A Oferta Inicial de Ações (IPO, na sigla em inglês) é um processo através do qual uma empresa abre seu capital e se torna, assim, uma companhia com ações negociadas na Bolsa de Valores. Nesse sentido, é um movimento bastante relevante para o mercado acionário e costuma ficar no radar dos investidores.
Apesar do IPO ser um processo comum, no final desse ano, viu-se um grande número de companhias estudando abrir seu capital na B3, em um movimento que chamou a atenção dos investidores.
Atualmente, o número de ofertas primárias de ações protocolados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) chega a 44. Vale destacar que só em agosto, cerca de 20 companhias protocolaram o pedido de IPO.
Após a abertura de capital de uma empresa, qualquer pessoa pode se tornar sócio, ou dono de uma parte dessa companhia. Contudo, para se tornar um sócio dessa empresa, os investidores interessados devem comprar as ações que agora são negociadas através de uma corretora de valores.
Esse processo costuma ser vantajoso tanto para as companhias como para os investidores, uma vez que auxilia no avanço do mercado de capitais e traz consigo novas ideias para o mercado. Além disso, esse processo pode ser benéfico para as companhias como forma de financiamento, uma vez que na Oferta Inicial de Ações, o valor oriundo das ações comercializadas no mercado primário é revertido em caixa para a empresa.
Os investidores, por sua vez, podem obter bons retornos com esse processo. Entretanto, é importante destacar que existe a possibilidade desse movimento não ser tão vantajoso assim do ponto de vista dos investidores, por isso, é necessário ficar atento.
Apesar de existirem muitas vantagens nesse movimento, o número de empresas buscando abrir seu capital na Bolsa até o final do ano se mostrou muito maior do que o visto em anos anteriores.
Mas afinal, por que tantas empresas estão estudando abrir o capital nesse final de ano?
Fila de empresas estudando IPO
Segundo o fundador da SUNO Research, Tiago Reis, esse movimento está acontecendo “pelas condições de mercado. Atualmente estão pagando múltiplos interessantes e muito superiores a meses atrás. Desta forma, os acionistas das empresas estão mais abertos a alternativas de capitalização”.
Já o especialista em ações da SUNO Research, João Arthur Palma de Almeida, explicou que haviam muitas empresas “na fila” para abrir capital na Bolsa de Valores, mas todas elas adiaram o processo em função da crise causada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
O especialista apontou que na crise, os investidores ficam mais receosos e não se apresentam muito dispostos a investir ou financiar empresas. Eles “estão adversos ao risco”. Segundo ele, um cenário assim “não é um momento bom pra abrir capital no ponto de vista da empresa”.
Nesse sentido, ele explicou que “essas empresas todas adiaram e sobraram agora pra segundo semestre do ano”, disse o analista comentando sobre o alto número de companhias que estão na fila para abrir seu capital no fim de 2020.
“Além disso, nós tivemos vários anos com pouquíssimas aberturas de capital no Brasil. Tivemos anos em que abriram três quatro empresas na Bolsa e isso é muito pouco”, afirmou.
O especialista também apontou o fator preço. “Acredito que tinham muitas empresas com qualidade e porte pra vir a Bolsa mas adiaram porque o momento não era tão propício, os preços ainda não estavam tão altos. Neste momento atual em que os preços estão mais perto das máximas as empresas veem com um bom momento pra captar recursos”.
Ele ainda explicou que, por causa da crise, muitas empresas precisam reforçar o caixa, para conseguirem honrar seus compromissos financeiros.
Almeida citou como exemplo, o caso da Estapar, que abriu o capital “quase no auge da crise”. O analista apontou que a companhia precisava captar recursos para pagar um investimento que fez nas zona sul de São Paulo. “Não queria levantar mais dívida e optou por abrir o capital”.
O especialista também considera que esse momento de crise acaba sendo propício para fusão e aquisição. “Nesse momento é importante ter caixa e isso influencia muitas empresas a irem até a Bolsa”.
Impactos da corrida rumo à Bolsa
Sobre os impactos que esse movimento rumo à Bolsa traz, Almeida sinaliza que é ótimo que os investidores tenham mais opções de onde investir.
Ele também cita o desenvolvimento do mercado. Segundo ele muitas passarão a ver a Bolsa de Valores como uma forma de se financiar.
Indicador de fraqueza
Por outro lado, o Morgan Stanley acredita que essa onda de IPOs no Brasil pode ser um indicador de fraqueza mais tarde para o mercado do País se considerarmos o histórico recente, de acordo com um relatório escrito em agosto.
“A evidência histórica sugere que os investidores normalmente surfam a onda por muito tempo e há uma derrocada no ano seguinte”, destacaram os analistas do Morgan Stanley no documento.
A história mostra que o índice MSCI Brazil (Morgan Stanley Capital International) costuma cair no ano seguinte a períodos em que há um grande e rápido crescimento na quantidade de companhias brasileiras buscando IPO.