Investimentos para mulheres: 20 a 30 anos é melhor idade para começar
Entre os 20 e 30 anos de idade, muitas mulheres pensam que ainda é muito cedo para começar a investir. Na verdade, é exatamente o contrário. Uma boa estratégia de investimentos para mulheres deve começar o mais cedo possível.
Assim que a mulher começa a ter uma renda suficiente para pagar as suas contas e ainda reservar um pouco de dinheiro no final do mês, ela deve pensar em fazer investimentos. Na prática, isso ocorre para muita gente entre os 20 e 30 anos de idade.
Além disso, nesta etapa da vida, grande parte das mulheres ainda têm despesas mais enxutas, pois ainda não constituíram família. Desta forma, fica mais fácil conseguir controlar as despesas para conseguir guardar dinheiro e investir.
Outra vantagem das mulheres investidoras jovens é que elas têm mais apetite a risco e um horizonte de longo prazo, podendo montar carteiras diversificadas.
Com base em um estudo elaborado pelo banco Credit Suisse para mulheres de diferentes idades, o SUNO Notícias ouviu especialistas e investidoras para preparar uma série de reportagens com dicas para mulheres de diferentes faixas etárias que desejam investir.
A seguir, confira a primeira reportagem da série, que traz orientações de investimentos para mulheres que têm entre 20 e 30 anos.
Momento é o mais favorável para começar
“As mulheres jovens devem investir nelas mesmas desde o início em termos de finanças, educação, treinamento, saúde física e mental, assim como experiências de vida, para poder aproveitar os benefícios disso ao longo da vida”, afirma o Credit Suisse no relatório elaborado para o público feminino.
Embora as pessoas nesta faixa etária não tenham grandes salários, fica mais fácil conseguir poupar. “A vantagem é que, com 20 a 30 anos, muitas mulheres ainda não têm uma grande família para sustentar, e por isso podem ter mais facilidade de enxugar os custos”, explica Iris Sayuri, gerente de produto de renda variável da Easynvest.
Além disso, o banco Credit Suisse destaca que esta é a melhor fase para começar a investir na aposentadoria. Isso porque, começando cedo, é possível investir um valor baixo mensalmente e garantir uma reserva financeira significativa.
Por isso, uma dica do Credit Suisse para quem tem emprego formal é aproveitar os planos de previdência oferecidos pelo empregador. “Tendências como o envelhecimento da população e os sistemas de pensões subfinanciados tornam essencial que as mulheres comecem a acumular capital quando são jovens”, aponta o estudo.
Estudante começou aos 22 anos
A estudante de odontologia Lavínia Senna, de 22 anos, é um exemplo de que a preocupação com o futuro pode começar ainda cedo.
Ela começou a investir há dois meses. Sua carteira, composta por ações, BDRs, FIIs e fundos de renda fixa, foi criada já pensando na aposentadoria.
“Como eu escolhi a carreira de dentista, como autônoma, eu acho importante já pensar em como será a minha velhice”, conta a jovem, de Campinas (SP).
Atualmente, ela trabalha em uma corretora de imóveis fazendo captações e investe uma parte de seu salário. Sua carteira é composta por 40% dos ativos em renda fixa e o restante em renda variável.
Ela conta que começou a investir com o dinheiro que tinha juntado para fazer uma viagem. Mas com a pandemia, seus planos foram adiados e ela resolveu aplicar o dinheiro. Lavínia fez seu primeiro investimento com apenas R$ 200.
Fase da fundação da riqueza é entre 20 e 30 anos
Para a economista da Rico Foco, Andreia Fernanda, esta deve ser uma “fase de fundação da riqueza”. Para isso, o ideal é guardar ao menos 30% da renda mensal, dividindo entre sonhos e aposentadoria, no caso de quem não tem muitas despesas fixas.
Já quem não tem ajuda financeira, ou mora sozinha, deve tentar guardar ao menos 10% da renda.
“Caso não se sinta segura a mulher pode começar por ativos com maior liquidez e menos risco. Ao se sentir segura ficará mais fácil e tranquilo partir para investimentos diversificados, maior risco e com foco no longo prazo como aposentadoria”, afirma.
