O mês de outubro não foi um bom mês para o mercado acionário brasileiro, que sofreu com instabilidade política, com dúvidas sobre a permanência de Paulo Guedes no cargo de ministro da Economia, e em meio ao aumento do risco fiscal, com a proposta do Auxílio Brasil — substituto do Bolsa Família com valor de R$ 400 — que pode furar o teto de gastos. O Ibovespa fechou o mês no pior desempenho, com queda de 6,74%.
O mercado espera que com as eleições de 2022 próximas, o governo fure o teto de gastos em pelo menos R$ 30 bilhões e assim viabilize o pagamento a cada beneficiário do novo programa. Com esse possível cenário, o mercado gerou aversão ao risco e a reajustou para cima as perspectivas para juros e inflação. Dessa forma, em outubro, o Ibovespa passou de 110 mil pontos para 103 mil pontos.
Diante desse cenário desafiador, o setor que mais sofreu foi o turismo, com duas companhias aéreas e uma de viagem entre as cinco maiores baixas do Ibovespa no mês. O impacto veio da valorização do dólar e aumento dos combustíveis, o que prejudicam a retomada do setor.
Veja as cinco maiores baixas do Ibovespa:
- Méliuz (CASH3): -44,9%
- Azul (AZUL4): -31,66%
- Alpargatas (ALPA4): -26,8%
- GOL (GOLL4): -26,7%
- CVC (CVCB3): -25,7%
Méliuz
Apesar do setor de turismo ser o mais afetado, o destaque foi para a Méliuz, com queda de 44,9% na Bolsa, liderando asa perdas do Ibovespa.
As empresas de tecnologia são impactadas pelo aumento da taxa básica de juros (Selic) pois dependem mais de financiamentos longos. Na semana passada, o Banco Central realizou o sexto aumento consecutivo da Selic, elevando a taxa para 7,75% ao ano.
No início do mês, a companhia reportou sua prévia operacional do terceiro trimestre, o que dividiu as opiniões dos especialistas. De acordo com o documento, o número de novos compradores e o volume bruto de vendas de mercadorias (GMV) foram recordes no período, totalizando R$ 1,4 bilhão.
O Itaú BBA viu o desempenho do GMV como positivo, uma vez que superou em 14% a projeção dos analistas da casa de R$ 967 milhões para o trimestre. Já o Bradesco BBI viu os dados como neutros a marginalmente negativos para o Méliuz.
Azul
Em segundo lugar no ranking das maiores quedas do Ibovespa está a Azul com uma desvalorização de 31,6%.
As companhias aéreas foram prejudicadas pelo o aumento no preço dos combustíveis, ou seja, aumento dos preços do querosene de aviação — que possui um peso relevante nos custos das empresas.
Ademais, o dólar acumulou alta de 3,2% no mês, para ser uma base de comparação saiu de R$ 5,44 em setembro e encerrou o mês de outubro em R$ 5,64. Além de impactar as viagens internacionais, a Azul possuí dívidas em dólar.
Alpargatas
A dona da marca Havaianas, a Alpargatas, está em terceiro lugar no ranking das maiores quedas.
O motivo foi o seu resultado trimestral que apesar de apresentar avanço de 34,1% no lucro líquido, para R$ 155,5 milhões, não foi o suficiente para animar o mercado.
No exterior, em volume, as vendas para os Estados Unidos avançaram 40%, porém a receita cresceu apenas 1%. Nos demais mercados internacionais, houve redução do volume no terceiro trimestre para China (-33%) e Europa (-1%). Na análise do Bradesco BBI, os números no exterior decepcionaram.
GOL
A segunda companhia aérea a aparecer no ranking é a GOL. A empresa também foi afetada pelo aumento dos preços dos combustíveis e a valorização do dólar.
Além disso, outro impacto relevante para as empresas do setor foi o aumento da inflação que pressiona o o poder de compra da população.
Na análise do Banco Daycoval, o baixo poder aquisitivo do consumidor, causado pelas altas taxas de desemprego, e o endividamento das famílias não dão espaço para que aumentos de preços das passagens sejam absorvidos, inibindo portanto a retomada.
CVC
Aterrissando como outras empresas do turismo, a companhia de viagens também obteve os mesmos impactos das companhias aéreas.
Além dos impactos, a CVC também sofreu durante o mês outubro ataque hacker, o que levou quase duas semanas (12 dias) para que o site fosse completamente restaurado.
O ataque de ransomware – um dos mais recorrentes em crimes cibernéticos – deixou o site da companhia inoperante e ocasionou queda nas ações. No pregão do dia 9 a empresa ficou dentre as maiores quedas do Ibovespa, com tombo de 12% nos papéis no acumulado da semana.
Investir em ações do Ibovespa
Antes de qualquer investimento em ações é importante ressaltar que quitar as dívidas deve sempre ser a prioridade. Os analistas da SUNO Research sempre salientam que é necessário antes poupar dinheiro para depois investir no Ibovespa, e nunca se endividar para investir ou investir endividado.