Ibovespa vira na reta final do pregão e tem a 8ª queda seguida no mês, aos 118 mil pontos; Petrobras (PETR4) sobe e Vale (VALE3) cai
Após ficar no positivo na maior parte da sessão desta quinta-feira (10), o Ibovespa virou na reta final e fechou em leve baixa de 0,05%, aos 118.349,60 pontos, com a mínima diária de 118.112,68 pontos e a máxima de 119.438,15 pontos.
O volume financeiro do dia foi de R$ 23,4 bilhões. No mês, o Ibovespa acumula oito sessões de queda.
O Ibovespa refugou no fim da tarde desta quinta-feira, 10, piorando em relação à Nova York, quando parecia a caminho de interromper sequência ruim, agora de oito perdas diárias, que coincidiu com o início de agosto. Nesta quinta, resistia em leve alta até pouco antes das 16h30, mas passou a testar baixa em direção ao fechamento do dia, igualando em extensão a série negativa de oito sessões, entre 3 e 14 de junho de 2022. A virada veio às 16h21, quando o Ibovespa assinalava -0,01% pela primeira vez na sessão.
Mais cedo, a sessão era pautada desde o exterior por estabilização na percepção de risco – na Ásia como na Europa e, em menor grau, nos Estados Unidos – em dia de atenção voltada a novos dados sobre a inflação norte-americana, após a decepção de quarta-feira com a deflação vista na China.
Apesar da série negativa acumulada neste primeiro terço de agosto, o Ibovespa não se distanciou muito de níveis recentes, com o fechamento desta quinta-feira ainda correspondendo ao menor patamar desde 20 de julho, então aos 118.082,90 pontos.
“Após sete perdas, a Bolsa subia timidamente hoje, acompanhando a alta moderada dos mercados nos Estados Unidos que chegou a ser revertida também perto do fechamento, contudo positivo ao fim; Dow Jones +0,15%, S&P 500 +0,03%, Nasdaq +0,12%, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Havia mais impulso pela manhã, com a divulgação do índice de inflação por lá, o que ajudou os investidores a pressupor o fim do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos – mas perdeu fôlego, ao longo do dia, a resposta aqui no Brasil”, acrescenta o analista, destacando, na sexta, a expectativa pela inflação doméstica, do IPCA, o que pode trazer volatilidade à B3 e também à curva de juros. “Dia de timidez e espera pelo dado de amanhã.”
O Ibovespa hoje terminou na direção oposta das Bolsas dos Estados Unidos, que tiveram alta
- Dow Jones: + 0,15%, aos 35.175,75 pontos;
- S&P500: + 0,03%, aos 4.468,91 pontos;
- Nasdaq: + 0,12%, aos 13.737,99 pontos;
O preço do dólar à vista fechou a sessão em baixa de 0,47%, atingindo a máxima de R$ 4,8821, após oscilar entre R$ 4,8418 e R$ 4,8938
Inflação nos EUA e Campos Neto no Senado
Nos EUA, o índice de preços ao consumidor (CPI) teve alta de 0,2% em julho, na margem, leitura que veio em linha com o consenso de mercado. Em 12 meses, o índice acumula alta de 3,2%, levemente acima do mês anterior, observa Gustavo Sung, analista-chefe da Suno Research. “A batalha não está vencida. A inflação está desacelerando nos Estados Unidos, mas alguns grupos merecem atenção. E o mercado de trabalho precisa continuar dando sinais de arrefecimento”, acrescenta Sung.
Nesse contexto, a leitura sobre a inflação norte-americana tende a subir no mês seguinte, agosto, como resultado do recente aumento nos preços da gasolina, e o Federal Reserve, assim como os investidores, devem manter o foco no núcleo – métrica que exclui fatores voláteis, como os preços de alimentos e de energia -, aponta em nota Greg Wilensky, head de renda fixa da Janus Henderson para Estados Unidos. “Apesar de o núcleo da inflação ter caído em relação a seus níveis mais altos, ainda está bem acima da meta de 2% do Fed para a inflação de longo prazo”, acrescenta.
Ainda assim, mesmo antes da divulgação do dado sobre os preços ao consumidor nos Estados Unidos, o índice VIX, uma métrica de volatilidade com base em opções sobre o S&P 500, considerada como um termômetro do medo em Wall Street, mostrava abrandamento desde cedo, em queda então de cerca de 1%, mostrando propensão dos investidores a risco na sessão, aponta Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos.
Com a moderação da percepção de risco desde o exterior, na B3 o desempenho do dia era puxado pelas ações de grandes bancos – que costumam estar entre as preferidas do investidor estrangeiro, assim como as de commodities -, cujo desempenho negativo no mês tem excedido, em geral, o próprio recuo do Ibovespa.
Nesta quinta, a tonelada do minério de ferro negociada em Dalian, China, voltou a fechar abaixo de US$ 100, cotada a US$ 99,09, em retração de 0,49% para o contrato da commodity mais líquido – o dia também foi de ajuste para os preços do petróleo Brent e WTI, ambos em baixa superior a 1% em Londres e Nova York.
