Na última segunda-feira (23), o mercado foi surpreendido por um inusitado pedido de abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo (B3): Cortel Holding, que atua na gestão de cemitérios privados, quer fazer o primeiro IPO de funerária do Brasil.
O primeiro pedido de IPO de funerária do País vem à tona em um momento em que o Brasil — e o mundo — sofrem com o avanço da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Enquanto o Hemisfério Norte já observa uma segunda onda da doença, o Brasil registra pouco mais de 6 milhões de infecções, com cerca de 170 mil mortos.
Em São Paulo, uma das capitais mais impactadas pelo vírus em todo o mundo, o número de internações por Covid-19 voltou a crescer na última semana, segundo informações da Secretaria de Saúde. Foi registrado um aumento de 17% nas internações entre os dias 15 e 21 de novembro, após 18% de crescimento na semana imediatamente anterior.
Em meio à preocupação não só do mercado, mas de toda a sociedade, com o setor de saúde, a Cortel Holding protocolou seu pedido junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A empresa pretende realizar uma oferta primária de ações, quando os recursos levantados são direcionados ao caixa da empresa, além de uma oferta secundária, quando parte do capital arrecadado vai para o bolso dos atuais acionistas, os quais alienarão parte de suas fatias na empresa.
A empresa que quer fazer o primeiro IPO de funerária
A Cortel Holding opera majoritariamente no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. Em seu portfólio de marcas, a empresa detém o Ser Previdente Planos de Assistência Funeral, a Previr, empresa de serviços funerários, e o Cremapet, braço atuante na cremação de animais de estimação.
A companhia diz que atua com “um modelo de negócios eficiente, integrado e bastante verticalizado”, gerindo ativos estrategicamente localizados em áreas de maior poder aquisitivo. Isso faz com que sua operação garanta maior previsibilidade e recorrência de receita em produtos e serviços, de acordo com o prospecto do IPO.
A Cortel possui uma plataforma full-service relacionado ao luto. Em em 10 cemitérios, a empresa conta com “operações que abrangem diversas categorias, desde opções mais básicas que buscam atender as classes sociais menos favorecidas, até os produtos premium, que possuem como público-alvo as classes mais elevadas”.
A oferta secundária será dividida entre os principais acionistas da empresa, que são:
- José Elias Flores Júnior (25,50%);
- Maria Angelica de Souza Flores (11,21%);
- Espólio de Maria Elias Souza (10,86%);
- Brazilian Graveyard, fundo de investimento imobiliário (FII) (16,20%).
A rede, em média, realiza cerca de 4,9 mil sepultamentos e 5,5 mil cremações por ano. Sua atuação abrange uma área de mais de 850.000 m², 76 mil jazigos ocupados, cerca de mil jazigos disponíveis, além de uma área para potencial ampliação de jazigos de aproximadamente de 500.000 m².
Com isso, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 13,38 milhões em 2019, frente a um ganho de R$ 13,67 milhões reportados em 2018. A receita líquida, por sua vez, saiu de R$ 87,55 milhões para R$ 83,83 milhões na mesma base comparativa.
Segundo a empresa, os recursos líquidos captados com a operação servirá para aquisições de empresas do mesmo setor.
“O foco da companhia está na aquisição de ativos em regiões com baixo atendimento profissional de cemitérios e serviços funerários, em cidades com população acima de 500 mil habitantes e com PIB per capita elevado em relação à média brasileira”, diz a companhia. A oferta será coordenada pela XP Investimentos.
Precedente no mercado internacional
Empresas ligadas a serviços funerários e cemitérios listadas em Bolsa são comuns nos Estados Unidos. Com um mercado mais desenvolvido do que o brasileiro, companhias deste setor possuem maior acesso ao mercado de capitais, o que pode se tornar uma tendência no Brasil.
Segundo uma projeção do Centro de Controle de Doenças norte-americano, divulgada em 2019 (portanto, antes da chegada da pandemia), o número de mortes anuais nos Estados Unidos passaria de 2,46 milhões em 2020 para 3,84 milhões em 2050, o que reforça a ascensão do mercado em questão.
Empresas como a Service Corporation International (NYSE: SCI), Carriage Services (NYSE: CSV), Hillenbrand (NYSE: HI) e Matthews International Corp (NASDAQ: MATW), que operam desde a gestão de cemitérios até a venda de caixões, tem apresentado forte crescimento em seu faturamento.
A Service Corporation International, por exemplo, possui um valor de mercado de US$ 8,59 bilhões, e sua receita quase dobrou desde 2014.
Novos setores na B3
A chegada de um novo setor na Bolsa brasileira significa o crescimento do mercado de renda variável no Brasil, que chama a atenção de empresas em segmentos menos “badalados”. Este ano está sendo marcado por uma forte retomada dos IPOs na B3, embora algumas das empresas tenham desistido de suas ofertas no meio do caminho.
Novos setores estrearam na Bolsa em 2020, como a Petz (PETZ3), que inaugurou o mercado de pets e já subiu mais de 30% desde sua estreia, assim como a Aeris (AERI3), que vende pás eólicas e já registra um avanço de mais de 20% em cerca de duas semanas.
O IPO de funerária, por mais exótico que possa parecer para os brasileiros, é mais um sinal do crescimento do mercado de capitais do País.
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