Um número crescente de empresas vem abrindo seus relatórios e divulgando suas práticas sustentáveis, tanto no aspecto ambiental, social ou de governança, e um dos grandes propulsores desta tendência é o interesse dos investidores no tema ESG.
No Brasil, segundo dados da Anbima, o patrimônio dos fundos com essa temática passou de R$ 1,03 bilhão em 2008 para R$ 2,01 bilhões em março de 2022. A Anbima reconhece que ainda é difícil quantificar no mercado o exato volume aplicado em fundos ligados à sustentabilidade, mas o interesse dos players do mercado está crescendo.
Se você está por fora e ainda não sabe o que são investimentos ESG, acompanhe esta “Semana do ESG: Investindo no Futuro”, realizada com apoio da CBA e da Rio Bravo. Entre 8 e 12 de agosto, o Suno Notícias vai trazer uma série de conteúdos especiais sobre investimentos ESG para você ficar por dentro do tema e entender como isso impacta o seu bolso. Você acompanha todo o conteúdo neste link.
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O interesse do mercado financeiro pelo ESG está em alta
Em 2021, a Anbima realizou sua 3ª Pesquisa de Sustentabilidade, com mais 250 participantes, incluindo gestoras de recursos, bancos e corretoras. De acordo com a entidade, 86% dos entrevistados reconheceram a importância da temática ESG no mundo dos investimentos, sendo que 90% dos participantes afirmaram que essa agenda deve ganhar ainda mais relevância no futuro próximo.
Na pesquisa anterior, que é de 2018, os números foram diferentes da atual, mostrando melhora no pensamento do mercado sobre a importância da sustentabilidade para os negócios. Em 2021, 49% das gestoras afirmaram considerar o ESG na gestão dos seus recursos para mais de 50% dos ativos sob gestão. Em 2018 esse percentual era de 27%.
A evolução não para por aí. Em 2018, apenas 34% das gestoras disseram ter alguma estrutura para se dedicar ao ESG. Em 2021, 71% afirmaram ter funcionários diretamente envolvidos com o tema.
Além disso, em 2021, 80% das gestoras disseram ter uma política de investimento responsável ou um documento que formalize o tratamento ao tema. Em 2018, esse número chegou a 69%.
Por que as empresas estão olhando mais para ESG?
Apesar do atual cenário macroeconômico, a tendência é de que os investimentos em ESG continuem sendo uma prioridade, segundo o sócio de Audit & Assurance da Deloitte, Reinaldo Oliari. Em uma recente entrevista ao Estadão, ele disse que a mudança de mercado está sendo promovida pelos próprios investidores, que estão buscando alocar seu capital em empresas mais conscientes.
“Os investidores querem ver se o negócio é sustentável, se os produtos ou serviços que vendem são sustentáveis e qual bem trazem para a sociedade. E essa conta chega, seja por empréstimo mais caro, dificuldade de contratar profissionais ou de manter os profissionais dentro da companhia. E se reflete em seus produtos e na imagem da empresa”, comenta Oliari.
“Não dá mais para separar o mercado financeiro da sociedade em que ele está inserido. Determinados compromissos e informações serão cobrados das companhias, independente de movimentos macroeconômicos de alta inflação e desemprego, por exemplo”, pondera ele.
O cenário ainda está distante do ideal
É certo que houve evolução no mercado quando o assunto é “investimento sustentável“, mas ainda não experimentamos um onda ESG no Brasil. Apenas 17% das empresas listadas possuem metas específicas relacionadas à redução de impactos climáticos.
Em relação às metas mais genéricas sobre o tema, o número de companhias da B3 sobe para 37%, de acordo com dados da consultoria Luvi One.
O mesmo levantamento também mostra que 59% das empresas não informam quaisquer metas definidas quando o tema é a diversidade social, sendo que somente 16% das empresas apresentam metas claras de inclusão.
Ou seja, o mercado expandiu em número de empresas e fundos dentro do universo das boas práticas sustentáveis, mas a transparência nas informações ainda é insuficiente.
No restante do mundo, os investimentos ESG também cresceram nos últimos anos, chegando à marca de US$ 35,3 trilhões. O Global Sustainable Investment Alliance afirma que esses fundos anotam um crescimento de 15% em dois anos e 55% nos últimos quatro anos (2016- 2020).
Na Europa, são mais de US$ 14,1 trilhões em ativos sob gestão, todos sob a perspectiva de investimentos responsáveis. Segundo relatório da XP, além dos países europeus, Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália assumem respectivamente a liderança em quantidade de fundos de investimentos dedicada à agenda ESG.
A política brasileira hoje é um “vento contrário” contra o ESG
O Brasil ainda está aquém das grandes potências econômicas quando o assunto é investir em ESG. Porém, o crescimento dos ativos e oportunidades de investimentos podem ser uma ponta de esperança para quem investe.
Pensando em países em desenvolvimento, o Brasil é relativamente avançado, tanto no que tange a temas de ESG quanto no tocante aos atores do mercado que incorporam a agenda da sustentabilidade. Quem faz esta afirmação é Gustavo Pimentel, o CEO da NINT, uma das empresas que são referências do mercado ESG.
Ainda estamos a “anos luz” da Europa, mas não tão longe dos EUA, afirma Pimentel. Em sua opinião, os norte-americanos têm um mercado muito grande, mas, na média, o país conta com alguns bolsões de excelência em ESG.
O que estamos vivendo hoje é um “velejar com o vento contra”. Na visão de Pimentel, esse vento seria a conduta do governo federal, que não é muito propenso a essa agenda e tem realizado “ações para enfraquecer a legislação ambiental, licenciamentos, fragilizar algumas proteções sociais”, destaca.
Pimentel acredita que existe um discurso anti-fiscalização que se torna mais um “vento contra o ESG”.
No setor privado, Pimentel acredita que tem muita gente querendo avançar ESG investing, “mas não consegue ir na velocidade que gostaria. “É claro que isso é um ciclo político. Pode ser que no próximo ano o vento vire a favor”, finalizou o CEO da NINT.
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(Colaborou Jorge Carrasco)