O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no País, registrou alta de 0,21% em junho, abaixo da expectativa do mercado, que projetava um aumento de 0,32%. Na visão dos especialistas, mesmo que a inflação não tenha avançado na magnitude esperada, a taxa Selic deve continuar em 10,50% na próxima reunião do Copom.
“A inflação deste mês foi considerada uma ‘boa notícia’”, afirmou Lucas Barbosa, economista da AZ Quest. “É uma situação positiva para a dinâmica de inflação, que vinha preocupando nos últimos meses, com a incorporação de diversos choques, começando pelas enchentes no Rio Grande do Sul e, na sequência, uma piora da parte de bandeira tarifária e, por fim, o reajuste de gasolina por parte da Petrobras.”
Barbosa também ponderou que “o filme da inflação ainda não é um filme bonito, mas a foto do número de hoje traz algum alívio, ainda que momentâneo”.
José Alfaix, economista da Rio Bravo, concorda com essa visão. “O resultado alivia a recente resiliência observada em serviços subjacentes e serviços intensivos em trabalho, que agora mostram alguma resposta ao aperto monetário.”
Além disso, Alfaix destacou que a inflação mais contida, somada a outros fatores como a retração do dólar para o patamar de R$ 5,40 e a expectativa de desaceleração dos indicadores do mercado de trabalho dos Estados Unidos, resultaram em um achatamento na curva de juros nesta manhã. “Agora há menos preocupações com um próximo movimento de alta da Selic por parte do Banco Central“, comentou.
IPCA deve fechar o ano acima da meta e Selic continuará em 10,50%
Apesar disso, os especialistas não afirmam categoricamente que a redução do IPCA signifique uma queda na inflação para 2024. “Nós mantemos uma projeção de 4,4% no ano”, disse o economista da AZ Quest. Já o Boletim Focus projeta uma inflação para 4,02% no fim do ano.
No acumulado dos últimos 12 meses, com o IPCA atualmente em 4,23%, não há margem para o BC baixar a taxa Selic, pois a inflação segue bem acima do centro da meta, de 3%, afirma Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. “Mesmo que esses números não sinalizem uma baixa da Selic ainda para esse ano, eles contribuem para a expectativa de uma diminuição da Selic para 2025, se os próximos dados vierem abaixo do esperado”, destacou.
Por esse motivo, apesar do recuo do IPCA, os juros devem permanecer constantes em 10,5%, mas com um viés baixista para 10%, caso a atividade econômica nos Estados Unidos desacelere mais rápido do que atualmente projetado, concluiu o especialista.