A corrida pela digitalização e a grande liquidez global levaram os fundos de venture capital, que investem em startups, a bater um novo recorde anual de aportes no Brasil em 2021.
Os fundos aportaram R$ 46,5 bilhões em startups no ano passado, triplicando a cifra registrada em 2020, segundo pesquisa da KPMG e da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), obtida pelo Broadcast. Foi o quarto ano consecutivo de resultado recorde.
O impulso veio principalmente das startups ligadas ao setor financeiro (fintechs) e ao segmento de seguros (insuretechs), que concentraram quase 30% do montante investido, conforme o levantamento.
Como resultado da grande injeção de liquidez nas startups, o Brasil teve uma “avalanche” de novos unicórnios, como são chamadas as empresas que passam a ter uma avaliação no mercado superior a US$ 1 bilhão. Entre elas estão:
- MadeiraMadeira,
- Mercado Bitcoin,
- C6 Bank,
- Facily, e
- Olist.
Startups à frente
Já fundos de private equity, que investem em empresas mais maduras, foram na direção contrária, mostra o levantamento. Os investimentos dessas gestoras no Brasil caíram 19%, para R$ 7,3 bilhões, refletindo os fracos indicadores econômicos locais.
O presidente da Abvcap, Piero Minardi, aponta que esse descolamento dos investimentos para as startups é uma realidade brasileira. Em outros países, essas cifras costumam andar juntas – em geral, os cheques dos fundos de private equity são até mais gordos.
O problema no Brasil seria a falta de confiança no avanço do Produto Interno Bruto (PIB), indica Minardi. Hoje, o mercado prevê um crescimento inferior a 0,3% para 2022, resultado muito abaixo da média global.
“O venture capital é menos sujeito ao crescimento da economia”, frisa Minardi, que comanda o fundo americano Warburg Pincus no Brasil. A gestora que está por trás de grandes negócios, como a Petz (PETZ3).
Minardi lembra ainda que, ao longo dos últimos anos, os private equities também tiveram suas atividades abaladas pela volatilidade do câmbio – o que continua a ser um problema em 2022.
Segmento mais resiliente
Sócio líder de Private Equity e Venture Capital da KPMG no Brasil, Roberto Haddad comenta que o salto da indústria de venture capital no País ficou mais evidente em 2020, momento que os recursos para esse tipo de investimento se voltaram ao Brasil.
“Hoje o jovem sabe que, se ele tiver uma ideia bem executada, ele terá dinheiro disponível”, afirma o executivo.
De acordo com Haddad, os fundos dedicados a negócios em estágio inicial devem continuar aquecidos neste ano, sendo que ainda há muitos setores a serem explorados, como as agritechs (startups dedicadas ao ramo agropecuário) e healthtechs (de saúde).
Além disso, o especialista aponta que esse segmento é menos sensível aos percalços da economia e se abala menos com os juros e a taxa de câmbio, que tecnicamente podem acabar com a rentabilidade dos fundos de private equity.
A disparada do dólar passou a ser um problema para os fundos voltados a grandes empresas que fizeram investimentos há alguns anos no País. Isso porque o fundo que comprou um negócio na época a R$ 3 ou R$ 4 agora pode perder dinheiro mesmo se vender o negócio por um valor superior, em reais.
Na conversão para dólar para “pagar” a matriz, o negócio corre ainda o risco de valer menos do que o valor originalmente pago. “O câmbio é nosso gargalo. Essa incerteza é nosso calcanhar-de-aquiles”, diz Haddad.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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