O importante é que os investimentos façam parte da rotina desde o começo da vida adulta. Ela sugere inclusive que as investidoras marquem na agenda dia e horário para cuidar do dinheiro e dos investimentos e cumpram essa agenda.
Segundo Andreia, esta é uma etapa de construção de patrimônio, na qual os sonhos e projetos podem ser maiores do que a renda recebida. Por isso, é uma boa ideia tomar cuidado com tentações de consumo, pois nessa fase o crédito começa a ficar disponível de forma mais rápida e fácil.
“Há um risco maior de descontrole se não criar uma rotina para cuidar do dinheiro e investir desde o primeiro salário”, explica.
Alta tolerância ao risco nos investimentos para mulheres jovens
Até os 30 anos, as mulheres têm muito mais apetite a risco do que nas outras fases da vida.
- Entre 20 e 29 anos, 55% das investidoras mostraram alta tolerância ao risco.
- Esta taxa cai para 30% nas mulheres entre 30 a 45 anos.
- A fatia fica em apenas 25% na faixa de 45 a 60 anos.
- Acima de 60 anos, cai para 23%.
Segundo o levantamento do Credit Suisse, a maioria dos jovens investidores podem aceitar perdas potenciais de 7% a 11% no seu capital em um ano, enquanto alguns chegam a tolerar até 20%.
A elevada tolerância ao risco, somada ao horizonte de longo prazo dos investimentos, permite que as mulheres mais jovens possam investir em ativos variados, com direito a uma carteira de ações. Outro fator que contribui para investimentos em renda variável é que as mulheres de 20 a 30 anos não precisam ter uma renda constante gerada a partir dos seus investimentos.
Com isso, os recursos podem ficar alocados por mais tempo nos ativos, o que é uma boa estratégia para investimentos em ações. “Nesta idade, a investidora pode tomar mais risco porque terá mais tempo para acumular patrimônio, recuperar sua rentabilidade em caso de perdas ou mudar a estratégia de investimentos”, afirma Iris.
No entanto, vale destacar que a renda variável só é uma boa ideia para investimentos de longo prazo.
Evite a renda variável nas seguintes situações:
- Só invista em renda variável se já tiver sua reserva de emergência constituída.
- Só invista em renda variável se você tiver tolerância a risco.
- Não invista em renda variável o dinheiro que você vai usar em seus objetivos de curto prazo. Ou seja, se você está investindo para pagar seu casamento daqui a um ano, por exemplo, prefira renda fixa.
Fundos são alternativas de investimentos para mulheres nesta idade
Na visão da instituição financeira, faz sentido para mulheres jovens investirem uma parte dos recursos em fundos de investimento. “Fundos focados em questões ambientais, sociais e governança (ESG) costumam interessar mais as pessoas jovens, permitindo alinhar o investimento com seus valores”, explica a instituição.
Isso porque nesta faixa etária as pessoas estão preocupadas em impulsionar mudanças sociais e ambientais na sociedade. Em geral, mulheres já têm maior preocupação com este tema na hora de investir, como você pode ler nesta reportagem:
Nesse sentido, o banco indica que as mulheres invistam gradualmente, entre 3 e 4 vezes por ano. Desta forma, ela evita expor seu investimento a um momento de entrada específico, permanecendo investida. Esta é uma estratégia mais vantajosa do que repetir a todo momento e depois ter que retirar o capital.
Além disso, fundos de investimento são uma boa alternativa de investir de forma diversificada e com gestão profissional, principalmente para quem não deseja ou não tem tempo de se aprofundar no assunto, destaca a porta-voz da Easynvest. No caso das empresas ESG, outra vantagem é que as políticas de mitigação de risco adotadas pelas companhias também se refletem em investimentos mais interessantes no longo prazo.
Outra recomendação dos especialistas para investimentos de mulheres jovens é procurar setores com os quais a pessoa tem uma afinidade. “Por exemplo, marcas de luxo ou empresas de tecnologia, ou fundos sustentáveis”, cita o banco.
