A Inteligência Artificial (IA) está promovendo mudanças na cultura dos negócios e na organização de vários setores econômicos. No mercado financeiro não é diferente: com algoritmos de programação, os analistas são capazes de trazer relatórios de investimentos com muito mais detalhes. Além disso, empresas listadas na bolsa estão aumentando sua produtividade com auxílio da IA.
Segundo levantamento da IDC Worldwide Artificial Intelligence Spending Guide, até 2025 serão investidos mais de US$ 200 bilhões em IA no mundo, o que mostra a tendência da tecnologia, antes restrita ao mercado acadêmico, começar a se popularizar.
Para Nilo Portella, fundador do M&P Group, uma holding de mídia e inovação, o impacto da IA veio para ficar. “A evolução tecnológica é inevitável e, para participar desse jogo de maneira competitiva, é preciso se adaptar e estudar as melhores maneiras de utilizar a tecnologia a favor dos negócios e das pessoas que compõem as empresas. Ignorar essa transformação pode significar a perda de mercado”, alerta o executivo.
Especificamente no mercado financeiro, o uso da IA traz inúmeras possibilidades, como diminuição de imprecisões, aumento da rapidez nas negociações, melhora da produtividade das empresas do setor e, consequentemente, reduções de custos operacionais.
Inteligência Artificial: investidores também devem se beneficiar
Com o mercado financeiro implementando novas tecnologias para ampliar a assertividade de analistas e assessores de investimentos, o sócio-fundador do M&P Group e da Bossanova Investimentos, Túlio Mêne afirma que os investidores receberão relatórios mais customizados.
“Com algoritmos avançados de programação, que trazem resultados de pesquisa e cruzamento de dados em segundos, as análises de mercado ganham um relatório de recomendações de investimento detalhado. Esse movimento deve significar uma grande transformação, a médio e longo prazo, na tomada de decisão do investidor”, projeta Mêne.
Além disso, para operadores de mercados e investidores, já é possível utilizar chatbots online de inteligência artificial, como ChatGPT, para filtrar informações, fazer resumos de informações e reduzir distrações.
Empresas listadas na bolsa fazem uso da IA para negociações
Mêne aponta que empresas da bolsa já fazem uso de IA para diminuir custos das operações, acelerar o ritmo de negociações e trazer mais dinamismo aos negócios. “As companhias têm investido no desenvolvimento de novos produtos e serviços. Um exemplo disso são os robôs traders, produto financeiro que auxilia os investidores com recomendações de compra e venda de ações, de acordo com o perfil de cada pessoas”, afirma Portella.
Segundo o executivo, no M&P Group, a Inteligência Artificial é utilizada para ampliar e auxiliar a geração de negócios e a produção de conteúdo nas startups investidas.
Um outro exemplo é a Weg (WEGE3), que recentemente fechou acordo para aquisição da BirminD, empresa de tecnologia atuante no mercado de inteligência artificial para processos industriais, como parte de uma estratégia para desenvolver novos produtos e a otimizar a gestão de ativos.
Quais empresas vale a pena ficar de olho?
Para aproveitar a onda de inteligência artificial, existem algumas empresas com BDRs listadas na B3 que se diferenciam das concorrentes por estarem mais avançadas no desenvolvimento da tecnologia. São elas:
- Alphabet / Google (GOGL34)
- Microsoft (MSFT34)
- Meta (M1TA34)
- Amazon (AMZO34)
- Nvidia (NVDC34)
As empresas citadas são referências no mercado em relação a desenvolvimento de aplicativos, serviços de nuvens e dados, produção de chips e demais tecnologias.
OCDE projeta aumento de produtividade com Inteligência Artificial
Associado a essas previsões, um relatório de 2021 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), intitulado “Inteligência artificial em Negócios e Finanças” destaca que com a aceleração da implantação da IA, as empresas financeiras devem aumentar a produtividade, gerando vantagens competitivas.
