De volta aos anos 80: inflação nos EUA chega a 8,5% em 12 meses e pressiona juros
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA subiu 1,2% em março, comparado a fevereiro, segundo dados publicados nesta terça-feira (12) pelo Departamento do Trabalho Americano.
O resultado superou levemente a expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam alta de 1,1% no mês passado. Já na comparação anual, o CPI dos EUA deu um salto de 8,5% em março, o maior desde dezembro de 1981 e acima da projeção de alta de 8,4%.
Apenas o núcleo do CPI, que exclui os itens voláteis, como preços de alimentos e energia, avançou 0,3% na comparação mensal de março. Em termos anuais, o incremento foi de 6,5 no mês passado.
O consenso do mercado esperava um acréscimo maior na comparação com fevereiro, de 0,5%. Em relação à comparação anual, os dados vieram de acordo com o previsto, o que significa a maior alta desde agosto de 1982.
Segundo Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira, o CPI americano veio em linha no número cheio e o núcleo um pouco abaixo do esperado, o que dá uma falsa impressão de que o mercado americano tem as coisas sob controle.
Mas não, indica Oliveira. Para ele, o mercado já trabalha com uma alta de 50 pontos na próxima reunião do Fed.
Inflação nos EUA deve endurecer o tom do Fed em maio
Marília Fontes, analista de renda fixa e sócia-fundadora da Nord Research, também indica que a inflação subiu menos do que o esperado pelos analistas na comparação mensal, e o esperado em relação ao núcleo do CPI. Mas, a especialista destaca que isso não significa que o país entrou em uma tendência de queda, pelo contrário.
“Os núcleos de serviço continuam subindo (+4,7%), bem como os núcleos de bens industriais (+11,70%). Além disso, o índice de difusão (que aponta o percentual de itens com aumento de preços) segue pressionado e mostra um espalhamento da alta dos preços nos EUA”, indica, em comentário.
Oliveira, da Quantzed, também faz suas ressalvas: “Estamos falando de uma inflação em 8% [nos EUA] sendo que a meta é 2%. Ou seja, os juros vão subir mais rápido lá do que a gente esperava e vamos ter efeito secundário no Brasil, já que temos inflação alta e talvez o BC não consiga parar de subir os juros por aqui na próxima reunião [do Copom]. É um momento bem delicado com tudo que está acontecendo”.
Diretora diz que Fed vai apertar política monetária de modo metódico
Diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Lael Brainard afirmou nesta terça-feira que a inflação continua “muito elevada” nos Estados Unidos, mas também notou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de março, publicado mais cedo, mostrou desaceleração “digna de nota” em seu núcleo. Ela falou em entrevista virtual no evento Wall Street Journal Jobs Summit, mas não quis adiantar se poderia ou não defender uma alta de 50 pontos-base na reunião de política monetária de maio, mas disse que o Fed conduzirá um aperto “metódico, com uma série de altas” nos juros.
Com direito a voto nas decisões de juros e indicada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para a vice-presidência do Fed, Brainard destacou que energia e alimentos foram os grandes responsáveis por puxar para cima a inflação de março, sobretudo a primeira, com a guerra na Ucrânia.
Ela enfatizou, porém, que não dá tanto peso a apenas um dado e disse que continuará a monitorar os próximos números.
Brainard afirmou que a recuperação econômica dos EUA deve se sustentar, mesmo com o aperto monetário. E notou que a própria comunicação do Fed já contribuiu para um aperto nas condições financeiras.
Ela disse estar atenta às curvas de juros dos Treasuries, mas ponderou que nem toda inversão significa necessariamente risco de contração econômica e que os indicativos mais aceitos para isso continuam a não mostrar inversão.
A diretora do banco central dos EUA afirmou que uma guerra extensa da Rússia criaria mais riscos econômicos. O conflito na Ucrânia já traz riscos de alta para a inflação e de baixa para a atividade, e a invasão russa tem “contribuição importante” para as pressões inflacionárias atuais, disse ainda.
Com informações de Estadão Conteúdo.