Segundo o estudo, esta abordagem garante que a investidora ficará bem informada e compreenderá o valor estratégico do investimento. Além disso, o banco é enfático ao recomendar que as mulheres não devem investir em áreas que não conhecem ou em produtos estruturados que não compreendam.
Educação é investimento importante nesta fase
Nesta fase da vida, investir em educação é fundamental, pois a qualificação profissional vai permitir um aumento na renda futura. “Tudo começa com a renda. Se você não aumenta sua renda, com o tempo as despesas vão aumentar e você não vai mais conseguir investir”, destaca Iris.
Além da educação formal, ela recomenda que as mulheres invistam tempo e dinheiro em educação financeira. Afinal, desta forma poderão tomar decisões mais conscientes em relação às próprias finanças.
No entanto, a economista Andreia Fernanda destaca que muitas mulheres “erram na dose” e acabam gastando muito dinheiro em educação, sem avaliar o retorno financeiro deste investimento.
Segundo ela, isso é um erro. “Essa armadilha pega muito as mulheres pois acreditamos que precisamos desse movimento para entrar no mercado que era dominado pelos homens.”
Ela ainda destacou que no Brasil, as mulheres estudam mais do que os homens. No entanto, permanecem com renda menor. “Essa geração pode mudar isso, aplicando todo conhecimento que possuem, sem medo de pedir um aumento, de mostrar os resultados, de negociar os preços do seu trabalho. Porque isso também é cuidar do dinheiro”.
Investimentos para mulheres têm barreira cultural
Além disso, a economista apontou que essa é uma fase importante para trabalhar a falta de autoconfiança, frustrações e procrastinação, que acabam gerando fobia financeira ao longo da vida.
Isso porque, até pouco tempo atrás, as mulheres não cuidavam do dinheiro porque havia uma lei que proibia a mulher casada de trabalhar fora, abrir conta em banco ou ter seu próprio negócio.
“Isso mudou efetivamente na Constituição de 1988 (ou seja, pouco antes dessa geração nascer), assim, elas não precisam se inspirar nos conceitos culturais que temos no Brasil que diz que mulher não sabe cuidar do dinheiro e outras crenças nessa mesma linha.”
A especialista da Esasynvest levanta a mesma bandeira. Segundo ela, muitas mulheres ainda delegam hoje as decisões financeiras aos companheiros. “Isso é muito perigoso, porque você está entregando o fruto do seu trabalho diário para outra pessoa.” Para encorajar as jovens investidoras, ela ressalta que investir é mais simples do que parece.
“Não precisa entender de matemática. O importante é buscar sempre aumentar a sua renda e gastar menos do que recebe. E ao longo dos anos, manter o hábito e a frequência de investir”, resume.
Se você ficou com vontade de começar, veja abaixo como fazer isso.
Confira este passo a passo para começar a investir
Para quem ainda não tem dinheiro sobrando no final do mês:
- Tenha clareza do quanto ganha por mês.
- Tenha clareza de quanto gasta por mês.
- Estipule um valor ou porcentual para poupar mensalmente.
- Você pode usar a regra 50-30-20, que prevê 50% do orçamento em itens essenciais (alimentação, moradia), 30% para despesas variáveis (como compras, restaurantes) e 20% para investir.
Para quem já consegue juntar dinheiro:
- O primeiro passo para todo investidor é formar uma reserva de emergência.
- A reserva de emergência deve ser equivalente a 6 a 12 meses dos seus gastos mensais.
- A reserva de emergência deve ser aplicada em investimentos de renda fixa, com baixo risco e alta liquidez. Ou seja, você deve poder sacar o dinheiro rápido caso precise dele.
- Quando a reserva estiver constituída, aí sim você pode começar a buscar investimentos de maior risco, pensando no longo prazo.
Na próxima reportagem especial desta série, o SUNO Notícias vai falar sobre estratégias de investimentos para mulheres de 30 a 45 anos.
(Colaborou Natalia Gómez)