A inteligência artificial (IA) é uma ferramenta cada vez mais utilizada por provedores de serviços financeiros, com sua capacidade de processar grandes volumes de dados, funcionar como fonte de informação, oferecer insights e avaliar riscos de investimentos. Além disso, recursos tecnológicos como ChatGPT e o Finchat já estão ocupando um lugar de destaque entre analistas e investidores. Mas qual será, afinal, seu papel na avaliação e sugestão de investimentos?
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a IA é adotada por empresas financeiras que tentam se beneficiar da enorme quantidade de conjuntos de dados disponíveis.
“Os provedores de serviços financeiros usam esses modelos para identificar sinais e capturar relacionamentos subjacentes em dados de uma forma que está além da capacidade humana”, afirma a OCDE em relatório.
Segundo Fabrício Gonçalves, CEO da Box Asset, os robôs de IA são programados para avaliar milhares de dados em segundos, incluindo a saúde financeira da empresa, desempenho histórico e análise de mercado. “Essas tecnologias geram um relatório detalhado com recomendação de investimentos, que auxilia o investidor na tomada de decisão”, explica o gestor em artigo publicado no site Capital Aberto.
Além disso, a IA ainda é utilizada por gestores de ativos e outros investidores institucionais para aprimorar o gerenciamento de riscos: o machine learning permite o monitoramento econômico de milhares de parâmetros de risco diários e a simulação do desempenho do portfólio em milhares de cenários de mercado/econômicos.
“Historicamente, as informações estão no centro do setor de gestão de ativos e da comunidade de investimentos como um todo, e os dados têm sido a pedra angular de muitas estratégias de investimento antes do advento da IA (por exemplo, análise fundamental, estratégias quantitativas ou análise de sentimento)”, diz a OCDE.
Com isso, muitos analistas podem se beneficiar do uso de ferramentas de inteligência artificial para aprimorar relatórios e recomendações a investidores. Tiago Reis, CEO da Suno, destaca que é preciso escolher a ferramenta certa, aliada a seu objetivo e necessidades. “É importante dedicar tempo para se familiarizar com a ferramenta e entender como ela pode ser usada para apoiar sua análise de investimentos.”
Inteligência artificial: ChatGPT e FinChat poderão ocupar o lugar dos analistas de investimentos?
Na esteira destas novas ferramentas relacionadas à inteligência artificial, o ChatGPT ganhou destaque sendo usado como fonte de informação para investimentos.
Para Luís Guedes, professor de inovação e projetos da FIA Business School, o aplicativo caiu no ‘hype’ pela usabilidade, pouca complexidade e dinâmica simples. Por outro lado, Guedes destaca que a plataforma não é uma ‘fonte de verdade’, e inclui sempre uma margem de erro.
“Ele parte de uma base de dados. O hype é pela interface e pela velocidade e qualidade da resposta”, comenta.
Neste cenário, o especialista aponta que o ChatGPT tende a ser um ‘norte’ para decisões, mas que a presença humana ainda é necessária. “A minha opinião é de que a IA pode ajudar na interlocução para tirar dúvidas, como a Alexa, ou o Google Home. Você pergunta coisas e ela te responde. Você pode fazer perguntas simples como ‘riscos de investir em ação’. Além disso, ela pode poupar tempo de um analista que pergunta por alguns dados ou informações”, explica.
Atualmente, o ChatGPT não concede informações em relação a quais ações investir. Ao solicitar que ele fizesse um investimento de R$ 20 mil, a ferramenta afirma não foi capaz de realizar investimentos reais, mas que informou que poderia oferecer uma sugestão geral de como diversificar a quantia em ativos brasileiros. O importante é alimentá-la antes com muitos dados, explicando o que são os investimentos, “ensinando” a AI sobre como alocar recursos e sobre os tipos de investimentos. Preparando-a para essa tarefa.
