Ibovespa cai 1,73% com temor pela inflação e exterior negativo; Banco Inter (BIDI11) sobe 4%
O Ibovespa encerrou em queda de 1,73%, atingindo 118.723,97 pontos, em meio ao medo da escalada da inflação (registrada em índices como o IPCA-15) e notícias que apontam o agravamento da crise hídrica — que também pode acentuar a alta de preços.
“[A crise hídrica] agravou-se muito com a falta de chuva e deve continuar sendo um elemento de pressão nos próximos meses”, disse o presidente do BC Roberto Campos Neto ontem em evento online promovido por uma empresa de investimentos financeiros. Sobre a inflação dos serviços, ele disse que o grande risco está no fato de que a recuperação ocorre de forma distinta entre os setores, criando desequilíbrios temporários.
Com o desempenho de hoje, maior queda diária do mês, o indicador passa a acumular perda de 3,08% em agosto.
O índice foi afetado também pelo clima de cautela e pessimismo no exterior, com apreensão antes do simpósio em Jackson Hole, em que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) devem sinalizar as direções quanto à redução dos estímulos à economia.
As bolsas lá fora foram impactadas ainda pelo terror e tensão no Afeganistão, que registrou atentados com dezenas de vítimas.
O Dow Jones caiu 0,54% (35.213,12 pontos), o S&P 500, perdeu 0,58% (4.469,91) e o Nasdaq recuou 0,64% (14.945,81).
Com perdas mais visíveis em Nova York, o Ibovespa aumentou o ajuste à tarde, aprofundado à medida que S&P 500 e Nasdaq renovavam mínimas, nesta véspera de aguardado discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no encontro anual promovido pelo Fed em Jackson Hole – a expectativa por novas sinalizações sobre retirada de estímulos monetários nos EUA justificava a cautela vista desde cedo no exterior.
O clima de ‘tapering’ ganha força já nesta véspera de Powell, nos comentários de outras autoridades do Federal Reserve, inclusive da anfitriã da reunião anual de Jackson Hole, a presidente do Fed de Kansas City, Esther George, da ala “hawk” do BC americano.
Cenário doméstico
Assim, desdobramentos até positivos no cenário doméstico, como o início de costura de solução legal para os precatórios e sinais de que a autonomia do BC será mantida por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), ficaram em segundo plano no Ibovespa, com a aversão a risco observada desde o exterior.
“Hoje o mercado realizou, tirando o pé, ajustando-se à possibilidade de Powell entrar amanhã com sinalização de ‘tapering’ retirada de estímulos monetários, tendo precificado antes que não viria nada em Jackson Hole. Localmente, pesou a insistência de Arthur Lira presidente da Câmara, de colocar em votação a reforma (do IR)”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, lembrando que a priorização sinalizada recentemente por Lira à reforma administrativa, e não à fiscal, havia animado o mercado.
Miraglia chama atenção também para a contagem regressiva para o 7 de setembro, evento que ganhou relevância como há muito não se via, em função da crise entre os Poderes. No fim da tarde, contudo, Lira recuou da disposição de tentar recolocar a reforma do IR em votação na próxima semana, ao dizer que o assunto só voltará à pauta quando houver conversa e cada partido expressar o que defende.
Pressão fiscal e Caged influenciam o Ibovespa
Nem mesmo o dado positivo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), acima da expectativa do mercado, segurou a cotação do Ibovespa hoje. Os investidores seguiram apreensivos diante da notícia de que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) poderá poderá reajustar novamente a bandeira vermelha 2, elevando os níveis de inflação.
“O Ibovespa ainda reage às pressões fiscais, mesmo com certo arrefecimento de tom entre os Poderes nos últimos dias e com o dado positivo do Caged, hoje, com criação de 316 mil empregos (em julho). Além da expectativa amanhã para o Powell, os dados americanos de hoje, sobre o PIB segunda leitura do segundo trimestre e os pedidos semanais de auxílio-desemprego, vieram pior do que o esperado”, diz Breno Bonani, especialista da Valor Investimentos, destacando que a Bolsa brasileira segue muito descontada em relação as de outros países que voltam a crescer, entre os emergentes. “Brasil está sendo negociado com desconto de 64% frente ao P/L dos Estados Unidos, um desconto que historicamente fica em 33%”, acrescenta.
“No dia de hoje, a ausência de turbulência política também foi o suficiente para fazer a taxa de juros futuras cair – mesmo com bolsas caindo,” afirmou João Beck, economista e sócio da BRA. “É difícil usar a palavra realização, quando a bolsa não tem entregue valorizações tão expressivas nos últimos meses e vem andando de lado.” Segundo o especialista, a Bolsa brasileira opera em níveis baratos por diversas métricas de avaliação e poderia registrar uma valorização que corrija essa distorção.
