IPCA-15: alta na energia puxa índice para cima, em 0,28%; números reforçam cortes graduais na Selic
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou uma alta no mês de agosto em relação a julho. Marcando 0,28% no oitavo mês do ano, o número representa um aumento de 0,35 ponto percentual (p.p.) acima do indicador de julho (-0,07%). Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (25) pela manhã.
O IPCA-15 é um indicador que serve como uma prévia da inflação do mês. No ano, ele já acumula uma alta de 3,38%. Analisando os últimos 12 meses, o avanço é de 4,24%, mais de um ponto percentual acima dos 3,19% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2022, a taxa foi de -0,73%.
Segundo o head de renda variável e sócio da A7 Capital, André Fernandes, o dado veio levemente pior que o esperado de 0,17%, ao invés dos 0,28% em agosto. A variação dos últimos 12 meses também superou o consenso do mercado, segundo o especialista, que espera 4,13% no lugar de 4,2%.
“Na minha visão, achei um dado ruim, energia elétrica voltou a subir (por conta do fim do crédito nas contas do Bônus de Itaipu), e foi o item que teve o maior impacto no índice,” comentou Fernandes.
Variações de setores no IPCA-15
Dos nove grupos analisados no IPCA-15, sete registraram alta em agosto. A maior variação e que também causou maior impacto foi Habitação.
“Olhando de maneira macro, é uma inflação que não preocupa tanto e com uma alta concentrada em um grupo só (de Habitação),” reforça a economista-chefe da B. Side Investimentos, Helena Veronese.
O setor, que influenciou 64% do índice, marcou uma alta expressiva após o fim da incorporação do Bônus de Itaipu, que era creditado nas faturas emitidas até julho. O valor de R4 405,4 milhões, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi aplicado nas faturas de julho, contribuindo para uma redução nos custos.
Além do fim do bônus, o mês de agosto também foi marcado pela alta na conta de energia nas áreas de Curitiba, Porto Alegre e São Paulo, que são incluídas nos cálculos do indicador. Segundo o IPCA-15, o preço da energia subiu 4,59% em agosto.
Grupo | Variação em Agosto (%) | Impacto (em p.p.) |
Índice Geral | 0,28 | 0,28 |
Alimentação e bebidas | -0,65 | -0,14 |
Habitação | 1,08 | 0,16 |
Artigos de residência | 0,01 | 0,00 |
Vestuário | -0,03 | 0,00 |
Transportes | 0,23 | 0,05 |
Saúde e cuidados pessoais | 0,81 | 0,11 |
Despesas pessoais | 0,60 | 0,06 |
Educação | 0,71 | 0,04 |
Comunicação | 0,04 | 0,00 |
Repercussões da prévia de inflação
Com os resultados, o head da A7 Capital aponta que pontua que a bolsa reagiu de forma negativa, com “o Ibovespa futuro abrindo em queda logo que o dado foi divulgado”.
Fernandes também destaca que, além do IPCA-15, os discursos dos presidentes dos bancos centrais americano (Jerome Powell) e europeu (Christine Lagarde), provocam ainda mais cautela para o mercado como um todo.
O que esperar para o próximo IPCA-15 e repercussões no Copom?
Para os próximos indicadores de inflação, a economista-chefe da B.Side Investimentos comenta que os números ainda devem refletir o impacto no setor de Habitação, após a alta da energia elétrica, e também no grupo de Transportes.
“A alta dos combustíveis não afetou ainda o IPCA cheio. A mudança nos preços da gasolina vai aparecer no IPCA-15 de setembro e o IPCA fechado do mês,” afirma Veronese.
Além disso, os dados do IPCA-15 desta manhã desanimaram aqueles que tinham esperança em cortes mais rígidos na Selic para as próximas reuniões do Copom.
“Na minha leitura, o IPCA mais alto, mostra aquilo que o Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central do Brasil] falou agora cedo: a batalha contra a inflação ainda não esta vencida”, parafraseia Veronese. Para a economista, esse resultado consolida a visão de que o ciclo de cortes vai ser de 50 em 50 pontos-base na Selic.
“Como esperado, um dado no IPCA-15 pior que o esperado está provocando ajustes na curva de juros, que no momento sobe, principalmente a ponta curta e média da curva, que tem maior sensibilidade a mudanças nos cortes da Selic. Então, quem apostava em algum corte de -0,75% até o fim do ano, pode estar reajustando sua posição (reduzindo as apostas, ou até mesmo encerrando posição)”, aconselha o head da A7.