Em audiência pública nesta quinta-feira no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC monitora a dinâmica de preços na China, país que em julho registrou sua primeira deflação desde 2021, o que resultou, na quarta-feira, em aversão a risco nos mercados globais.
“A deflação na China gerou grande preocupação no mundo. Se for um processo contínuo, vai assustar muito, em termos de países que negociam com a China”, afirmou Campos Neto.
Hoje, Petrobras (PETR4) registrou alta, com os papéis preferenciais da estatal crescendo 0,56% nesta sessão, cotados a R$ 30,63. Já as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) caíram cerca de 0,030%, a R$ 33,45. A Vale (VALE3) anotou queda de 1,18%, cotada a R$ 66,06.
A Vale foi enfraquecida por temores quanto à demanda chinesa por matérias-primas, em meio à tibieza da atividade econômica por lá. O dia vinha sendo de estabilização para o setor de commodities, mas o IMAT também refugou no fechamento (sem variação).
Entre as maiores quedas do Ibovespa hoje, figuram as ações do Grupo Soma (SOMA3). Após o resultado fraco do 2T23, a empresa despencou 7,68%. A 3R Petroleum (RRRP3) cedeu 4,96% e a Rede D’Or (RDOR3) negativou 4,92%.
As 3 maiores altas do dia foram de Azul (AZUL4), Braskem (BRKM5) e GOL (GOLL4), que subiram 9,83%, 6,84% e 6,27%, respectivamente.
No setor bancário, o Bradesco (BBDC4) reportou alta de 0,85%, cotado a R$ 15,46. O Itaú (ITUB4) fechou em alta de 0,33%, seguido pelo Banco do Brasil (BBAS3), que cresceu em 0,51%.
Por sua vez, o Santander (SANB11) teve queda de 0,29%.
Maiores altas e quedas do Ibovespa hoje
- Maiores Altas
- Maiores Baixas
O que movimentou o Ibovespa hoje?
Hoje, o Ibovespa ensaiou uma recuperação, mas fechou em baixa, de olho no cenário norte-americano. Por lá, o CPI Americano avançou 0,2% em linha com as previsões.
Segundo Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, o núcleo da inflação também mostrou certa estabilidade, evidenciando que o ritmo de crescimento pode estar desacelerando.
“Essa estabilidade pode sugerir a possibilidade de uma pausa no aumento das taxas de juros pelo Fed, mantendo inalterada a perspectiva sobre a política monetária”, diz o analista.
Entre os destaques positivos de hoje, a Azul subiu após reportar bons resultados no 2T23, reduzindo o prejuízo ajustado na comparação anual. Almeida cita como bons números o Ebitda e a receita operacional, que alcançou um recorde histórico de R$ 4,269 bilhões.
“A ação foi amplamente desvalorizada anteriormente devido aos efeitos da pandemia, valorização do dólar, aumento dos preços dos combustíveis e taxa de juros. Como resultado, qualquer dado positivo impacta significativamente sobre o preço da ação trazendo muita volatilidade”, explica Almeida.
A Braskem também subiu hoje, após os resultados trimestrais se mostrarem melhores do que o esperado, apesar do prejuízo líquido. No entanto, as reduções das despesas gerais e administrativas trouxeram certo otimismo aos investidores. “O desempenho das ações daqui para frente, na minha visão, poderá ser influenciado pelas atualizações sobre a possível venda da empresa, que ainda é altamente incerta e pode trazer alguns benefícios para os acionistas minoritários”, diz Almeida, que cita a participação da Novonor como exemplo.
Entre as quedas, a Soma divulgou um crescimento de receita relativamente fraco na marca Hering e mostrou desaceleração em comparação com os trimestres anteriores.
A Rede D’Or (RDOR3) também ficou no negativo hoje, influenciada pelas discussões sobre o fim do benefício fiscal do JCP (Juros Sobre Capital Próprio). “Isso ocorre porque a Rede D’Or tem utilizado um alto nível de payout (proporção dos lucros distribuídos aos acionistas) desde seu IPO e o fim do benefício do JCP poderia afetar essa estratégia de distribuição de lucros afetando o valuation da empresa”, aponta Almeida.
A Ultrapar (UGPA3) também enfrenta um dia de queda hoje, após um resultado operacional abaixo do esperado.
Por fim, Almeida destaca uma leve queda dos vértices curtos até 2028. “Declarações de hoje do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Senado, sobre a busca por uma “queda de juros estruturada” de forma consistente e com credibilidade, impactam nos vértices mais curtos da curva. Ele reforçou a preocupação com a inflação e mostra que o BC está disposto a atingir a meta da inflação 24/25”, conclui.
Último fechamento do Ibovespa
O Ibovespa terminou o pregão de ontem (9) em baixa de 0,57%, aos 118.408,77 pontos
Com Estadão Conteúdo