A trajetória de juros baixos no Brasil nos últimos dois anos animou o setor de construção civil a captar dinheiro através de IPOs (Ofertas Públicas de Ações, em inglês) para dar suporte a um mercado aquecido. Mas os ruídos políticos que aumentam a volatilidade da Bolsa, agora, fazem com que as incorporadoras representem cerca de 40% das desistências de novas ofertas.
Das 22 desistências registradas até agora pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), nove são de incorporadoras que haviam entrado com o pedido de IPO, mas acabaram por abrir mão da abertura de capital neste ano.
As incorporadoras que desistiram da abertura de capital até o momento são:
- Tegra Incorporadora
- Kallas Incorporações e Construções
- Yuni Incorporadora Holding
- CFL Inc
- Urba Desenvolvimento Urbano
- Nortis Incorporadora e Construtora
- EZ Inc Incorporações Comerciais
- Canopus Holding
- Emcamp Residencial
Para Lucas Akira, analista da Absolute Investimentos, houve uma euforia que tomou conta do setor com a perspectiva dos juros baixos e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em alta. No entanto, com a alta volatilidade, os agentes do mercado pediram um preço menor ou uma fatia maior da empresa, o que desagradou os sócios.
“A incorporadora, para ser estável, tem que ter um market cap de R$ 1 bilhão para cima. Mas, para isso, em um mercado como o atual, a diluição dos sócios das incorporadoras seria grande. No começo do ano passado, começou a ter um boom de incorporadoras, com o mercado chamando muitas empresas para conversar e colocar o IPO na rua”, afirmou.
O que vale para uma, vale para a outra. De acordo com Elias Wiggers, do escritório EQI, há um certo efeito manada nas desistências, com o mercado, agora, sinalizando que não está positivo para novas entrantes deste setor.
“As construtoras se conversam, já que esse mercado não é tão grande assim. Às vezes tem uma decisão, o mercado observa tudo e as concorrentes contratam até mesmo os mesmos profissionais para ir também para a Bolsa. Agora, se uma desiste, há um efeito manada ao contrário do mesmo que fez com que as construtoras fossem à Bolsa”, disse.
Crise e juros também afetam incorporadoras
Segundo o analista da EQI, a crise causada pelo novo coronavírus (covid-19) e os ruídos políticos no Brasil, que sacodem a Bolsa, também fazem com que as companhias desistam da listagem.
“Acho que isso ainda é esteira de 2020. Em 2021, a coisa degringolou com as demais ondas [de covid] e isso traz uma certa apreensão para quem busca entrar no mercado, que quer um bull market”, afirmou.
Para Tiago Pessotti, estrategista-chefe da APX, além dos debates do Orçamento e dos problemas do ambiente fiscal brasileiro, há também o efeito de alta dos juros futuros, que estão em um patamar elevado devido à crise no País.
“É isso que afeta o mercado imobiliário e o financiamento. Essa taxa de juros saiu de 6,5% em janeiro para 9,5% hoje e isso traz um cenário mais desafiador para incorporadoras, por conta de um cenário de uma variável que impacta o custo de financiamento e diminuir a quantidade de vendas do setor”, disse sobre as incorporadoras.