A sugestão do ChatGPT:
- Ações de empresas listadas na B3: R$ 6.000 (30%)
- Títulos do governo brasileiro (Tesouro Direto): R$ 4.000 (20%)
- Fundos de investimento diversificados: R$ 4.000 (20%)
- Fundos imobiliários: R$ 3.000 (15%)
- Debêntures e títulos de dívida corporativa: R$ 2.000 (10%)
- Câmbio (investindo em moedas estrangeiras): R$ 1.000 (5%)
A plataforma reiterou ser apenas uma sugestão hipotética e a alocação real depende de sua tolerância ao risco, horizonte de investimento, objetivos financeiros e outras considerações pessoais.
No mercado americano, outro chatbot de sucesso é o FinChat, ferramenta específica para finanças que oferece acesso a informações detalhadas sobre a situação operacional de empresas, trazendo recursos como balanços e explicações de diferentes produtos financeiros, ações e fundos de investimento.
No FinChat é possível pedir à plataforma análises de um aspecto específico dos resultados trimestrais e anuais de empresas, como o EV/Ebitda, indicador que relaciona o valor da empresa (EV) com sua geração de caixa.
Riscos e limites éticos para inteligência artificial envolvendo investimentos
Conforme a OCDE, um dos riscos da inteligência artificial para recomendações de investimento é utilizar o mesmo modelo e algoritmos por um grande número de participantes do mercado, levando a uma maior homogeneidade, comportamento de manada e mercados unidirecionais – o que gera novas fontes de vulnerabilidades.
“Isso, por sua vez, se traduz em maior volatilidade em momentos de estresse, exacerbada pela execução simultânea de grandes vendas ou compras por muitos participantes do mercado, criando surtos de liquidez e afetando a estabilidade do sistema”, afirma a OCDE.
Para evitar esse cenário, Reis explica que uma IA precisa ter treinamento específico, programado para identificar padrões e tendências que são importantes para a análise de investimentos, banco de dados atualizado e resposta intuitiva.
Outro ponto é a regulação, essencial para traçar diretrizes claras sobre a transparência, privacidade e regras quanto ao uso de dados.
CVM e B3 Educação fecham acordo para utilizar ChatGPT na educação financeira
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a B3 Educação estudarão o uso de tecnologias como o ChatGPT para aprimorar a disseminação da educação financeira. O analista Gilson Maia, da Superintendência de Proteção e Orientação aos Investidores da CVM, integrará o grupo de trabalho que se concentrará nessa iniciativa.
O acordo entre a CVM e a B3 Educação contempla aspectos técnicos e educacionais. No primeiro caso, serão realizados estudos e pesquisas sobre temas relacionados à educação e inclusão financeiras. Já no segundo, serão criados projetos educacionais, tanto presenciais quanto a distância, como cursos, palestras e oficinas. A parceria também abrange a produção e difusão de materiais educacionais, como publicações, aplicativos e vídeos.
A iniciativa visa ampliar a disseminação de conhecimento e a promoção da educação financeira, visando uma maior inclusão e participação dos cidadãos brasileiros no mercado de capitais.
Sobre o uso de inteligência artificial para investimentos, a CVM afirma ser receptiva a novas tecnologias, especialmente para ampliar a educação financeira no País, mas está atenta ao uso de ferramentas de inteligência artificial para a recomendação de investimentos.
IA ainda tem limitações, mas pode ser aliada dos analistas, diz Tiago Reis
Para Tiago Reis, as ferramentas de IA ainda têm limitações, como dificuldade em entender e interpretar informações qualitativas. Entre esses dados estão o sentimento do mercado ou as nuances das estratégias de negócios de uma empresa.
“Portanto, embora a inteligência Artificial possa transformar a maneira como os analistas de investimentos trabalham, é improvável que substitua completamente os analistas no futuro próximo. Em vez disso, a IA provavelmente servirá como uma ferramenta valiosa que pode ajudar os analistas a trabalhar de maneira mais eficiente e eficaz”, enfatiza o gestor.
Com informações de Estadão Conteúdo