O número de pessoas físicas na bolsa de valores deu um salto nos últimos anos e chegou aos 3,5 milhões em abril deste ano, em grande parte, devido à democratização das informações sobre o mundo dos investimentos na internet. Neste processo, as redes sociais tiveram uma grande contribuição. No Twitter, por exemplo, existem muitos influenciadores que falam diariamente sobre ações, tendências e boatos da Avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo.
Com isso, o investidor comum passou a ter acesso à opinião de um grupo seleto que antes era inacessível.
A comunidade do mercado financeiro no Twitter é conhecida como Fintwit, em referência às iniciais de Financial Twitter, movimento que nasceu em 2018, nos Estados Unidos. O grande foco da fintwit é o mercado de ações.
Em outra seara, também há o “Econtwit“, onde estão os economistas mais teóricos e análises macroeconômicas de assuntos do mercado.
5 dicas para evitar ciladas no Twitter
Assim, todo cuidado é pouco para investidores de primeira viagem. Assim como o investidor precisa saber escolher as ações em que vai investir, também deve escolher com sabedoria os perfis que vai seguir.
O SUNO Notícias conversou com o professor André Massaro, das finanças pessoais, e trouxe 5 dicas para não cair em ciladas do Twitter:
- Evite o viés de confirmação
- Jogue contra o algoritmo
- Verifique as credenciais
- Desconfie de vínculos suspeitos
- Tome cuidado com as ações “mais comentadas”
Viés de confirmação no horizonte
Uma estratégia útil para quem quer ficar por dentro da Fintwit sem prejudicar seus investimentos é ficar atento ao viés de confirmação. Este comportamento é natural de todo ser humano, pois todos buscamos reforçar nossas próprias opiniões buscando confirmações de outras pessoas.
Dessa forma, todo investidor fica mais confortável seguir aqueles que pensam da mesma maneira, e corre o risco de limitar a sua visão do mercado.
“Você tende a participar do grupo que confirme suas crenças e estar sempre nos meios em que sua tese é aceita. Somos feito biologicamente para pensar desse jeito”, explica Massaro.
Embora seja impossível eliminar todos os vieses, é possível ficar alerta, evitando seguir apenas aqueles que pensam da mesma forma.
“Devemos tomar cuidado com esses viés. Mas sabemos que a maioria não consegue fazer isso. As pessoas tem essa tendência de aceitar respostas simples, e no mundo dos investimentos temos muita gente buscando respostas simples”, explica Massaro, que possui pós-graduação em neurociência e psicologia aplicada.
Por isso, o investidor deve ficar de olho também nos influenciadores que contradizem sua visão de mundo.
O algoritmo é seu inimigo
Em complemento ao hábito acima, vale lembrar que as redes sociais tendem a mostrar o que você sinalizou ter gostado com suas interações anteriores.
Assim, a melhor maneira de evitar ouvir opiniões redundantes é forçar-se a seguir e acompanhar personalidades que tenham opiniões contrárias, pesquisando e pedindo sugestões de outras pessoas.
Em outras palavras, não deixe que o algoritmo transforme seu feed em uma “bolha” confortável demais.
Antes de tudo, os créditos
Assim como as demais redes, o Twitter conta com anúncios, recomendações e publicidade paga. Desde a alta de CPFs na bolsa, esse tipo de conteúdo só aumenta. A recomendação, nesse âmbito, é ficar atento às certificações dos perfis.
No geral, o mercado abarca pessoas com diversas formações e com culturas distintas – contudo, as estatísticas indicam que certificações concretas tendem a induzir a maiores acertos.
“A primeira coisa que temos de fazer é ver a qualificação da pessoa. No mercado temos gente de todo tipo; gente que fez doutorado e foi ministro, até pessoas que não tiveram formação formal – e isso não quer dizer nada, pois elas podem ser competentes. Mas tendemos a errar menos confiando em credenciais“, ressalta Massaro.
Desconfie de vínculos
Outro ponto importante é saber que podem existir conflitos de interesse.
