Com alta do petróleo, IPCA sobe nas projeções e pode chegar a 7% em 2022

Com as oscilações do preço do petróleo nas últimas semanas – com a máxima da cotação do barril desde 2008, chegando a quase US$ 140 -. os analistas voltam a revisar as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA. Os dados inflacionários de fevereiro já vieram acima do esperado, e podem piorar com o cenário de guerra no leste da Europa e sanções econômicas acentuando o avanço da commodity.

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O IPCA-15 subiu 0,99% em fevereiro, acima das estimativas e mostrando que a pressão na cadeia de suprimentos mantém os preços ainda elevados mesmo com o quadro de juros nacionais ‘adiantados’ em relação ao exterior.

Com o dado, a inflação acumulada de 12 meses já é de 10,8%, tendo maior descolamento em alimentação, educação e combustíveis, agora pressionados pela ‘guerra econômica’ do conflito na Ucrânia.

“Com a imposição de sanções, o que vimos foi o aumento da cautela por parte de todos os elos da cadeia de petróleo e gás: embarcações se recusam a transportar petróleo russo, bancos rejeitam fornecer cartas de crédito em transações envolvendo o país e refinarias têm buscado alternativas, colaborando para que os preços atingissem o patamar mais alto desde 2008. Há maior volatilidade semanal nos contratos futuros desde que foram criados, em 1988″, diz o BB Investimentos.

O cenário deve pressionar ainda mais a cadeia produtiva, e também pode impactar a inflação: o encarecimento dos combustíveis torna mais cara a logística de praticamente todos os setores da economia.

“Essa situação vai pressionar muito a inflação no mundo inteiro, e aqui não vai ser diferente. Vejo um IPCA de 6,5%, mas temos que observar a extensão nas outras commodities. Isso pode pressionar muito o preço de bens duráveis e semiduráveis”, afirma o economista e analista de inflação André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Cotação do Petróleo - Foto: BB Investimentos
Cotação do Petróleo – Foto: BB Investimentos

O especialista pertence ao staff do Índice de Preços ao Consumidor desde 1989, e lembra que o cenário atual, de choque de demanda, não pode ser contido com a alta de juros já em curso no Brasil.

A estimativa é de que a alta do IPCA também inclua o setor de alimentos por causa das commodities agrícolas.

“O impacto no IPCA vem de vários segmentos. O trigo subiu 50% em questão de uma semana. Isso chega aos alimentos, entre os itens de cesta básica. O aumento da soja e do milho também eleva o custo de produção bovina, de galinhas ou de outros cortes. São fatores que podem avançar cada vez mais com a alta do IPCA. Penso que a situação só arrefece se o dólar começar a desvalorizar”, analisa.

Em uma previsão mais pessimista, vendo o Petróleo Brent atualmente acima de US$ 120, o BNP Paribas revisou sua projeção de inflação, vendo 7% para 2022.

Em relatório assinado pelos analistas Laiz Carvalho, Gustavo Arruda e Michelle Hwang, o banco sai na frente das outras casas mirando um IPCA neste patamar, ante projeções de 5,5% e 6% por parte do consenso do mercado.

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“Revisamos a nossa projeção de inflação no Brasil acima do consenso, como esperamos que o conflito Rússia/Ucrânia deva levar a preços de combustível muito mais altos e uma piora na oferta da cadeia alimentícia em relação à nossa última previsão. Esses desafios impõem dificuldades acima das superadas pela redução de impostos e das baixas na conta de luz”, diz o relatório do banco.

Sobre a pressão do petróleo, o banco reforça que não haverá trégua na alta de commodities.

“Os preços vêm subindo desde 2020, impactando o produtor brasileiro e os preços ao consumidor. Apesar de o cenário ainda ser cheio de incertezas, achamos que a alta na trajetória dos preços das commodities persistirá”, projetam analistas do BNP Paribas.

Projeções do BNP Paribas para o IPCA de 2022
Projeções do BNP Paribas para o IPCA de 2022

A estimativa é de que o impacto no combustível deve ser direto, já que os preços da gasolina e do diesel seguem os padrões internacionais. Segundo as projeções, o IPCA pode subir cerca de 150bp por causa da participação do combustível no IPCA, de atuais 6%.

