhia construiu uma grife nacional que soube se posicionar muito bem perante concorrentes fortes como Nike e Adidas”, afirma, sobre um dos cinco IPOs mais valorizados do ano.
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