Movimentação do Ibovespa hoje
O dia foi especialmente negativo para construtoras e empresas de shoppings. As ações de MRV (MRVE3), Eztec (EZTC3) e Cyrela (CYRE3) recuaram 3,8%, 4,2% e 5,9%, respectivamente. Ao mesmo tempo, Iguatemi (IGTA3), brMalls (BRML3) e Aliansce Sonae (ALSO3) caíram 5,3%, 3,5% e 3,1%.
O peso sobre o Ibovespa hoje, no entanto, foi maior devido às quedas de Itaú Unibanco (ITUB4), que perdeu mais de 2%, além de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), os quais caíram perto de 1%.
A ação do Banco Inter (BIDI11) liderou as poucas altas do índice acionário, subindo 4,6% após uma forte baixa no dia anterior e a divulgação do ambicioso valuation do Nubank, entre US$ 75 e US$ 100 bilhões.
Maiores altas do Ibovespa
As maiores altas do Ibovespa no dia de hoje foram:
- Banco Inter (BIDI11): +4,56% / R$ 67,12
- Lojas Americanas (LAME4): +2,41% / R$ 5,95
- Americanas (AMER3): +1,91% / R$ 43,23
- Weg (WEGE3): +1,07% / R$ 36,77
- Cogna (COGN3): +0,29% / R$ 3,40
Maiores baixas do Ibovespa
As maiores baixas do Ibovespa no dia de hoje foram:
- Cyrela (CYRE3): -5,94% / R$ 19,94
- Iguatemi (IGTA3): -5,28% / R$ 35,15
- Ultrapar (UGPA3): -5,25% / R$ 14,63
- PetroRio (PRIO3): -4,55% / R$ 18,06
- Eztec (EZTC3): -4,25% / R$ 27,01
Notícias que movimentaram a bolsa de valores
- Fed defende retirada de estímulos em 2021
- Solução de precatórios virá por via jurídica ou PEC
- Pfizer e Eurofarma fecham acordo
Dirigente do Fed defende iniciar retirada de estímulos ainda em 2021
A presidente da distrital do Fed em Kansas City, Esther George, defendeu que a autoridade monetária inicie em breve, ainda em 2021, a retirada de estímulos, processo conhecido como “tapering“.
Em entrevista à Fox Bussiness, a dirigente do Fed afirmou que a diminuição do relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) deve começar “mais cedo do que mais tarde”, em meio a leituras elevadas de inflação e desequilíbrios no mercado imobiliário residencial dos Estados Unidos.
A maioria dos integrantes do comitê de política monetária do Fed avaliou que uma redução “proporcional” na compra de Treasuries e de títulos lastreados em hipotecas (MBS, na sigla em inglês) seria benéfica para a economia americana.
Para Guedes, solução de precatórios virá por via jurídica ou por meio da PEC
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que confia que a “inconsistência” em relação ao pagamento de precatórios será resolvida com alguma solução jurídica ou política, por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) enviada pelo governo ao Congresso.
Segundo Guedes, o chefe da pasta poderia tentar negociar uma solução para 2022, como fizeram outros governos, mas o governo quer uma solução duradoura, que dê previsibilidade. “Ou temos que parcelar ou temos que colocar um teto nesses gastos.”
A inconsistência se revela, diz Guedes, pois se paga os precatórios em sua totalidade irá descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e o teto de gastos, mas também não pode deliberadamente não cumprir com esses compromissos.
Pfizer e Eurofarma fecham acordo para produção de vacina no Brasil
A Pfizer (PFIZ34) e BioNtech assinaram um acordo com a Eurofarma Laboratórios para fabricar a vacina contra Covid-19 no Brasil, com a distribuição exclusiva na América Latina.
A empresa receberá o produto das instalações nos Estados Unidos. Dessa forma a Eurofarma começará a fabricar as doses prontas a partir de 2022. A produção anual deverá exceder 100 milhões de doses.
Será a terceira vacina contra a Covid fabricada em território nacional. A CoronaVac, da Sinovac, é produzida em parceria com o Instituto Butantan (SP). Já a vacina da AstraZeneca/Oxford é feita pela Fiocruz (RJ).
Desempenho dos principais índices
Além do Ibovespa, confira o fechamento dos principais índices da bolsa hoje:
- Ibovespa hoje: -1,73% / 118.723,97
- IFIX hoje: +0,10% / 2.723,55
- IBRX hoje: -1,63% / 50.881,79
- SMLL hoje: -2,25% / 2.867,77
- IDIV hoje: -1,73% / 6.718,52
Última cotação do Ibovespa
De forma distinta ao Ibovespa hoje, o índice acionário encerrou as negociações na última quarta com uma alta de 0,50%, aos 120.817,71 pontos.
(Com Estadão Conteúdo)