Inflação segue em alta e BC deve manter juros elevados, dizem especialistas
O IPCA-15 registrou alta de 0,43% em abril, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este resultado está em linha com as expectativas do mercado, que previam uma variação mensal semelhante. Mas alta dos alimentos ainda preocupa, levando o Banco Central (BC) a manter sua postura conservadora na eleção dos juros. A Selic atualmente está em 14,25% ao ano.

O acumulado do IPCA-15 já soma 2,43% em 2025, enquanto a variação em 12 meses atinge 5,49%. No mesmo período do ano passado, a taxa foi de apenas 0,21%. Essa performance evidencia um cenário inflação em um contexto de pressões que impactam tanto o consumo doméstico quanto as expectativas de políticas monetárias.
A variação de 0,43% do IPCA-15 foi acima da projeção de 0,41% da AZ Quest, impulsionada principalmente por surpresas nos itens voláteis, como higiene pessoal e alimentação a domicílio, que continuam a pressionar a inflação.
O economista-chefe da gestora, Lucas Barbosa, destacou que a inflação em 12 meses para a alimentação no domicílio alcança 8%, indicando que essa categoria permanece como um desafio tanto para os consumidores quanto para as análises econômicas.
Ele argumenta que, embora haja indícios de desaceleração na inflação de serviços, que se apresenta em 0,55% para o mês, a inflação acumulada nos últimos 12 meses nesta categoria é de 6,40%.
Inflação ainda incomoda e Selic deve continuar em patamares elevados
Barbosa ressalta que a continuidade de surpresas negativas nos preços de curto prazo exige que o Banco Central mantenha sua postura conservadora, elevando os juros, uma vez que os principais itens da cesta seguem acima da meta estabelecida.
O ambiente econômico demanda que o Banco Central continue vigilante e conservador em suas decisões, mantendo os juros elevados para lidar com as incertezas inflacionárias.
Na visão de Flávio Serrano, economista-chefe do BMG, os números do IPCA-15 são compatíveis com uma inflação anualizada próxima a 6%, muito superior à meta de inflação de 3% no Brasil.
Por isso, o economista ainda alguma volatilidade do IPCA derivada dos preços dos alimentos e de energia elétrica, que podem voltar a subir por conta do provável acionamento da bandeira amarela nos próximos meses.
Influência dos grupos “alimentação e saúde”
O avanço do IPCA-15 foi amplamente influenciado pelos grupos de alimentação e bebidas, que registrou uma variação de 1,14%, e Saúde e cuidados pessoais, com 0,96%.
Juntos, esses segmentos representaram 88% do índice geral. A alimentação no domicílio também apresentou um aumento, passando de 1,25% em março para 1,29% em abril, impulsionada, em parte, pelas altas expressivas em produtos como tomate (32,67%) e café moído (6,73%).
A alimentação fora do domicílio também percebeu uma aceleração, atingindo uma taxa de 0,77%. Essa elevação reflete o aumento nos preços de lanches e refeições, o que pode impactar diretamente o orçamento das famílias e, por consequência, o consumo em setores relacionados.
No entanto, o grupo Transportes, que foi o único com resultado negativo (-0,44%), influenciou o índice geral com a significativa queda das passagens aéreas, que recuaram 14,38%. Essa diminuição teve um impacto negativo de -0,11 p.p. no índice. Os combustíveis também registraram variações negativas, com destaque para o etanol e o gás veicular.