IPCA em alta anuncia parada na queda da taxa Selic; e agora, como investir?
A recente alta de 0,46% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem gerado repercussões significativas no mercado financeiro, uma vez que sinaliza uma possível interrupção no ciclo de cortes da taxa Selic, atualmente em 10,5%. Confira a seguir a opinião de especialistas sobre como investir em meio a esse contexto.
Com o cenário de inflação acima do esperado, impulsionado por setores como alimentos, combustíveis e transporte, as decisões do Banco Central quanto à taxa de juros podem ser afetadas, causando assim impactos negativos nos investimentos em renda variável.
Alocações em títulos de renda fixa e fundos imobiliários de papel podem ser mais relevantes daqui para frente, com inflação maior e taxa Selic de 2 dígitos.
O IPCA de maio veio acima das estimativas, corroborando com a piora nas projeções do Boletim Focus, como cita Rafael Ohmachi, portfolio manager da RB Capital. O especialista afirma que a consequência disso é a redução da projeção da taxa Selic terminal.
Em abril, o IPCA foi de 0,38%, enquanto em maio o índice de preços pulou para 0,46%. A expectativa do mercado era de uma inflação menor, de 0,40%.
Esse cenário de IPCA maior pode acrescentar, com outros fatores da economia, uma postura mais cautelosa do Banco Central, que na reunião passada reduziu a taxa Selic em 0,25%.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, acredita que os dados ruins divulgados hoje, somados à desancoragem das expectativas de inflação, dúvidas em relação à política fiscal brasileira e incertezas no cenário externo, levarão o Copom a adotar uma postura cautelosa na próxima reunião.
Por isso, o especialista espera que o BC mantenha a taxa Selic em 10,5% na próxima reunião, marcada para 18 de junho. Ele entende ainda que a taxa deve se manter nesse patamar até o final deste ano.
Consequências da alta da inflação e uma possível manutenção da Selic nos investimentos
Volnei Eyng, CEO da Multiplike, comenta que a alta do IPCA acima das projeções deve levar o Copom a manter a taxa Selic, desestimulando investimentos na bolsa de valores e direcionando os investidores para opções de renda fixa.
Com a Selic mais elevada, o prêmio de risco aumenta, o que pode levar a uma fuga de investidores para mercados com maior risco e retorno.
Neste caso, investimentos considerados seguros, como do tesouro nacional, estão com taxas bastante elevadas. O título público conhecido como NTN-B, com vencimento em 2029, alcançou a taxa de IPCA + 6,27%.
Em um contexto de inflação alta e Selic elevada, as gestoras de investimentos destacam a importância de escolher estratégias que ofereçam proteção contra a inflação.
Alessandra Gontijo, sócia da Investo, ressalta a relevância de investimentos que possam preservar o poder de compra do investidor, sugerindo opções de prazo mais curto, como o fundo NTNS11, que apresenta rendimentos acima do IPCA. No preço atual de mercado, o ETF da Investo rende IPCA + 6,47%.
Além disso, a equipe da Fator Asset menciona a isenção de imposto de renda em fundos que aplicam em debêntures incentivadas como uma opção atraente em um mercado aquecido de novas emissões.
A gestora comenta que o Fundo Fator Debêntures Incentivadas é uma ótima opção por proporcionar um retorno acima do CDI, com isenção de impostos, com alocação de grande parte da carteira em ativos com ótimo risco de crédito, com uma meta de retorno de 110% do CDI (líquido de impostos e taxas).
Na renda variável, os fundos imobiliários que investem em títulos do mercado imobiliário, os FIIs de papel, podem ganhar relevância. Dado o cenário macroeconômico com perspectiva de inflação em patamares ainda elevados no curto prazo, os analistas da XP estimam retornos atrativos nos fundos de papel em razão dos índices de inflação e taxa Selic.
Em outras palavras, os fundos indexados ao CDI devem pagar rendimentos atraentes com a taxa Selic em “dois dígitos”, da mesma forma que os FIIs com papéis atrelados ao IPCA podem distribuir dividendos maiores.