Ibovespa engrena e tem rali com volta do investimento estrangeiro. O que mais impulsiona a alta na Bolsa?

O Ibovespa retomou os 127 mil pontos em novembro e agora busca as máximas históricas. Entenda o que vem motivando o recente rally na bolsa.

Em novembro, o Ibovespa engatou altas consecutivas e retomou os 127 mil pontos pela primeira vez desde julho de 2021. Agora, o índice tenta renovar a máxima histórica, de 131.190 pontos, alcançada em junho daquele mesmo ano.  

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Ao longo de novembro, o índice da B3 acumula alta de mais de 12 mil pontos, uma vez que abriu o mês cotado a 113.157. Chegou à pontuação de 127 mil pontos e teve a maior alta mensal em três anos. A escalada foi rápida. Mas não aconteceu por acaso.

Esse otimismo cresce na esteira de alguns sinais. Uma pesquisa da XP para o mês de novembro, por exemplo, aponta que o apetite por investimento em ações do índice-referência da bolsa brasileira teve uma significativa melhora. Segundo o levantamento, houve um aumento de 37% para 40% dos assessores indicando que seus clientes planejam aumentar a exposição em renda variável

E não foram só os investidores brasileiros que retornaram à bolsa. Uma das principais chaves para entender o atual contexto é o fato de que o investidor estrangeiro voltou a aportar seus recursos no mercado brasileiro. Em novembro, segundo dados da B3, o “gringo” já aportou cerca R$ 16 bilhões no Ibovespa, contra um saldo negativo de R$ 2,866 bilhões em outubro.

Essa retomada do apetite pelo risco e, em especial, pelo mercado acionário brasileiro, é explicada a partir de alguns pontos principais:

Dados econômicos dos Estados Unidos

“O Ibovespa mudou de patamar de preço depois que os dados de inflação ao consumidor e ao produtor ficaram abaixo do consenso nos Estados Unidos”, afirma Gabriel Brondi, CFG e analista de risco mercado e liquidez.

De fato, o fôlego do Ibovespa começou a aumentar no início do mês, quando o CPI, índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos, apresentou estabilidade em outubro ante setembro, enquanto o consenso previa uma alta de 0,10%.

Esse número gerou perspectivas mais favoráveis no que diz respeito à inflação nos Estados Unidos, tema que vinha sendo um dos mais caros ao mercado global.  

O reflexo imediato se dá nos treasury yields, ou rendimentos dos títulos do tesouro norte-americano. Essa taxa indica qual é a expectativa futura do mercado quanto aos juros do país. Logo, se os dados indicam uma inflação mais controlada, o mercado começa a precificar uma queda nos juros à frente.

Ibovespa e o arrefecimento dos treasury yields

“Os Estados Unidos apresentaram dados de inflação e emprego melhores do que o esperado durante todo o mês de novembro, e isso fez com que alguns membros do Fed adotassem um tom mais positivo. Consequentemente, a taxa de juros no longo prazo caiu por lá, com o mercado já precificando um corte de juros para o início do ano que vem”, diz Apolo Duarte, head da mesa de renda variável da AVG Capital.

Aportar recursos nos títulos do tesouro americano é considerado um dos investimentos mais seguros do mundo. A partir do momento em que esses títulos pagam uma taxa atrativa, o custo de oportunidade de se investir em ativos de risco se mostra favorável.

Ou seja, em vez de aportar recursos no Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq, o investidor prefere deixar o seu dinheiro na renda fixa americana, que tem retorno “garantido” e paga uma boa taxa. Nesse cenário, deixar dinheiro em um mercado emergente como o Brasil, então, nem pensar. 

No entanto, quando essa taxa começa a baixar, motivada pelas expectativas de corte nos juros americanos, o investidor volta a olhar para a renda variável, gerando assim um apetite pelo risco.

“Ainda que a acomodação da inflação não seja muito expressiva, a gente vê um reflexo nas treasuries, que estavam acima dos 5% e agora já estão em cerca de 4,30%. Isso gera uma liquidez positiva para ações, para risco”, explica Bernard Faust, sócio da One Investimentos.

Cenário econômico brasileiro também impulsiona Bolsa

O Brasil é um mercado emergente, a exemplo de México, Rússia e Turquia, por exemplo. E em meio a esse contexto de apetite global pelo risco, o país se destaca entre os pares sobretudo pela Selic estar em trajetória de queda, com o Banco Central indicando que vai manter a magnitude de corte de 50 pontos-base nas próximas reuniões do Copom.

