O ano de 2020 pode ser o ponto de inflexão para a sociedade. A chegada do coronavírus (covid-19) e os protestos antirracistas mexeram com bases solidificadas há tempos. As empresas, como parte do todo, não escaparam. Se para algumas, a crise pode vir a ser fatal, para outras, o “novo mundo” deve ser positivo. É o caso da Incognia, nova empresa oriunda da já conhecida Inloco.
A Inloco, que oferece soluções de marketing baseadas em geolocalização, é uma das companhias que deve sair diferente da pandemia. A estratégia para esse produto foi deixada em segundo plano dado o lançamento da Incognia, que auxilia empresas financeiras e e-commerce a evitar fraudes.
“Chegou o covid-19 e teve um impacto gigantesco no nosso negócio de marketing. A tecnologia era puramente por aplicativos do varejo físico que podiam se relacionar com usuários a medida que eles iam entrando nas suas lojas. Isso acabou”, conta André Ferraz, CEO da Incognia.
Sem receita, o jeito (obrigatório) foi mudar. “Nós, então, mudamos o modelo de negócio, e colocamos toda a energia no negócio de segurança, que cresce tanto pela migração ao digital, quanto pelo aumento de fraudes nesse período”, disse o CEO.
Fundada em 2010 por oito alunos de ciência da computação na Universidade Federal de Pernambuco, a empresa realocou 85% dos 136 funcionários que trabalham na sede localizada no Porto Digital -local que abriga diversas startups no Recife, no novo business.
Como já mirava o mercado americano desde o ano passado com a Inloco e um investimento de US$ 20 milhões dos fundos Valor Capital e Unbox Capital, conforme revelou a “Exame”, a Incognia optou por focar nos EUA, dado a maior digitalização.
“Nosso pipeline de vendas quentes, temos em proposta ativa de duas vezes o faturamento da Inloco no ano passado. Foi uma loucura esses últimos dois meses”, afirmou ele, apesar de não abrir os números da empresa em 2019.
Incongnia surfa onda de segurança com migração para online
Um dos pontos de dor de instituições financeiras ocorre com fraudes financeiras. Segundo a Incognia, só o prejuízo acerca de roubos de contas está projetado em US$ 26 bilhões neste ano.
Como forma de gerar mais segurança e privacidade, a Incognia não busca captar dados sensíveis, como endereço e CPF, mas captará informações como o jeito de utilizar o celular, os locais que essa pessoa frequenta e, com isso, criará uma “persona” online.
Caso alguém com características diferentes da construída em sua “persona” tentar acessar o celular, a empresa conseguirá identificar a fraude.
“Na prática, se eu descobrir sua senha no banco e tentar acessar sua conta, vamos perceber que o meu comportamento físico é diferente do seu. Então o banco contrata e paga alguns centavos por mês para a gente segurar a conta”, disse André.
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“Os locais que eu frequento e uma rotina estabelecida. Nós conseguimos capturar através dos sensores e [esses dados] são utilizados para verificar. Isso não é para gravar por onde você andou, mas sim o quão único é o seu comportamento”, completou.
No futuro, além do celular, a internet das coisas também deve auxiliar na captação desses movimentos e na formação dessas “personas”, criando uma base de dados criptografada.
Busca por sistema não racista auxilia startup
Outro ponto que voltou à mesa de discussões desde o assassinato do americano George Floyd, negro, por um policial branco nos EUA foi o racismo. De acordo com o CEO da Incognia, outro ponto que a empresa de segurança foca é em criar um modelo que não dê margens a comportamentos racistas.
A IBM, por exemplo, anunciou na semana passada que desistiu de vender a tecnologia de reconhecimento facial como instrumento de segurança às empresas. O motivo seria a possibilidade de restrição de liberdades individuais e o sistema poder carregar influências racistas em sua análise.
“O sistema [da Incognia] não sabe sua idade, a cor da sua pele, seu gênero, então ele não tem nenhuma informação que pode ser usada para lhe discriminar de alguma forma. É um dos grandes pilares que carregamos para trazer a nova proposta de um sistema de autenticação que respeite mais as liberdades individuais”, disse André Ferraz.
Se o coronavírus (covid-19) e os protestos causados por problemas da sociedade forjaram realmente um novo normal ainda é dúvida, mas a Incognia espera conseguir fazer parte do mundo que sair dessa turbulência.