A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou, em agosto deste ano, as regras para investimento em Brazilian Depositary Receipts (BDRs). Com a mudança, o órgão regulador do mercado de brasileiro abriu as portas para o pequeno e médio investidor aportar seus recursos em companhias listadas no exterior por meio da Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
A deliberação da CVM foi divulgada em um momento em que a corrida à Bolsa era a regra. Tendo em vista os impactos negativos da pandemia do novo coronavírus na economia, o Banco Central (BC) e o governo federal seguiram o exemplo de outros países ao redor do globo: instauraram políticas monetárias e fiscais expansionistas. O resultado foi uma taxa básica de juros (Selic) na mínima história de 2,00% ao ano e uma porção de estímulos, desde créditos bancários ao auxílio emergencial de R$ 600,00.
Nesse sentido, muitos investidores pediram divórcio da renda fixa, devido ao baixo rendimento dos ativos e à maior liquidez no mercado, e migraram para a renda variável em busca de maiores retornos.
Com isso, surge na cabeça do investidor a questão da diversificação de ativos, especialmente no que concerne à exposição ao mercado internacional. Mas afinal, com a nova regra da CVM de democratizar o acesso aos BDRs e a facilidade cada vez maior de se investir no exterior por meio de uma corretora lá fora, comprar BDRs é igual a investir em ações no exterior?
O que são BDRs?
Para início de conversa, para investir em BDRs é necessário entender o que são BDRs. Esses ativos são recibos lastreados em ações de companhias estrangeiras. Em uma resposta curta: comprar BDRs é adquirir os direitos que investidores em uma ação têm, mas sem ter a ação em si na carteira.
No caminho mais completo, ao comprar um BDR está se adquirindo um título representativo das ações da companhia, que, de fato, existem, mas ficam depositadas e bloqueadas pela instituição custodiante. O funcionamento do sistema é assegurado por outra instituição, a depositária, que atua na distribuição dos BDRs no Brasil. Com isso, a instituição depositária adquire as ações da companhia estrangeira e as mantém depositadas em uma conta em uma instituição custodiante. É através desse processo que instituição depositária, junto à CVM, poderá emitir os recibos e oferecer os BDRs para negociação na bolsa brasileira.
Com isso, títulos de gigantes internacionalmente famosas, como Apple, McDonald’s, Coca-Cola, Credit Suisse, Mercado Livre, Alibaba e outras mais, podem ser negociadas no Brasil.
Vantagens de comprar BDRs
A primeira questão a se considerar é a participação nos resultados de empresas de fora do Brasil e a exposição ao mercado internacional. Os BDRs oferecem, de maneira simples e diretamente pela bolsa brasileira, a possibilidade de diversificar os investimentos em geografias e economias diferentes, de modo a mitigar os efeitos em sua certeira dos riscos intrínsecos a um país.
Além da diversificação física, o investidor pode ter acesso a papéis de grandes empresas e a setores aos quais, porventura, podem não registrar representantes para se olhar na Bolsa. É o caso da FedEx, de serviços de entregas, e da Tesla, montadora de veículos elétricos.
Outro ponto positivo é fugir do imposto americano sobre transmissão de heranças. Não-residentes nos Estados Unidos que registram um patrimônio de mais de US$ 60 mil estão sujeitos a uma tributação de pelo menos 40% de imposto na sucessão. A alíquota pode subir conforme o estado.
Mas a grande vantagem é a facilidade. O investimento em BDRs não exige operações de câmbio ou contas de custódia no exterior, assim como não requer transferência de recursos para outro país para que o investidor possa ter parte de seu patrimônio investido de maneira indireta em ações estrangeiras. Basta abrir o seu app ou homebroker, escolher o ativo e comprar com seus reais.
Desvantagens
Quando um investidor compra um BDR, é necessário ressaltar, não está adquirindo diretamente as ações da companhia estrangeira e, com isso, vêm algumas desvantagens atreladas ao investimento em BDRs.
O primeiro é preciso notar consiste na disponibilidade de ativos. Atualmente, 672 BDRs estão disponíveis para negociação na B3, todos de ações listadas nas bolsas norte-americanas Nyse e Nasdaq, enquanto no mercado dos Estados Unidos há uma oferta de mais de 8 mil ativos. Sem contar os mercados de outras grandes economias, como Alemanha, China e Reino Unido. Além disso, quando falamos de negociações dos BDRs, o nível de liquidez costuma ser baixo visto que o volume de compra e venda não ser muito alto.
No que tange aos impostos, o pequeno investidor pode conseguir benefícios fiscais mais atrativos ao investir diretamente nos Estados Unidos. Ao realizar aportes no mercado norte-americano, o investir geralmente tem direito a isenção fiscal nos meses em que a somatória de suas vendas não bater R$ 35 mil. Na hipótese de o valor atingir esse patamar, o imposto que incidirá sobre o capital será o mesmo dos BDRs: 15%.
Outro empecilho que é possível destacar é o imposto sobre dividendos. No Brasil, não há tributação sobre os proventos pagos pelas empresas, porém a medida ainda corre nos Estados Unidos, com um alíquota de 30%. O que acontece, dessa maneira, é que ao comprar a ação de uma empresa estrangeira, a instituição depositária paga essa alíquota, que, por sua vez, é repassada ao investidor. Há ainda uma taxa sobre o valor dos dividendos recebidos de 5%, que vai para o emissor do BDR.
Independentemente de qual for a sua escolha, investir no exterior, seja em BDRs ou diretamente em ações, é uma boa maneira de o investidor brasileiro se expor aos mercados estrangeiros e ampliar o leque de setores em que pode investir bem como o acesso a empresas globais. Não obstante, a SUNO Research ressalta que para esses tipos de investimento é preciso prudência, com bases fundamentalistas e focadas para o longo prazo.