Se em 2020 os 24 IPOs de empresas foram considerados um boom de ofertas iniciais, 2021 mostrou ainda mais força, somando 42 somente no primeiro semestre, mesmo com várias desistências por conta do ambiente desafiador da bolsa de valores neste ano.
Faltam cerca de cinco meses para o ano acabar, mas 2021 já é o melhor ano de ofertas públicas da bolsa brasileira. As empresas nacionais levantaram R$ 57 bilhões com suas estreias até o final de julho, superando o recorde de R$ 53,6 bilhões do ano inteiro de 2007, quando 60 companhias realizaram IPOs.
Tudo isso em meio à segunda onda da pandemia, com o sobe e desce extremo dos índices de ações da B3 afugentando diferentes empresas que estavam prestes a abrir capital, mas ficaram receosas de saírem prejudicadas com o restante do mercado.
Algumas resolveram encarar o desafio por meio de ofertas restritas, em que somente investidores profissionais puderam comprar as ações. Mas não que isso tenha mudado muito o cenário: no final das contas, um tanto delas se viram com papéis desvalorizados também.
Dos 42 IPOs realizados até agora, 18 acumulam queda até o fechamento do pregão do dia 12 de agosto. OceanPact (OPCT3), Mobly (MBLY3), Mosaico (MOSI3), Agrogalaxy (AGXY3) e Westwing (WEST3) são os cinco destaques negativos entre as estreias do ano até aqui.
Confira as cinco empresas que enfrentam maior desvalorização nas ações desde os IPOs:
- Oceanpact: queda de 62,96%
- Mobly: queda de 54,13%
- Mosaico: queda de 39,85%
- Agrogalaxy: queda de 36,11%
- Westwing: queda de 33,23%
1º – OceanPact lidera baixas entre IPOs
A maior queda entre os IPOs de 2021 até aqui é da empresa de serviços ambientais marítimos OceanPact (OPCT3). Desde a estreia, no dia 12 de fevereiro, as ações ordinárias da companhia amargam uma queda de 62,96%.
Criada em 2007, no Rio de Janeiro, a OceanPact afirma ser uma das principais prestadoras de serviços de suporte marítimo no Brasil. Seu portfólio traz serviços para estudo, proteção, monitoramento e uso sustentável do mar, do litoral e dos recursos marinhos para clientes principalmente no setor de óleo e gás.
A desvalorização das ações da OceanPact se agravaram em julho, quando os papéis chegaram a registrar queda de 27,22% em um único dia, após a companhia anunciar um acordo coletivo de trabalho (ACT) com seus funcionários.
O Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), que abrange os oficiais e eletricistas que trabalham em suas embarcações, moveu uma ação contra a OceanPact alegando que os aumentos salariais dos últimos 5 anos foram abaixo da inflação.
O ACT, que terá validade de dois anos, confere aos trabalhadores um reajuste anual correspondente a 36,28% entre fevereiro de 2016 e janeiro de 2021, retroagindo a fevereiro de 2021. A empresa estimou um impacto financeiro de R$ 2,7 milhões no custo mensal de pessoal.
2º – Mobly
Diferentemente da OceanPact, a derrocada dos papéis da Mobly (MBLY3) frente a outros IPOs não se deve a um fator pontual, mas conjuntural. Diversos setores de consumo, entre eles o de móveis, registram dificuldades neste período de inflação substancial nos custos de insumos, além da queda na demanda que exige investimentos em marketing.
Acontece que o IPO da Mobly, em 05 de fevereiro, já ocorreu em meio a um ambiente desfavorável. Desde então, a empresa registra desvalorização de 54,13%, com os papéis saindo de uma precificação de R$21,00 para R$ 12,05.
O mercado reagiu mal ao prejuízo de R$ 17 milhões da loja de móveis no segundo trimestre, bem acima da perda de R$ 7,6 milhões de um ano antes. Depois do balanço, as ações MBLY3 despencaram cerca de 10% na terça-feira (10), renovando mínima histórica que vinha desde o prejuízo do 1T21.
Entretanto, ao menos dois bancos de investimento mantêm a recomendação de compra para a Mobly:
- Itaú BBA: preço-alvo de R$ 27,8 por ação;
- Goldman Sachs: preço-alvo de R$ 26 por ação.
“Continuamos acreditando que a Mobly está bem posicionada para consolidar o mercado extremamente fragmentado de móveis no Brasil”, diz o Itaú BBA em relatório.
3º – Mosaico
Quando estreou na bolsa de valores junto com outros IPOs, em 05 de fevereiro de 2021, as ações da Mosaico (MOSI3) apresentaram ganhos fortes (+96%). A precificação de R$ 19,80 levantou R$ 1,2 bilhão.
Até que na divulgação do primeiro balanço financeiro, em março, a queda começou também com força: 11,67%, após registro de reversão de lucro para prejuízo líquido em um ano.
Desde então as quedas se agravaram, acumulando 39,85% desde fevereiro, com a ação valendo R$ 11,80 agora.
A XP avaliou o momento como desafiador para a Mosaico, não só por conta de uma base de comparação forte, mas também devido à estratégia agressiva de cupons de desconto e cashback oferecidas pelas plataformas de marketplace. No ínicío da cobertura, a recomendação foi de compra, com preço-alvo em R$ 38 por ação.
O próximo balanço financeiro sai em 16 de agosto.
4º – Agrogalaxy
Já a empresa de insumos agrícolas Agrogalaxy (AGXY3) é um caso à parte dos IPOs destacados aqui. Isso porque a entreia aconteceu agorinha, em 26 de julho de 2021.
Desde o primeiro dia na bolsa de valores, as ações da Agrogalaxy amargam desvalorização em cima de desvalorização. Até agora somou 36,11%, com os papéis saindo de uma precificação a R$ 10,65 para R$ 8,87.
Isso porque a companhia que atua com produção de sementes, originação, armazenamento e comercialização de grãos, já havia reduzido o tamanho do seu IPO. No início, a AgroGalaxy pretendia levantar até R$ 1,2 bilhão por meio de uma oferta primária e secundária.
Mas, vendo a dificuldade de outras empresas em emplacarem suas ofertas iniciais de ações, a companhia acabou reduzindo sua oferta, que foi apenas primária e restrita, e levantou R$ 349,99 milhões dos R$ 400 milhões pretendidos.
O primeiro balanço financeiro após IPO será divulgado no dia 16 de agosto.
5º – Westwing está entre IPOs que decepcionaram
Assim como a Mobly, a loja de móveis e artigos domésticos de decoração Westwing (WEST3) não vive a melhor das experiências na bolsa de valores depois de seus IPOs.
Após levantar R$ 1,16 bilhão no seu IPO, em 11 de fevereiro, com ações precificadas em R$ 11,90, a varejista amarga desvalorização de 33,23% e opera valendo R$ 8,56.
Isso mesmo após os números de vendas do segundo trimestre apresentarem melhora em um ano. De acordo com balanço divulgado na quinta (12), suas vendas totais (GMV) somaram R$ 115,8 milhões no segundo trimestre, 14,1% acima do mesmo período do ano passado. Enquanto a receita líquida subiu 50,5%, para R$ 79,6 milhões em um ano.
A dificuldade para reverter o quadro de queda das ações teria levado os principais acionistas da Westwing a buscarem um sócio estratégico, de acordo com o Valor Econômico. Nomes como Renner (dona da Camicado) e Riachuelo surgiram como opções.
Outros IPOs que não apareceram no ranking, mas tem números expressivos de queda são Getninjas (-28,90%), Focus (-22,78) e Dotz (-22,35%).