Bullla aposta em comunidade de confiança para ser ‘XP do crédito’

O Bullla, fintech de intermediação de empréstimo entre pessoas físicas, está se mexendo para construir uma comunidade financeira de confiança robusta, capaz de solucionar o problema de crédito do brasileiro, e criar a “XP do crédito”.

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A empresa foi fundada em 2018 por nomes do mercado do empréstimo pessoal cansados da figura de uma grande instituição financeira no meio do caminho do tomador de crédito. O Bullla oferece a intermediação entre um indivíduo com desejo de emprestar para alguém em necessidade, e ainda ganhar algumas cifras com isso.

“O Bullla é uma instituição financeira que não ganha dinheiro com juros. Todos os juros pagos são do investidor”, destacou Marcelo Villela, CEO da fintech. “É uma comunidade de confiança”.

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O modelo funciona da seguinte forma: ao entrar no ambiente, a companhia realiza, por meio de um algoritmo próprio, uma avaliação de crédito e pontua o tomador entre:

  • Triplo A;
  • Duplo A;
  • A;
  • B;
  • C;
  • D.

Na faixa de Triplo A, a taxa para pegar um empréstimo é de 1,5% ao mês, enquanto no D, é 5% ao mês, explicou Villela.

O tomador em seguida escolhe um dos três tickets diferentes oferecidos pela empresa:

  • R$ 1.000;
  • R$ 2.000;
  • R$ 3.000.

“Íamos até R$ 5.000, mas demos uma segurada para que as pessoas não se endividassem. Isso é muito importante, crédito bom resolve seu problema na hora e cabe no bolso para pagar”, frisou o executivo.

O cliente também escolhe o prazo, 10x, 12x ou 18x.

Com letra, valor e vencimento, é direcionado para um dashboard, placar onde espera uma conexão junto a um investidor. “Quando isso acontece, chamamos de ‘match!'”, disse Villela. Assim, o tomador decide se quer, ou não, pegar dinheiro.

Se pagar em dia, o score de crédito sobe. Caso haja algum atraso, o Bullla cobra o empréstimo do devedor. Uma vez descumprida a data de vencimento, a empresa negativa o nome do cliente no Serasa.

O Bullla completou há pouco um ano de operação, com mais de 50 mil cadastros ativos, movimentação de mais R$ 15 de milhões em empréstimos e taxa média de 3,9% ao mês. O índice de inadimplência está na casa dos 15% e o investidor, quem emprestou o dinheiro, tem rendimento da ordem de 20% a 25% ao ano, ou seja 10x a taxa CDI.

Confira a entrevista exclusiva do CEO do Bullla, Marcelo Villela, ao SUNO Notícias.

De olho no IPO, Bullla aposta em comunidade de confiança para ser 'XP do crédito'
Marcelo Villela, CEO do Bullla. Foto: Divulgação

Explique um pouco mais sobre o Bullla. Qual o propósito da empresa?

Somos um grupo de pessoas que trabalhou no mercado financeiro por muito tempo, e sempre com empréstimo pessoal. E qual era a percepção clara? Em função da ausência de conhecimento do cliente, todas as instituições financeiras acabavam overpricing os juros para, não só, compensar a inadimplência desconhecida, mas toda a estrutura de custos da empresa.

O nosso mercado de capitais, de empréstimo pessoal, tem essa característica muito forte, dos custos da organização e da inadimplência. E a inadimplência no Brasil é desconhecida, não se tem feedback positivo. Só se sabe daqueles que se comportam mal. Não se tem a história de quem se comporta bem.

O sistema financeiro é feito para emprestar dinheiro para quem não precisa. Se você tem dinheiro no banco, ele te dá uma taxa boa. É um modelo realmente muito perverso, no qual as pessoas que realmente necessitam de crédito não têm acesso. E quando o tem, é aquela taxa já conhecida. Em alguns lugares, chega a ser até de 20% ao mês, absolutamente incompatível com a taxa básica de juros [Selic], de 2,75% ao ano.

Criamos a comunidade financeira do Peer to Peer. Par com par, onde não existe um banco poderoso com recursos para emprestar. São pessoas iguais a você, com dinheiro sobrando e vontade de investir em alguma aplicação, e pessoas precisando de empréstimo.

Queríamos algo de gente direto para gente, mas a legislação brasileira só permitia isso se a empresa fosse um intermediário bancário, “barrigas de aluguel”.

Em 2019, o Banco Central [BC] criou a SEP e a SCD. A primeira corresponde à Sociedade de Empréstimos entre Pessoas, pega dinheiro de uma pessoa e empresta para outra. A SCP é uma empresa cujo intuito é emprestar sem ter todos os custos e estruturas de um banco ou uma financeira.

Era o que precisávamos. Pleiteamos e, no final de 2019, tornamo-nos uma SEP.

O propósito do Bullla é ser uma solução justa e transparente de crédito para o brasileiro.

