Número de mulheres investidoras aumenta no país pelo segundo ano seguido, revela Anbima
O número de mulheres brasileiras que afirmam investir em algum produto financeiro aumentou pelo segundo ano consecutivo, subindo de 33% em 2022 para 35% em 2023. No ano de 2021, o contingente de investidoras era de 28%. Apesar do crescimento, a presença feminina ainda se mantém abaixo da masculina, que permaneceu em 40% no ano passado, mesma taxa registrada em 2022.
Os dados sobre as investidoras no Brasil foram extraídos da sétima edição do “Raio X do Investidor Brasileiro”, uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em colaboração com o Datafolha.
Em média, as mulheres investidoras têm aproximadamente 44 anos de idade, pertencem à classe C (50%), possuem Ensino Médio completo (42%) e residem principalmente na região Sudeste (52%). Marcelo Billi, superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima, destaca a importância do interesse das mulheres por produtos financeiros, ressaltando que além da proteção de recursos e da oportunidade de aumentar a renda, investir pode promover autonomia e independência.
Billi enfatiza a necessidade de esforços contínuos em educação financeira e uma atenção especial a esse público por parte do mercado. A pesquisa, conduzida entre 6 e 24 de novembro de 2023, contou com entrevistas pessoais e a aplicação de questionários estruturados em tablets, com uma média de duração de 20 minutos, abrangendo 5.814 pessoas das classes A/B, C e D/E, com idade igual ou superior a 16 anos, em todas as regiões do país. A margem de erro é de um ponto percentual para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.
A busca por segurança financeira é o principal motivador para as mulheres investirem seus recursos, representando 38% das respostas. A Anbima diz que esse aspecto lidera as motivações desde a primeira edição da pesquisa em 2018. Em segundo lugar, estão o retorno financeiro (17%) e a possibilidade de resgate em caso de necessidade (6%). Embora os homens também priorizem a segurança, a parcela é menor, atingindo 33%, segundo o estudo.
Mulheres x investimentos: brasileiras são confiantes, mas ainda há obstáculos
O Brasil é o segundo país em que as mulheres se sentem mais confiantes na hora de investir. Foi o que disseram 46% das brasileiras entrevistadas em um estudo da Coleman Parkes Research para o BNY Mellon Investment Management. No mundo, apenas 28% das mulheres se sentem assim.
Se o público feminino investisse na mesma proporção com a qual os homens investem, a indústria mundial de fundos de investimentos poderia ter US$ 3 trilhões a mais sobre gestão, indica o mesmo levantamento. No Brasil, haveria pelo menos mais US$ 52 bilhões em ativos sob gestão.
Ainda assim, a representatividade feminina no mercado de capitais está aquém do seu potencial. Segundo o levantamento, existem barreiras que dificultam a entrada do público feminino no mercado de investimentos:
❖ Obstáculos de renda: uma grande porcentagem da população feminina ainda não é independente financeiramente;
❖ Percepção de que investir é arriscado: mulheres têm mais tendência a reservar o dinheiro para emergências e a só investir se ganharem acima de renda “segura”, pelo menos, US$ 50 mil por ano (ou US$ 4,1 mil mensais), segundo a pesquisa;
❖ Falta de confiança: muitas mulheres não se sentem confiantes para investir por falta de conhecimento sobre produtos financeiros e sobre como investir.
Também chamou a atenção na pesquisa o fato de a indústria de fundos ter predominantemente como público-alvo os homens. Quase nove em cada dez gestores (86%) admitem na pesquisa que seus clientes padrões são homens.
Diante disso, o SUNO Notícias consultou especialistas em finanças pessoais para dar dicas de como as mulheres brasileiras podem atingir a independência financeira e a confiança necessária para aumentarem a representatividade na Bolsa.
Quanto custa a independência financeira?
O termo independência financeira muitas vezes é utilizado de maneira errada – um sinônimo de riqueza, por exemplo -, mas não é disso de que se trata. Ser financeiramente independente é ter uma fonte de renda estável, que permita a organização do dinheiro e das finanças pessoais.
Júlia Abi-Sâmara, fundadora da plataforma “As investidoras” – que tem como objetivo levar educação financeira para mulheres -, diz que a independência financeira também está atrelada a liberdade, ao cuidado com o dinheiro que permita a conquista de um nível de estabilidade e organização financeira, sem ter que se preocupar ou depender de alguém para isso.
“Está muito relacionado a liberdade. Liberdade de poder escolher trabalhar e realizar seus sonhos, sem depender de ninguém para isso! Eu trabalho ensinando mulheres a investir e cuidar do seu dinheiro e, nesse caso, sinto que a independência financeira tem um significado ainda mais forte!”
Comportamento financeiro: investidoras preferem poupança e bancos tradicionais
A caderneta de poupança continua sendo o investimento mais utilizado pelo público feminino, com 26% das respostas, mantendo o mesmo resultado de 2022. Títulos privados ocupam o segundo lugar, registrando um leve aumento de 3% para 4% em 2023. Fundos de investimento e a compra e venda de imóveis mantiveram-se estáveis, com 3% de menções cada.
Quanto ao destino do dinheiro investido, a compra de imóveis é a escolha mais citada tanto por mulheres quanto por homens, representando 34% e 32%, respectivamente. A manutenção dos recursos aplicados é a resposta subsequente, com 18% para ambos os públicos, respectivamente.
As mulheres demonstram maior variedade nas finalidades para o uso dos investimentos, mencionando viagens, educação, reformas em casa, saúde, pagamento de contas e dívidas, padrão de comportamento mantido ao longo dos anos.
A pesquisa sobre as investidoras ainda aponta que as contas em instituições financeiras tradicionais são as preferidas das mulheres (68%), embora o uso de bancos digitais tenha crescido anualmente, alcançando 39% em 2023 (34% em 2022 e 27% em 2021). A parcela de mulheres sem conta bancária diminuiu para 15% (18% em 2022 e 21% em 2021).