IPCA de dezembro indica cautela nos próximos cortes de juros, apontam analistas; entenda por quê
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no país, registrou uma alta de 0,56% em dezembro, frente ao consenso de 0,48%. Para os analistas, o número surpreendeu negativamente e deve demandar cautela quanto aos próximos passos da política monetária.
Segundo a Guide Investimentos, o IPCA não só foi negativo por trazer uma inflação maior, mas também por mostrar uma composição pior do que o esperado. No mês de dezembro, o grupo de alimentos e bebidas foi o que registrou a maior variação. Ao todo, os preços subiram cerca de 1,11%, com um impacto de 0,23 ponto percentual sobre o resultado de 0,56%.
“Além disso, é a segunda leitura consecutiva de aceleração da medida de serviços subjacente, que acompanhada da inflação de serviços como um todo, passou a mostrar uma inflação maior no acumulado em 12 meses”, aponta a Guide.
Conforme explica André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, o núcleo da inflação, medida que desconsidera os componentes mais voláteis do IPCA, surpreendeu negativamente, avançando 0,45% no mês, acima da projeção de 0,39%. E os serviços subjacentes, que englobam itens mais sensíveis à política monetária, avançaram 0,51% no mês, bem acima da estimativa de 0,38%.
O Goldman Sachs também cita que a inflação de serviços centrais surpreendeu, registrando avanço de 0,51%, e acumulando alte de 4,82% ao ano (contra 4,78% em novembro).
“A aceleração da inflação em dezembro foi impulsionada pelos números elevados e acima do esperado em alimentos em casa, além de aumentos em alimentação fora de casa e bens industriais. A inflação em dezembro surpreendeu positivamente em bens domésticos e vestuário, e negativamente em despesas pessoais e saúde/cuidados pessoais”, diz.
Para a casa, a dinâmica da inflação respalda a continuidade de um ciclo de flexibilização gradual, mas os fundamentos da inflação de serviços merecem atenção.
Os analistas indicam que um cenário de mercado de trabalho restrito, uma política fiscal expansionista, falta de credibilidade nas metas fiscais para 2024-26 e expectativas de inflação ainda não ancoradas para 2024 demandam cautela na calibragem de curto prazo da política monetária.
Com o IPCA mostrando uma inflação maior nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico, a Guide aposta na continuidade de um tom cauteloso pelo Copom (Comitê de Política Monetária) após a sua primeira decisão de 2024, com a manutenção do atual ritmo de ajuste (-0,5 p.p.) na reunião de março.
IPCA sobe 0,56% em dezembro, com alimentos e bebidas mais caros
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma alta de 0,56% em dezembro. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IPCA de novembro havia atingido o patamar de 0,28%. Agora, a inflação de dezembro indica uma aceleração nos custos. Em dezembro de 2022, a alta foi de 0,62%.
O Brasil encerrou o ano de 2023 com uma inflação acumulada de 4,62%, dentro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que não era cumprida desde 2020.
“Apesar da pressão altista vista no mês – que merece atenção –, esse dado não altera a tendência positiva para inflação brasileira. Para a política monetária, o IPCA de dezembro não deve alterar o plano de voo já anunciado pelo Banco Central, de cortes de 0,5 p.p. nas próximas reuniões”, afirmou o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.
No mês de dezembro, o grupo de Alimentos e bebidas foi o que registrou a maior variação. Ao todo, os preços subiram cerca de 1,11%, com um impacto de 0,23 ponto percentual sobre o resultado de 0,56%.
O preço de alimentos e bebidas vinha ajudando na desinflação do país ao longo de 2023, mas nos últimos dois meses do ano os valores voltaram a subir, impactando o resultado de novembro e dezembro.
Neste mês, apenas os alimentos subiram 1,34%, com maior destaque ao custo de alguns produtos como:
- Batata-inglesa (19,09%);
- Feijão-carioca (13,79%);
- Arroz (5,81%);
- Frutas (3,37%).
“O aumento da temperatura e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país influenciaram a produção dos alimentos, principalmente dos in natura, como os tubérculos, hortaliças e frutas, que são mais sensíveis a essas variações climáticas”, explica o gerente do IPCA, André Almeida.
Passagens aéreas também subiram de preço
Outro grupo que se destacou pelo aumento de preços foi o de Transportes (+0,48% no mês). Em uma análise mais minuciosa, o preços das passagens áreas cresceu 8,87% e teve o maior impacto individual sobre o índice (0,08 p.p.).
Por outro lado no IPCA, os combustíveis registraram queda de 0,50%, com redução os preços do etanol (-1,24%), gasolina (-0,34%), gás veicular (-0,21%) e o óleo diesel (-1,96%).