O Brasil é o único lugar do mundo onde a pessoa tem vergonha de ter um empréstimo. Crédito no resto do mundo é para construir, para abrir uma loja e até viajar. Aqui, pegamos empréstimo quando se está ferrado. Por quê? Porque a taxa é proibitiva. Quando se tem uma taxa acessível, se paga empréstimo para sonhar, não para sofrer.

Meu sonho é que todos consigam baixar para a taxa de 1,5%. O investidor não vai ganhar menos com isso. A conta é feita para deixar a taxa, a diferença, só na inadimplência. Conforme vão entrando na comunidade, a inadimplência diminui, então o investidor vai ganhar mais ainda sem o susto de uma provável inadimplência.

Temos um conceito: se um indivíduo der um cano não necessariamente ele é um cara de pau. 90% das pessoas que deram calote é porque se embolaram, ou por causa de educação financeira ou porque a vida complicou.

O Bullla é uma história de pessoas que viveram no mercado financeiro emprestando dinheiro e acharam que estava na hora de contribuir de forma diferente para a sociedade.

Como o Bullla se mantém, senão com juros?

Cobramos um fee, uma taxa, para:

Na hora do fechamento da operação, cobramos um fee de 6%, então a taxa de 3,9% vira uma CET (Custo Efetivo Total) de 4,5%.

Com o tempo, gastamos esse fee para achar os clientes e avaliá-los. Conforme a comunidade cresce, o custo de avaliação cai e até a tarifa do Bullla cai, porque não precisa mais avaliar aqueles que estão dentro.

Não existe conflito de interesse, todos ganham com a queda da taxa, porque significa que a inadimplência caiu. O investidor está tomando menos risco, o tomador está pagando menos, e nós teremos menos custos.

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Surpreendente, conseguimos montar o tal do ganha-ganha-ganha. Até brincamos dos três “Ls” do Bullla: o tomador, o investidor e a gente.

A beleza do negócio é: ou todo mundo ganha, ou todo mundo perde. Se a inadimplência aumentar, temos que elevar as taxas. As taxas maiores significam que o custo de avaliação também vai subir, porque teremos de ser mais restritivos e vamos aprovar menos gente.

O crescimento da tarifa é pior para todo mundo. A queda de tudo é boa para todos.

De que modo é feita a avaliação do cliente?

Temos um algoritmo proprietário, pelo qual usamos cinco birôs externos, como Serasa e Boa Vista. Esse software vai em um monte de lugares e puxa o comportamento do indivíduo.

95% das pessoas são aprovadas, ou negadas, em menos de dois minutos. Nome, CPF, email, telefone, endereço, tira uma foto do rosto e uma do documento. Não pedimos nem comprovante de endereço, comprovante de renda, nada dessas coisas. Cinco dados e duas fotos.

A mágica eu não posso contar.

Ele tem a sua beleza, porque há muita gente boa, mas há muita gente ruim. Se o custo de aprovação for muito alto, vamos gerar receita de um grupo pequeno, isso é problemático.

Quanto à LGPD, quais cuidados vocês têm de tomar?

Usamos dados públicos. Quando se gera um score, cria-se com base em informações. Com relação a CPF, dados públicos mostram se está ativo ou não. O endereço é possível verificar nos birôs. Todas essas informações são públicas.

Somos uma instituição regulada pelo Banco Central, então temos que ficar atentos à LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados], sigilo bancário e outras coisas, porque todos os dados foram solicitados ao cliente. Não trocamos informações com ninguém.

Vou dar um exemplo clássico. Fazemos uma triangulação com email e CPF e observamos como o conjunto nunca apareceu em nenhum lugar. Pode ser um fraudador. Roubou os dados de alguém e criou um email novo para fazer o cadastramento.

Só checagens desse tipo.

Além da intermediação, o Bullla tem outros planos para o futuro?

Como falei, queremos ser a solução de crédito para o brasileiro. Andar no bolso do cara, e então queremos montar uma plataforma completa de serviços de meio de pagamento. Pretendemos completar o ciclo de vida de crédito de todo mundo.

Com a plataforma e a comunidade formada, vamos disponibilizar todos os outros produtos financeiros:

O grande projeto do Bullla é oferecer ao bom pagador dessa comunidade financeira acesso a todos os produtos de crédito para atender ao seu ciclo de vida.

Queremos, em cima de uma plataforma simples, dar acesso a crédito justo e transparente, sempre financiado por um investidor, uma outra pessoa que também acredita.

O ideia é que todos os créditos, todos os empréstimos são necessários na vida de qualquer pessoa normal, sem a necessidade de um banco no meio do caminho pegando o maior pedaço.

O Bullla pensa em IPO?

Com certeza. Os próximos passos são, primeiro, fazer uma rodada de investimento para terminar a plataforma, colocar os outros produtos, e depois o IPO [oferta pública inicial de ações].

A ideia é uma comunidade para 50 milhões de pessoas. Tem 50 milhões de pessoas desassistidas do ponto de vista de crédito no Brasil, e queremos ser uma solução para elas.

Vamos ser a “XP do crédito”, essa é a ideia. A XP não reinventou a forma de investir? O Bullla vai reinventar a forma de fazer crédito.

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Arthur Guimarães

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