O ano de 2021 foi atrativo para as companhias brasileiras que viram na Bolsa de Valores uma oportunidade de angariar novos investidores. Ao todo, foram 45 empresas que realizaram a abertura de capital na B3. Esse valor é muito superior ao ano passado, quando foram realizados 24 IPOs.
Mas nem todas as empresas que realizaram IPO em 2021 estão contentes com seus papéis. Isso porque a situação do principal índice da bolsa de valores, o Ibovespa, refletiu o medo do investidor com o aumento do risco fiscal, escalada de inflação no mundo e a subida da taxa de juros.
Com isso, algumas empresas chegaram a desvalorizar mais de 70% em seus papéis, principalmente as ligadas em consumo. Elas foram impactadas diretamente pela inflação, que, por sua vez, impacta o poder de compra do consumidor.
Portanto, veja a lista das cinco empresas que enfrentam maior desvalorização nas ações desde os IPOs:
- Mobly (MBLY3): -81%
- Dotz (DOTZ3): -77%
- Oceanpact (OCPT3): -75%
- Westwing (WEST3): -73%
- Getninjas (NINJ3): -73%
1º – Mobly lidera baixas entre IPOs
A derrocada dos papéis da Mobly (MBLY3) frente a outros IPOs não se deve a um fator pontual, mas conjuntural.
Diversos setores de consumo, entre eles o de móveis, registram dificuldades neste período de inflação substancial nos custos de insumos, além da queda na demanda que exige investimentos em marketing.
Acontece que o IPO da Mobly, em 05 de fevereiro, já ocorreu em meio a um ambiente desfavorável. Desde então, a empresa registra desvalorização de 81%, com os papéis saindo de uma precificação de R$21,00 para R$ 5,07.
O mercado reagiu mal ao prejuízo de R$ 25 milhões da loja de móveis no terceiro trimestre deste ano. No mesmo período em 2020, a companhia teve lucro de R$ 1,9 milhão. Já no segundo trimestre deste ano, prejuízo de R$ 17 milhões.
Além disso, o Ebitda ajustado ( lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização), que mostra o verdadeiro potencial de geração de caixa de uma empresa chegou a R$ 7,2 milhões negativos no terceiro trimestre de 2021.
2º – Dotz
Dotz, empresa de programas de fidelidade, estreou na B3 em maio, negociada a R$ 13,20. Após sete meses, os ativos da companhia são negociados na casa dos R$ 3,02, o que configura uma desvalorização de 77%.
No terceiro trimestre deste ano, a empresa reportou prejuízo líquido de R$ 24 milhões, esse valor representa uma redução de 21,4% em relação ao mesmo período de 2020. A receita líquida somou R$ 28,6 milhões, alta de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Apesar da desvalorização dos papéis e do resultado negativo, o Itaú BBA manteve a recomendação de outperform para Dotz e preço-alvo de R$ 22,00, um potencial de valorização de quase 600%.
Mas a recomendação veio após os dados da Black Friday. A companhia obteve crescimento de 87% do volume bruto de mercadoris (GMV, em inglês), na comparação de base anual.
Para o banco, esse desempenho indica que a estratégia de cross-selling tem sido um sucesso, pois a empresa busca trabalhar com novos parceiros e aumentar a variedade de produtos.
3º – OceanPact
A segunda maior queda entre os IPOs de 2021 é da empresa de serviços ambientais marítimos OceanPact. Desde a estreia, no dia 12 de fevereiro, as ações ordinárias da companhia amargam uma queda de 74%.
Criada em 2007, no Rio de Janeiro, a OceanPact afirma ser uma das principais prestadoras de serviços de suporte marítimo no Brasil. Seu portfólio traz serviços para estudo, proteção, monitoramento e uso sustentável do mar, do litoral e dos recursos marinhos para clientes principalmente no setor de óleo e gás.
A desvalorização das ações da OceanPact se agravaram em julho, quando os papéis chegaram a registrar queda de 27,22% em um único dia, após a companhia anunciar um acordo coletivo de trabalho (ACT) com seus funcionários.
O Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), que abrange os oficiais e eletricistas que trabalham em suas embarcações, moveu uma ação contra a OceanPact alegando que os aumentos salariais dos últimos 5 anos foram abaixo da inflação.
4º – Westwing
Assim como a Mobly, a loja de móveis e artigos domésticos de decoração Westwing (WEST3) não vive a melhor das experiências na bolsa de valores depois de seus IPOs.
Após levantar R$ 1,16 bilhão no seu IPO, em 11 de fevereiro, com ações precificadas em R$ 11,90, a varejista amarga desvalorização de 73% e opera valendo R$ 3,20.
Acontece que os dados operacionais da companhia também não contribuem muito para a precificação dos seus papéis. Isso porque no terceiro trimestre deste ano, a Westwing registrou prejuízo líquido de R$ 9,3 milhões no resultado do 3T21.Com isso, o EBITDA ficou negativo em R$ 12,9 milhões.
A Receita Líquida cresceu 5,1% comparada ao 3T20, atingindo R$ 86,1 milhões, e 8,2% vs 2T21, impulsionada principalmente pelo crescimento do WestwingNow. No entanto, o Lucro Bruto teve uma redução de 3,4% em relação ao 3T20, totalizando R$ 36,7 milhões.
5º – Getninjas
A Getninjas, plataforma de contratação de serviços, lidera o ranking das maiores quedas entre as novatas na bolsa. A empresa foi pela atual conjuntura econômica no mundo com a escalada da inflação que pressiona a taxa de juros dos países.
E neste cenário as techs são as que mais sofrem, pois o valor de uma empresa é calculado pelo fluxo de caixa que ela gera ao longo do tempo, e as empresas de tecnologia têm percentual maior de fluxos no longo prazo.
Portanto, se a taxa de juros de longo prazo sobe, as empresas de tecnologia veem depreciação de seus papéis.
A companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 10,6 milhões no terceiro trimestre de 2021. No mesmo período, no ano passado, a empresa reportou lucro de 1,3 milhão de reais.
O Ebtida ajustado (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização), que mostra o verdadeiro potencial de geração de caixa de uma empresa, atingiu um valor de R$ 13,8 milhões negativos.
Os dados dos IPOs são da Econamatica com base no fechamento do pregão da terceira semana de dezembro. É válido lembrar que a matéria não se configura como uma recomendação de investimentos.