Com a queda progressiva da taxa Selic, atualmente no patamar de 11,75% ao ano, a renda fixa tradicional já não tem a mesma atratividade do ano de 2023. A expectativa dos especialistas é de que o ano de 2024 termine com a taxa básica de juros em 9% ao ano. Neste cenário, os fundos de infraestrutura (FI-Infra) que investem em debêntures incentivadas, financiando projetos de empresas neste setor, tornam-se opções interessantes aos investidores.
Segundo gestores, existem FI-Infra que poderão superar a renda fixa tradicional este ano, com a vantagem de serem isentos de imposto de renda.
“Se a taxa Selic está baixa, se está em 9% ou 8% ao ano, o CDI ao mês vai estar 0,7%. Isso significa que, se alguns FI-Infra pagarem entre 0,8% a 0,9% ao mês, eles ganham da renda fixa tradicional”, diz Vitor Duarte, CIO da Suno Asset.
Além do rendimento promissor, os especialistas destacam que as perspectivas para o setor de infraestrutura são muito positivas para 2024 e para os próximos anos. Atualmente, o Brasil investe no setor, em média, R$ 160 bilhões por ano. Mas, para superar os gargalos em comparação com economias mais desenvolvidas, o país precisaria investir pelo menos R$ 350 bilhões.
“Por isso, o mercado de infraestrutura terá um crescimento muito forte, não só no mercado de capitais, o que vem acontecendo com o aumento de emissões do ano passado. Mas também do próprio BNDES e de outros bancos públicos e bancos de fomento”, destaca Antônio Teixeira, especialista em crédito privado da JGP.
2024 será um ano de virada para infraestrutura
O ano passado foi atípico para o mercado de crédito privado. O segmento foi afetado por diversos fatores, principalmente os eventos Americanas (AMER3) e Light (LIGT3), que geraram maior cautela por parte dos investidores. Além disso, o aumento dos juros americanos e o crescimento das taxas dos títulos públicos ajudaram a levar o dinheiro dos investidores para investimentos em renda fixa.
“Com menor apetite de risco por parte dos investidores, a quantidade de emissões de debêntures incentivadas sofreu uma redução em comparação com os anos anteriores”, pontua Gabriel Esteca, da Bocaina Capital.
Além disso, uma novidade trouxe maior otimismo para o setor no início de 2024: a criação das chamadas “debêntures de infraestrutura”.
Tradicionalmente, os fundos do tipo FI-Infra investem diretamente nas debêntures incentivadas. Criadas em 2011 pela lei 12.431, esses ativos pagam rendimentos isentos de imposto de renda.
Recentemente, no início de 2024, foram criados novos instrumentos de dívida do setor, as debêntures de infraestrutura. Diferente das incentivadas, as novas debêntures não têm isenção de imposto para pessoa física, mas sim para as empresas emissoras da dívida.
Por isso, os gestores preveem que será necessário um aumento na remuneração gerada pela debênture de infraestrutura em comparação com a debênture incentivada. Ou seja, para ser atrativa, ela precisará compensar a ausência de isenção de IR com uma taxa mais alta para o investidor.
“E quem vai comprar essas debêntures muito provavelmente serão os fundos de crédito que não são isentos, ou os fundos de pensão. A taxa precisará ser um pouco mais alta para fazer sentido para esses fundos”, afirma Teixeira, da JGP.
Mesmo assim, compensa para as empresas realizarem essa emissão da debênture de infraestrutura, justamente pela isenção do imposto de renda. O resultado disso são mais recursos para o setor de infraestrutura e mais oportunidades de investimentos para pessoas físicas.
FI-Infra com dividendos maiores que o CDI
Com maior oferta de debêntures e mais dinheiro para o setor de infraestrutura, os FI-Infra ganham mais tração no mercado. Obviamente, isso é bom para os investidores.
Os FI-Infra são listados em bolsa, com a vantagem de terem isenção de impostos tanto nos proventos mensais quanto na venda das cotas com ganho de capital. A maioria desses fundos pagam rendimentos com um prêmio acima da inflação.
Com os juros em patamares mais “comportados”, os fundos de infraestrutura tornam-se mais atrativos em relação à renda fixa tradicional.
Segundo Esteca, da Bocaina, os fundos com debêntures incentivadas de prazo mais longo podem capturar ganhos maiores. “Esses ativos mais longos tendem a se beneficiar em um cenário baixista de juros, gerando um ganho de capital advindo da compressão das taxas longas”, diz o gestor da Bocaina Capital.
No caso do BODB11, explica o gestor, o portfólio do fundo apresenta uma duration de 6,6 anos aproximadamente.
“Em uma conta simplificada, um ativo de 6,6 anos de duration apresenta um ganho de capital da ordem de 6,6% para cada 1% a.a. de queda na taxa de juros futura”, destaca.
Na prática, o resultado disso é que num contexto de taxa de juros em queda há a possibilidade de se capturar um ganho de capital relevante, e que no caso dos FI-Infra representa retorno isento de imposto de renda para a pessoa física.
Isso traz maior apelo dos investidores tirarem seus recursos do Tesouro Direto e virem para fundos de renda fixa, como os fundos de infraestrutura, acredita Duarte, da Suno Asset.
“Com uma taxa de juros muito baixa, e o tesouro direto pagando menos, o investidor vai buscar algo que pague um pouco mais, o que pode trazer dinheiro para esse segmento de infraestrutura”, finaliza o gestor.