“Procure identificar quando a pessoa recomenda algo quando ela está comprada naquele papel no fundo dela, faz manifestações políticas ou promove instituições financeiras com um clima de remuneração nebuloso. Veja também se o canal de comunicação da pessoa é vinculado a algumas instituições”, explica o especialista em finanças.
Cuidado com as ações de destaque no Twitter
Quando uma ação passa a ser muito comentada nas redes, não significa que se trata de uma boa oportunidade. Isso porque as ações muito comentadas costumam já estar precificadas. Ou seja, quando viram assunto, o preço já subiu, e o investidor pode entrar tarde demais em um ativo já valorizado.
Além disso, as ações mais famosas do momento tendem a ser mais polêmicas e estarem passando por um momento de maior volatilidade quando expostas um escrutínio mais amplo.
Um caso recente foi a GameStop, que teve seu preço artificial e deliberadamente elevado com o movimento de diversos investidores pequenos, também chamado de short squeeze.
A influência das redes no preço dos ativos já foi até objeto de estudo. Um deles é o Predicting Financial Markets: Comparing Survey, News, Twitter and Search Engine Data, da Universidade de Indiana. A análise identificou alguma correlação direta de volatilidade com o volume de informações extraído da rede e de pesquisas em mecanismos de busca.
“Descobrimos que antes do movimento altamente descendente do Dow Jones no final de julho e Agosto de 2011, os volumes de tweets de termos financeiros começaram a aumentar várias semanas antes do que os volumes do Google. Esta indica um ganho potencial de eficiência do Twitter”, diz o artigo.
Alguns dos maiores perfis da rede
Confira o levantamento da Abacus Liquid, do fim de 2020, com os maiores perfis da rede, com mais de 80 mil seguidores, e suas datas de criação:
Perfil | @ | No Twitter desde | Número de seguidores |
---|---|---|---|
Samy Dana | @samydana | abril de 2009 | 171.800 |
Henrique Bredda | @hbredda | abril de 2016 | 171.200 |
Thiago Nigro | @ThiagoNigro | abril de 2010 | 146.100 |
Pablo Spyer | @PabloSpyer | março de 2014 | 111.800 |
Faria Lima Elevator | @FariaLimaElevat | maio de 2018 | 107.500 |
Tiago Guitián Reis | @Tiagogreis | março de 2014 | 91.400 |
Em um tier abaixo, constam os perfis que ganharam muita relevância nos últimos meses, mas não ultrapassaram a marca de 80 mil seguidores até o levantamento (em dezembro).
Perfil | @ | No Twitter desde | Número de seguidores |
---|---|---|---|
Helô Cruz | @helocruz | abril de 2010 | 59.800 |
Favelado Investidor | @faveladoinvest | julho de 2019 | 57.000 |
Sérgio Machado | @sf2invest | junho de 2016 | 54.700 |
Luciana Seabra | @luciana__seabra | maio de 2009 | 54.200 |
Ricardo Schweitzer | @_rschweitzer | outubro de 2016 | 52.200 |
Raphael Figueredo | @RaphaFigueredo | agosto de 2009 | 51.600 |
Alan Ghani | @Alanghani | outubro de 2009 | 49.600 |
Otavio (Tavi) Costa | @TaviCosta | junho de 2014 | 48.000 |
Marilia Fontes | @mariliadf2 | janeiro de 2016 | 47.900 |
Fernando Ulrich | @fernandoulrich | setembro de 2010 | 46.100 |
Adeodato Volpi Netto | @datonetto | novembro de 2009 | 46.000 |
Renato Breia | @rbreia | julho de 2009 | 44.500 |
JL Braga | @jlbraga | março de 2009 | 43.900 |
tecomedina | @tecomedina | junho de 2011 | 40.300 |
Outros perfis que estão cada vez mais ganhando relevância:
- Felipe Tadewald / @FelipeTadewald/ Novembro de 2019 / 31.900 seguidores
- Professor Baroni / @ProfessorBaroni/ Agosto de 2018 / 24.700 seguidores
- Alberto Amparo/ @albertoamparo / Novembro de 2009 / 6.393 seguidores
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