IPCA: movimento contínuo de aumento da inflação pode frear processo de redução de juros, diz analista
Uma possível continuidade no crescimento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal termômetro da inflação oficial no Brasil, pode trazer um risco de inflação elevado e, consequentemente, frustrar as expectativas para uma possível queda de juros, avalia o mercado.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (12), o IPCA acelerou 0,23% em agosto, abaixo do consenso de mercado, que era de aumento de 0,28%. Foi a terceira alta consecutiva do indicador da inflação, que em 12 meses tem variação de 4,61%.
“Esse movimento de aumento em todas as últimas três leituras é um sinal de atenção, porque, se ele se perpetuar, a gente deve voltar a ter um risco de inflação mais elevado e talvez prejudique a expectativa na redução de juros”, disse Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Ainda na visão do analista, será preciso acompanhar se vai haver necessidade por parte da Petrobras (PETR4) de novos aumentos nos preços dos combustíveis, por exemplo. Entre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados, o de Transportes foi um dos que mais registraram alta no mês de agosto (0,34% e 0,07 p.p).
“Isso costuma ser um driver importante para aumentos mais generalizados de preço. Caso essa política consiga trabalhar com a manutenção dos níveis de preços, talvez a gente veja uma estabilização desses aumentos e consiga trabalhar dentro do que o governo tem de meta de inflação, para que o Copom possa continuar essa política de redução de juros”, acrescentou.
Na visão de Fábio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos, a leitura do IPCA é positiva para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem, e tende a confirmar um corte de mais 0,50 pontos-base na taxa Selic, mesmo já havendo no mercado quem clame por um corte maior, de 0,75 pontos-base. “Entretanto, visto o cenário de 2024 no âmbito fiscal ainda incerto e o macro global, acredito ser muito cedo para contar com essa possibilidade”, pontuou.
No início de agosto, o Copom anunciou o primeiro corte da taxa Selic desde agosto de 2020. A taxa caiu de 13,75% ao ano para 13,25%. A decisão não foi unânime, mas chamou a atenção pela intensidade do ajuste, abrindo caminho para um maior afrouxamento monetário.
Comportamento dos setores no IPCA de agosto
Entre as maiores quedas, o grupo Alimentação e bebidas caiu pelo terceiro mês consecutivo (-0,85% e -0,18 p.p.) ao lado de Vestuário, que recuou 0,54% (+0,02 p.p), Comunicação, com recuo de 0,09% (-0,01 p.p) e Artigos de residência, que caiu 0,04% (0,00 p.p.).
No lado oposto, o maior impacto positivo (0,17 p.p) e a maior variação (1,11%) vieram do grupo Habitação. Dentro deste grupo, o destaque ficou para o subitem energia elétrica residencial, com aumento de 4,59% e impacto de 0,18 p.p no índice geral.
“Isso, de certa forma, mostra que no núcleo houve uma pulverização na questão dos aumentos, e se não fosse essa queda bastante expressiva na questão da alimentação e bebidas, provavelmente teríamos um resultado final bem mais expressivo”, avaliou Thiago Lourenço, da Manchester Investimentos.
INPC de agosto
Além do IPCA, o IBGE divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O indicador registrou uma alta de 0,20% em agosto, acima da variação de julho (-0,09%).
No acumulado anual, o INPC sobe 2,80% e, no comparativo dos últimos 12 meses, o índice sobe 4,06%, acima dos 3,53% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2022, a taxa foi de -0,31%.
Os produtos alimentícios baixaram 0,91% em agosto, após queda de 0,59% em julho. Nos produtos não alimentícios, foi registrada alta de 0,56%, acima do resultado de 0,07% observado em julho.
Na análise regional, a queda nos preços foi observada em duas áreas, sendo o menor resultado em Belo Horizonte (-0,24%), e o maior, em Belém (0,74%).
A seguir, é possível comparar os últimos dados do IPCA desde o mês de janeiro. Confira: