Investir no exterior é parte necessária para uma boa carteira diversificada, certo? Para a IP Capital, no entanto, a alocação de recursos fora do Brasil é mais que isso. A gestora, que possui cerca de 70% do montante gerido investido em empresas dos Estados Unidos, vê na alocação no exterior uma forma de ficar menos exposta aos problemas macroeconômicos e mais próxima a negócios excepcionais.
“Parte da beleza de investir no exterior é que o crescimento do negócio está menos conectado ao crescimento da economia, enquanto que aqui no Brasil, não”, disse Rafael Cattley, sócio e cogestor da IP Capital.
“Lá fora, você já começa com a maior economia do mundo, em um universo institucional mais produtivo, inovador, e alguns negócios que surfam tendências de crescimento independentemente da economia. Claro que o Produto Interno Bruto (PIB) ajuda, mas independente disso, algumas empresas vão continuar ganhando share”, completou o gestor.
Dentre as maiores posições da gestora atualmente estão Facebook e MasterCard, por exemplo. Para Cattley, não há setores preferenciais, mas sim, empresas vencedoras e a pandemia causada pelo novo coronavírus (covid-19) mostrou isso.
“O ano passado foi, sem dúvida, um dos períodos mais desafiadores e interessantes em nossas carreiras. Foi totalmente fora da curva. Ao investir no exterior, você tem acesso a muitos negócios que surfam tendência seculares muito longos. Então, se você analisar o período do auge da crise, tivemos um descolamento da [nossa] carteira dos índices do Brasil porque já estávamos posicionados em negócios resilientes nos EUA”, disse o gestor.
“Hoje, a maior posição é Facebook (FBOK34) no exterior. Além disso, de relevante, também temos Google (GOGL34), Charter (CHCM34), Netflix (NFLX34), MasterCard (MSCD34) e Charles Schwab (SCHW34). Já no Brasil é Hapvida (HAPV3) e Intermédica (GNDI3)”, completou.
Não à toa, a gestora possui um histórico de rentabilidade positivo em relação ao Ibovespa, o principal índice acionário brasileiro. Nos último cinco anos, o fundo IP Participações FIC FIA BDR Nível I acumula um retorno de 140% contra 133% do Ibovespa.
Confira a entrevista do SUNO Notícias com Rafael Cattley, sócio e cogestor da IP Capital:
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-Gostaria de entender como foi o direcionamento que vocês tiveram durante o início da crise?
O ano passado foi, sem dúvida, um dos períodos mais desafiadores e interessantes em nossas carreiras. Foi totalmente fora da curva. Ao investir no exterior, você tem acesso a muitos negócios que surfam tendência seculares muito longos.
Então, se você analisar o período do auge da crise, tivemos um descolamento da [nossa] carteira dos índices do Brasil porque já estávamos posicionados em negócios resilientes nos EUA.
A qualidade do modelo de negócios da carteira se provou extremamente benéfico durante a crise, não só do lado da demanda, que não sofreu grande queda, mas também uma aceleração de processos de digitalização, que foi extremamente relevantes em empresas em que estávamos posicionados.
Outa coisa do nosso modelo híbrido é que, em momentos de ruptura, ele possibilitou que a gente fizesse alocações em empresas do Brasil e algumas trocas no nosso book do exterior.
Foi um período que fortaleceu ainda mais a nossa filosofia de investimentos, de focar nos melhores negócios do mundo, nos melhores gestores. Ter mais ferramentas possibilita que você aumente o retorno da carteira, se aproveitando de oportunidades na crise, sem ter que ter tomado risco de investir nesse negócio antes.
-Como a crise impactou os cases do fundo e essas trocas?
O exemplo mais emblemático é que na Netflix, que é uma das três maiores posições das carteiras, não houve transformação, mas sim uma aceleração da tendência do que já considerávamos.
Outro exemplo conhecido desses foi a Charter, que é uma operadora de banda larga nos EUA, um case que a gente gosta muito, um ganhador secular de share. Facebook e Google se beneficiam da aceleração de digitalização também.
Assim como a Mastercard, que é um negócio em primeira instância perde com a desaceleração do consumo, mas por outro lado acelera a digitalização de pagamentos que é uma tendência de longo prazo positiva, então foi uma posição que era menor na carteira e aumentamos na crise.
Outra é Mercado Livre, que está listada lá fora, mas foi uma empresa em que vimos um descompasso muito significativo com o valor do negócio e o que ocorreu com a crise. A recorrência do consumidor cristaliza o hábito de uma forma muito relevante. Vimos em Amazon há dez anos e ocorria a mesma coisa com Meli, mas com a ação caindo.
E hoje, como estão as posições do IP no exterior? Qual peso?
Ela continua 70/30 entre exterior e Brasil. Para falar que mudou está 71/29. Ela pode mudar muito, pode ser 100/0, mas ao longo dos últimos dois anos tem rodado mais ou menos próximo disso, muito mais da diferença do tamanho do pote do que alguma opinião macro.
Parte da beleza de investir no exterior é que o crescimento do negócio está menos conectado ao crescimento da economia, enquanto que aqui no Brasil, não. Lá fora, você já começa com a maior economia do mundo, um mundo institucional mais produtivo, inovador, e alguns negócios que surfam tendências de crescimento independente da economia. Claro que o PIB ajuda, mas independente disso, algumas empresas vão continuar ganhando share.
Vocês fizeram alguma rotação de setores, como de techs para bancos, por exemplo?
A gente gosta de investir em ganhadores seculares, com crescimento rentável de décadas. Quando encontramos um negócio com essas características investimos com o intuito de segurar muitos anos.
Então, nunca opinamos baseados em um setor que seja mais cíclico nesse semestre, por exemplo. Dito isso, a principal mudança neste ano foi aqui no Brasil, aumentando a posição em Hapvida e Intermédica, já que o País tem uma deficiência enorme em saúde.
O modelo verticalizado dessa empresa permite que eles tenham o plano mais barato e o modelo mais eficiente, ou seja, permite que eles possam dar o menor reajuste ao longo do tempo, aumentando a distância para o competidor.
Não diria que é uma rotação setorial. Não estamos amimados com o setor, estamos animados com certas empresas.
-Qual é a maior posição de vocês no exterior no momento?
Hoje, a maior posição é Facebook no exterior. Além disso, de relevante também temos Google, Charter, Netflix, MasterCard e Charles Schawb.
Já no Brasil é Hapvida e Intermédica.
-Vocês olham também Ásia? Há alguma posição por lá?
Olhamos, sim. Temos discutido ativamente sobre a Ásia, há modelos super interessantes surgindo.
Na China existem vários modelos super interessantes. Recentemente, fizemos um estudo mais profundo para responder se conseguiríamos ficar tranquilos com os riscos de governança de investir por lá.
Resumidamente, hoje ainda não temos o conforto para investir em empresas chinesas, não temos a mesma confiança sobre a contabilidade, possíveis conflitos de interesse entre acionistas minoritários e o governo chinês. Acompanhamos com muito interesse, mas eu acho que a gente ainda está há uma certa distância para investir com a segurança que exigimos.
Existem modelos interessantes surgindo em outros países do Sudeste Asiático sem esses riscos. Um exemplo é a Sea, que é uma plataforma digital com negócios de jogos digitais e uma plataforma de e-commerce chamada Shopee. Existem modelos interessantes na Ásia e estamos sempre de olho, mas ainda não somos investidores.
-O dólar vem caindo em todo o mundo, menos aqui. Caso essa tendência de queda da moeda norte-americana chegue ao real, um fundo tão exposto ao exterior como o de vocês pode sofrer?
Estruturamos a carteira a modo que nossa opinião sobre dólar não faz grande diferença. O mandato do fundo é retorno em real, então o grosso da exposição do fundo tem hedge.
O fundo pode rodar com alguma exposição e uma parte disso serve apenas como proteção dada a necessidade de caixa para hedge cambial. Ele também pode ter uma exposição super controlada e uma manutenção do risco de liquidez e parte como hedge mesmo com o intuito de desvalorização da moeda.
Como não temos fortes opiniões, temos na IP Capital o grosso da exposição em hedge, sem ficarmos expostos as oscilações do dólar ante o real.