Os últimos cinco anos foram marcados por um intenso crescimento do mercado de capitais no Brasil. No mesmo período, o dólar mostrou uma forte apreciação em relação ao real. A junção dos dois mundos chamou atenção dos fundos de investimentos no País, e o investimento no exterior tornou-se cada vez mais comum — algo ampliado ao longo dos últimos três meses.
Segundo informações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), divulgadas na última sexta-feira (9), a captação líquida acumulada dos fundos de investimento no primeiro trimestre deste ano atingiu R$ 83,8 bilhões no Brasil, crescimento de 119,9% frente ao mesmo período do ano passado, com o investimento no exterior ganhando cada vez mais importância para os gestores.
De acordo com a Associação, a participação de ativos estrangeiros cresceu 45,4% nas carteiras dos fundos no Brasil. Em termos de rentabilidade, os recursos enviados para fora do País trouxeram o melhor retorno para as carteiras de ações e multimercado, entre janeiro e março deste ano.
O resultado dos primeiros três meses deste ano foi impulsionado por um avanço de 9% do dólar frente ao real. Alguns especialistas acreditam que a divisa norte-americana deva encerrar o ano em menor patamar, mas os riscos políticos e fiscais do Brasil não deixam essa percepção se concretizar. Mesmo assim, isso não inibiu os investidores locais de procurarem diversificar suas aplicações.
Fuga do Brasil
O cenário do primeiro trimestre de 2021 deixa clara a “fuga do Brasil” nos últimos anos. Segundo dados da Garde Asset Management, o estoque de recursos fora do Brasil atualmente gira em torno de US$ 45 bilhões, enquanto em 2015, ano de recessão econômica, era de US$ 25 bilhões.
O recente apetite por risco gringo chamou atenção até dos grandes do mercado financeiro no Brasil. Um dos fundos da Dynamo, tradicional e reconhecida gestora de recursos no País, foi reaberto para investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão em aplicações), com aporte mínimo de R$ 25 mil. O produto, que tem exposição à variação cambial e será voltado a ações globais, tem liquidação no dia 29 de abril.
Com a demanda por ativos estrangeiros, as opções não faltam. Recentemente, o banco digital Modalmais anunciou a aquisição da Carteira Global, uma plataforma de gerenciamento e consolidação de carteiras de investimentos com foco no open finance e visão global, enquanto o Morgan Stanley lançou um fundo global com investimento mínimo de R$ 500.
Para Gustavo Aranha, sócio e diretor de distribuição da GeoCapital, de uma forma geral, “esse movimento é muito bom para o investidor”. “Quanto maior o leque de opções, mais diversificado e protegido será o capital”, disse em entrevista ao SUNO Notícias.
Investimento no exterior e a concorrência no mercado
Aberta em 2013, a GeoCapital foi a primeira asset no Brasil a voltar seu foco exclusivamente a ações globais. Atualmente, com R$ 1,2 bilhão sob gestão — sendo que 15% é de posse do próprio time de gestão e análise –, a casa tem acompanhado o aperto da concorrência na procura por investimentos estrangeiros.
No ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) flexibilizou o acesso a Brazilian Depositay Receipts (BDRs). Antes, somente investidores qualificados poderiam comprar ações de empresas estrangeiras diretamente pela B3, mas agora o mundo foi expandido para o varejo — e a oferta só tem crescido.
Outras ferramentas, como corretoras que fazem o intermédio entre o investidor, o câmbio e a compra das ações, além dos ETFs, também têm chamado atenção do mercado. Ainda de acordo com os dados divulgados pela Anbima na última semana, o número de fundos totais no Brasil cresceu 14,6% de março de 2020 para março deste ano, chegando a 22.871 casas.
“Isso é muito bom. Ficamos satisfeitos quando o investidor que quer investir em ações globais tem várias possibilidades. Quando abrimos a GeoCapital a situação era diferente”, disse Aranha.
Até poucos anos atrás, lembra o executivo, era necessário ter muito dinheiro e o acesso ao mercado estrangeiro não era para todos.
Agora, a situação está invertida de tal modo que a concorrência é ferroz por os investidores desta categoria. “Sim, a concorrência aumentou significativamente. À medida que aparece a demanda, surgem as novas casas e facilidades de investimento. Nós ficamos mais felizes com o aumento da demanda, do assunto na média e das possibilidades, do que tristes.”
Segundo Aranha, a casa prefere “ficar com um pedaço do bolo, a ter o brigadeiro inteiro”. Para a GeoCapital, o crescimento do mercado de capitais no País é benéfico como um todo e a concorrência no setor é inevitável, então de forma geral a visão é construtiva.
“Cada vez mais os investidores estão entendendo a importância de alocar parte do capital de longo prazo em moeda forte, e o investimento no exterior faz parte disso”, afirma.
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