“Bancos, traders, seguradoras e gestores de ativos usam cada vez mais a IA para gerar eficiência, reduzindo custos de fricção e melhorando os níveis de produtividade. O aumento da automação e os avanços em “aprendizagem profunda” podem ajudar os provedores de serviços financeiros a avaliar os riscos com mais rapidez e precisão”, diz a instituição em relatório.
Além disso, a OCDE aponta que os consumidores terão maior acesso a serviços financeiros e suporte por causa de ferramentas online com IA. “Os aplicativos de IA para prestação de serviços financeiros também podem melhorar a qualidade dos serviços e produtos oferecidos aos consumidores, aumentar a adaptação e personalização e diversificar a oferta de produtos.”
Por outro lado, o órgão alerta para riscos que a IA pode trazer como resultados enviesados, falta de transparência, uso inapropriado de dados. “O uso dos mesmos modelos ou conjuntos de dados pode levar à convergência e ao comportamento de manada, aumentando a volatilidade e ampliando a escassez de liquidez em momentos de estresse do mercado”, conclui a OCDE.
Quais os benefícios da IA para as finanças?
Para Tiagos Reis, CEO da Suno, os benefícios da Inteligência Artificial ao mercado financeiro estão relacionados à melhoria na precisão das previsões, eficiência operacional e personalização de serviços financeiros e analisar grandes volumes de dados.
“Outro ponto relevante é que a Inteligência Artificial pode ser usada para detectar atividades fraudulentas, analisando padrões de transações e identificando atividades suspeitas”, diz ele.
“A IA é usada para analisar grandes volumes de dados de mercado e identificar padrões e tendências que podem ser úteis para a tomada de decisões de investimento. Por exemplo, os algoritmos de Inteligência Artificial podem analisar dados históricos de preços de ações para prever tendências futuras de preços”, escreve Reis em artigo sobre a ferramenta. “Além disso, a IA também está sendo usada para automatizar tarefas rotineiras, como a verificação de transações. Isso não apenas melhora a eficiência, mas também ajuda a reduzir o risco de erros humanos e fraudes.”
Inteligência artificial leva Wall Street à disparada histórica de 32% no semestre
O boom de apostas em torno do setor de inteligência artificial (IA) após o advento do ChatGPT levou a Nasdaq, Bolsa que concentra os grandes nomes da tecnologia, ao melhor desempenho semestral desde a década de 1980. No primeiro semestre, o Nasdaq acumulou ganhos de 32%, no melhor resultado em 40 anos.
Tamanho furor permitiu à Nvidia, fabricante de chips para Inteligência Artificial e para jogos, entrar para o seleto grupo de companhias que valem US$ 1 trilhão (R$ 4,8 trilhões), e ganhar força para a corrida que este setor deve vivenciar na próxima década, e que tem competidores de peso como Microsoft, Google e Samsung, entre outros.
A expectativa em Wall Street é de que o momento de alta no setor de tecnologia deve não apenas continuar, mas ficar ainda mais forte nos próximos meses, devido às expectativas em torno da revolução que a IA pode causar.
“O ChatGPT e a IA levarão a uma revolução de produtividade, apoiando os lucros da empresa agora e no futuro”, projeta Mark Haefele, diretor de investimentos do UBS Wealth Management, braço que administra grandes fortunas do banco suíço.
O S&P 500, índice que reúne as maiores empresas listadas dos EUA, também foi contaminado pelo efeito ChatGPT e IA Generativa.
O índice acumulou ganhos de 15,9% no primeiro semestre, o melhor desempenho para o período desde 2019. Sem o furor da inteligência artificial, tal desempenho cairia para um dígito, segundo cálculos de operadores em Wall Street.
Apesar do temor quanto aos efeitos no mercado de trabalho, entre outras dúvidas, a leitura é de que a Inteligência Artificial é uma tecnologia transformadora e com potencial de monetização em diferentes segmentos.