BB vê IPCA de 5,6% em consenso com o Focus

No seu último parecer, o BB Investimentos, estimou um IPCA de 0,92% em fevereiro, e a próxima divulgação será nesta sexta, 11 de março.

Os analistas destacam que “o grupo transportes deve seguir pressionado pelos preços de combustíveis e veículos. Já o grupo Educação deve refletir a alta dos cursos regulares”.

Com isso em vista, a casa mira 5,6% de IPCA para o fim de 2022, ante 3,5% para o ano de 2023. O número fica no mesmo patamar do último relatório Focus do Banco Central (BC), assim com a Selic, com 12,25% de estimativa para ambos.

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Também no radar, o banco destaca que o PMI Composto dos EUA e da Zona do Euro tiveram melhoras, mas os CPIs pressionam a influência externa no Brasil.

“Seguem como fatores de risco a elevada inflação mundial e o desarranjo das cadeias de produção, que afetam a confiança dos agentes. Adicionalmente, o conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia também deve impactar negativamente a perspectiva para a atividade econômica nas próximas leituras dos indicadores”, diz o banco.

Itaú vê Selic maior e inflação levemente abaixo do consenso

Em cenário levemente distinto do consenso, o Itaú mira um IPCA de 5,5% em 2022, subindo 0,5 ponto percentual desde a última avaliação.

Segundo Mario Mesquita, economista-chefe do banco, “com desinflação adiada, a taxa Selic subirá ainda mais”. A projeção da Selic, contudo, foi de 12,5%, acima do consenso, também vendo uma escalada das commodities.

“Em um quadro de inflação já bastante alta no mundo, as pressões adicionais sobre preços de commodities também levarão a oscilações na percepção dos mercados sobre altas das taxas de juros ao redor do globo, e seus efeitos sobre o crescimento econômico”, analisa o Itaú.

Revisão macro mais recente do Itaú Unibanco - Foto: Reprodução/Itaú
Revisão macro mais recente do Itaú Unibanco – Foto: Reprodução/Itaú

Segundo o relatório, o conflito na Ucrânia aumenta os preços das commodities mais associadas à região, acarretando pressão altista para a já elevada inflação global. Além do petróleo e do gás natural, fertilizantes e commodities agrícolas sofrem altas, o que deve ocasionar um encarecimento dos alimentos.

Brasil não consegue frear alta nos combustíveis

Fator de grande influência no indicador, a gasolina não deve ter meses de maior estabilidade ou redução, considerando o cenário atual, segundo os analistas.

Braz, da FGV, afirma que a atual discussão sobre congelamento dos preços ou de subsídios é obsoleta e não fornece mecanismos eficazes para conter a situação atual.

Preços das Commodities - Foto: Reprodução/Goldman Sachs
Preços das Commodities – Foto: Reprodução/Goldman Sachs

O especialista destaca que outros países costumam ter reservas como forma de intervir nos preços e ter uma folga de tempo maior para eventuais reajustes.

“Acho que com reservas poderemos promover reajustes graduais, observando a tendência do petróleo, que está em escalada. Além disso o preço da Petrobras (PETR4) está com defasagem atual de 30%. Se fizermos um congelamento, aumenta o gasto público. O melhor seria usar reservas, que não temos”, destaca.

“O problema todo é que nunca tivemos uma estratégia definida para situações como essa. Sabemos que esse é um setor vulnerável, mesmo que ninguém esteja preparado para uma guerra. Temos que estar, em algum nível, imunes a flutuações internacionais. Precisávamos ter uma estratégia que evitasse distúrbios com mudanças muito drásticas no preço do petróleo”, segue.

Com o petróleo em alta volatilidade, o economista ressalta que há “um aumento da incerteza, mas não sabemos exatamente como as coisas mudam”, citando a oscilação de US$ 140 para US$ 120 em poucos dias, e o fato de que a commodity deve seguir coo um driver relevante para o IPCA no ano de 2022.

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Eduardo Vargas

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