“Ainda que esteja longe do ideal, tivemos algumas condições macro melhores no Brasil: política monetária começando a fazer um efeito maior no que diz respeito à inflação, a queda de juros também contribuindo… Apesar do fiscal ainda apresentar pontos que precisam ser resolvidos”, comenta Duarte.

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“Tempestade perfeita”

Ou seja, os sinais econômicos dos Estados Unidos apontam para uma melhora da inflação. Consequentemente, o mercado precifica uma queda futura dos juros, o que resulta em queda nos treasury yields e gera um apetite pelo risco. E, ao olhar para o mercado global, o investidor estrangeiro vê no Brasil uma boa oportunidade entre os emergentes. 

“O otimismo no Ibovespa é impulsionado por fatores como a desaceleração econômica nos EUA, que alivia a inflação global, e a estabilização das taxas de juros pelo Fed, evitando a fuga de capitais de países emergentes como o Brasil para lá. Além disso, o investimento estrangeiro significativo na B3, especialmente em novembro, e a posição dominante do Brasil na América Latina em atrair investimentos estrangeiros, têm sido fundamentais para o recente avanço do mercado de ações brasileiro”, resume Pedro Lafraia, Sócio Diretor da L4 Capital.

O rali do Ibovespa deve continuar?

Em relatório, o Bank of America afirma que enxerga espaço para uma narrativa doméstica positiva daqui para frente, com as taxas dos EUA “finalmente descendo”.

Mas, para além disso, outras questões devem influenciar o desempenho do índice daqui até o final do ano. Para Apolo Duarte, essa resposta passa principalmente pelos temas fiscais brasileiros.

“Quando olhamos para múltiplos, os ativos no Ibovespa ainda estão muito defasados. Então a bolsa ainda teria que subir bastante para bater a média de múltiplo em P/L. Mas o mais importante nesse final de ano é a questão fiscal. Se ela for fechada, pode ser sim que o Brasil continue atraindo fluxo e que haja uma continuidade desse rali do Ibovespa em dezembro”, afirma. 

Bernard Faust, por sua vez, chama a atenção para o fato de que empresas com grande peso no índice já avançaram bem, o que pode gerar dúvidas sobre a continuidade da alta.

“Estamos vendo os juros futuros e os treasury yields cederem, então uma pontuação entre 130 e 135 mil pontos seria uma boa e otimista ótica para o índice. Passar disso talvez seja difícil, considerando que as grandes empresas já subiram muito e talvez não tenham mais muito espaço para avançar”, projeta.

Já de acordo com a análise técnica, o índice tem chances de buscar as máximas históricas:

“Para voltar aos 130 mil pontos, o Ibovespa vai depender dos próximos dados econômicos. Se a economia americana continuar mostrando sinal de arrefecimento, evidenciando que os juros estão fazendo efeito, o Ibovespa pode almejar esse patamar em breve. Inclusive, é possível que faça uma nova máxima histórica até o final deste ano”, analisa Brondi.

Quais setores tendem a se beneficiar?

De acordo com a pesquisa da XP, os setores do Ibovespa que vêm sendo mais procurados são os mais defensivos, como elétricas – Taesa (TAEE11), Eletrobras (ELET3), Alupar (ALUP11) -, saneamento – a exemplo de Sanepar (SAPR11), COPASA (CSMG3) e Sabesp (SBSP3) – e financeiro, entre as quais B3 (B3SA3), Itaúsa (ITSA4), Caixa Seguridade (CXSE3), BB Seguridade (BBSE3), Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4).

Pedro Lafraia destaca o segmento imobiliário, com perspectivas de menor custo nos financiamentos, em linha com a queda nos juros. O setor de utilidade pública também está na lista, por ser considerado mais estável e trazer segurança em tempos de incerteza econômica, enquanto o financeiro se beneficiou da recente temporada de balanços, com os bancos entregando resultados consistentes.

Para Apolo Duarte, as empresas de commodities – como CSN Mineração (CMIN3), CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5), Metalúrgica Gerdau (GOAU4) e Gerdau (GGBR4) – e podem continuar performando, com o petróleo em um bom nível de preço e o minério de ferro subindo em linha com as melhores condições de crescimento da China.

Já na visão de Bernard Faust, a vez agora é das mid-caps, tendo em vista que algumas das principais blue chips do Ibovespa, como Vale (VALE3), Petrobras (PETR4), Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) já andaram bastante durante o ano.

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Guilherme Serrano Silva

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