Com inflação no radar, Copom deve elevar Selic pela primeira vez em 6 anos

Começou, nesta terça-feira (16), a nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado do BC divulgará na próxima quarta-feira (17) o rumo da taxa básica de juros da economia (Selic) — possivelmente elevando-a pela primeira vez em seis anos.

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De forma majoritária, o mercado aguarda uma elevação de 0,5 ponto percentual, levando a Selic para 2,50%. A última vez em que o Copom decidiu pelo aumento da taxa foi em junho de 2015, quando ela passou de 13,75% para 14,25%. Esse patamar foi mantido até 2016, ano em que o ciclo de queda foi iniciado.

Naquele ano, a inflação estava galopante — foi o primeiro ano desde 2002 que o aumento de preços atingiu dois dígitos, a 10,67%. Neste ano, a preocupação é a mesma, mas em proporção diferente.

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Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), chamado inflação do aluguel, tem sua maior variação desde 2003, com oscilação de 29% nos últimos 12 meses. O mesmo ocorre com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País. O indicador fechou 2020 a 4,52%, acima do centro da meta. Esse foi o maior resultado desde 2016.

Uma das principais razões desse movimento é a forte valorização das commodities desde o início da pandemia do novo coronavírus. A “bela adormecida” da economia mundial, a inflação, parece ter voltado de vez.

Ciclo de queda da Selic. Fonte: BC/Reprodução: SUNO Notícias

Copom deve elevar Selic para limitar riscos, diz BNP Paribas

A situação econômica brasileira parece estar em maus lençóis. Para o BNP Paribas, o Produto Interno Bruto (PIB) deve cair no primeiro trimestre deste ano, com o avanço do coronavírus no País. No fim do ano, a economia terá crescido 2,5%, na visão do banco, mesmo com a alta dos preços.

“Além disso, como resultado de um aumento mais acentuado do que esperávamos anteriormente nas commodities, revisamos nosso preço ao consumidor no final de 2021, com previsão de inflação de 4% para 5%”, diz a instituição. Neste cenário, o aumento de preços ficaria bem próximo do teto estipulado pelo CMN, de 5,25%.

“Para limitar o risco de que as expectativas de inflação se tornem não ancoradas, esperamos que o Copom eleve a Selic em 50 pontos-base em março e para 5,5% até o fim do ano”.

Entretanto, esse movimento faz com que outra preocupação seja trazida à mesa. Atualmente, a dívida pública federal do País gira em torno de R$ 5,05 trilhões. Do total, cerca de 35% da dívida está ligada à taxa de juros pós-fixada.

Partindo do patamar atual, um aumento de 3,5 pontos percentuais na Selic até o fim do ano significaria uma elevação de R$ 62,5 bilhões na dívida pública — quase 1% do PIB.

Divisão da dívida pública federal. Fonte: Tesouro Nacional.

O cenário para os próximos anos também não está nada amigável. A curva de juros tem inclinado nos últimos meses. Nesta terça-feira, o mercado precifica uma Selic a 6% em janeiro de 2023 e de 7,85% no começo de 2027.

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Dólar nas alturas também é alvo

A alta da Selic também pode servir como forma de atenuar a depreciação do real. Uma das maneiras de política monetária para controlar a variação da moeda, a dita flutuação suja do câmbio, é aumentar a taxa de juros para reter mais dólares dentro do País. Neste ano, o dólar já subiu 7% frente ao real. Nos últimos 12 meses, a alta é de quase 15%.

“A contínua deterioração fiscal faz com que o real tenha um desempenho inferior em comparação aos pares frente ao dólar”, diz o banco. Para a instituição essa situação é intensificada com a ameaça de alta nas taxas de juros nos Estados Unidos.

Em janeiro, ao manter a Selic em 2%, o Copom preparou o terreno para o início do ciclo de alta dos juros. Isso porque a instituição deu fim ao chamado forward guidance, utilizado para fomentar a economia em meio aos impactos da pandemia.

Adotado em agosto, a ferramenta era uma indicação técnica de que a autoridade monetária não pretendia elevar os juros se a inflação seguisse sob controle e o risco fiscal não se alterasse. O cenário para o Copom, contudo, mudou drasticamente.

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Jader Lazarini

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