Ibovespa desaba 3,35% em dia tenso com falas de Lula; Magazine Luiza (MGLU3) afunda mais de 10%

O Ibovespa hoje encerrou o pregão de quinta-feira (10) em forte queda de 3,35%, aos 109.775,46 pontos. A máxima do dia foi de 113.580,09 pontos, enquanto a mínima foi de 108.516,46 pontos. O volume financeiro somou R$ 55,2 bilhões.

Lula assusta mercado e Ibovespa desaba 3,35% | Dólar dispara 4% por risco fiscal e cola nos R$ 5,40

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Essa foi a maior queda diária do Ibovespa desde o dia 8 de setembro de 2021, quando se registrou uma baixa de 3,78%, a 113.412,84 pontos.

O Ibovespa hoje cai totalmente descolado do mercado internacional. Segundo Rodrigo Cohen, educador financeiro, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, o que mais motiva a queda na bolsa é o receio do mercado em relação à política fiscal.

As declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vieram como uma tempestade em céu azul nesta quinta-feira, 10, de forte apetite por risco em Nova York, onde os ganhos ficaram em 3,70% (Dow Jones), 5,54% (S&P 500) e 7,35% (Nasdaq), na esteira de leitura mais fraca do que o esperado para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos em outubro, que pode abrir caminho para Federal Reserve mais ameno em dezembro.

Aqui, na contramão do sentimento positivo no exterior, o Ibovespa teve grau de ajuste durante a sessão que chegou a superar os 3,78% do fechamento de 8 de setembro do ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro, naquele 7 de setembro, havia afirmado que não mais cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nas mínimas do dia, o mergulho era mais profundo também do que o de 8 de março de 2021 (-3,98%), quando as ações contra o agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que permitiu sua volta ao jogo político.

Hoje, afirmações de Lula sobre a necessidade de resgate da dívida social, rumores sobre a possibilidade de que o Bolsa Família (atual Auxílio Brasil) fique de vez fora do teto de gastos, comentários do futuro presidente sobre Petrobras e BNDES, e a indicação de que o vice eleito Geraldo Alckmin não deve ocupar ministério derrubaram a expectativa por comedimento na largada da próxima administração, ante situação fiscal, para 2023, que já era vista com reservas pelo mercado.

Em discurso, Lula manteve suas falas desde os debates com discurso para os pobres. Com isso, há maiores receios do mercado quanto ao furo no teto de gastos. O anúncio de integrantes do governo de transição aumentou as “incertezas fiscais” com a PEC de Transição.

O presidente eleito também reforçou um discurso contra privatizações afirmando que nem Banco do Brasil (BBAS3), nem Caixa serão privatizados, voltando a criticar os dividendos recém-anunciados pela Petrobras (PETR4), fazendo o mercado temer influência política.

O mercado está preocupado com a quebra do teto de gastos, já que Lula não tem mostrado preocupação em relação ao cumprimento de gastos. E é isso que faz a cotação do Ibovespa hoje cair forte hoje e o dólar subir com força, segundo Rodrigo Cohen.

Além disso, temos também o IPCA, que veio muito acima das expectativas, fazendo com que a curva de juros futuros também subisse. Chamou atenção a inflação mais alta em Alimentação e Bebidas, Vestuário, Saúde e cuidados pessoais, refletindo o aquecimento da economia, incentivado pelos auxílios sociais.

Apesar disso, as ações da Vale (VALE3) sobem no Ibovespa hoje, motivadas com a alta do minério de ferro lá fora. Bancos caem por motivos sistêmicos em meio ao receio com a política fiscal. De forma simultânea, Bradesco puxa os resultados para baixo devido ao balanço ruim, divulgado ainda ontem e que ainda repercute no mercado.

“Destaque de queda para varejistas como Americanas e Magazine Luiza, que caem devido à alta forte de juros hoje, que prejudica esse setor que depende do crédito”, comenta Cohen.

Ibovespa cai com Mantega, IPCA, temor por Selic mais alta…

Os comentários de Lula foram fortes, mas não tudo. Mais cedo, os ativos brasileiros já refletiam grau maior de aversão ao risco fiscal, mas, em direção ao fim da tarde, a situação se deteriorou com a confirmação oficial de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega estará envolvido, na equipe de transição, com a área de Planejamento e Orçamento. Assim, o que parecia ruim, ficou ainda pior aos olhos do mercado, com pressão observada também no câmbio e nos juros futuros.

“Por aqui, houve uma reprecificação do risco fiscal à medida que o novo governo começa a se posicionar e a se estruturar, especialmente no que diz respeito ao teto de gastos. Há muita cautela com a Bolsa neste momento de reprecificação do risco Brasil”, diz Dennis Esteves, especialista de renda variável da Blue3.

Em outro desdobramento negativo para o dia, após três meses de deflação, a leitura a 0,59% para o IPCA de outubro, acima do que se esperava para o mês, contribui para reforçar a percepção de que o BC terá de manter a Selic elevada por mais tempo, em contexto ora agravado pela deterioração da perspectiva para a política fiscal, em viés ainda claramente expansionista.

A queda dos preços de ativos brasileiros hoje mostra que o mercado não está disposto a dar o benefício da dúvida ao futuro governo, afirma o economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel de Barros. “Este início de governo está me parecendo muito semelhante ao de Liz Truss na Inglaterra, que propôs um pacote de expansão fiscal bastante grande e foi igualmente punido. O mercado está punindo tanto emergentes quanto avançados que apontam para uma trajetória de insustentabilidade fiscal”, avalia Barros.

Refletindo a aversão ao risco fiscal no Brasil, o dólar à vista fechou em alta de 4,14%, a R$ 5,3966, com máxima na sessão a R$ 5,4148. Lá fora, o índice DXY, que contrapõe o dólar a uma cesta de referências como euro, iene e libra, operou ao longo do dia em direção contrária, em baixa de 2,10%, a 108,231 pontos no fim da tarde, por volta da hora de fechamento do câmbio por aqui. No exterior, prevaleceu hoje a percepção de que a inflação de outubro nos Estados Unidos abre caminho para que o Federal Reserve entregue um aumento de juros menor, de meio ponto porcentual, na última reunião do ano, em dezembro, o que estimulou o apetite por risco.

A dicotomia entre o controle dos gastos públicos e a expansão de despesas com programas sociais é falaciosa, avalia o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. “Dicotomia entre gastos sociais e instrumentos de controle fiscal não tem conexão direta, como ele (Lula) impôs. Isso acabou sugerindo que, mesmo sem ter recurso, sem diminuir outros gastos, haverá expansão (de despesas) no governo dele”, diz Sanchez.

“O cenário hoje ficou bastante turbulento, após uma aceitação a princípio melhor do que se esperava para o resultado das eleições, especialmente com o Geraldo Alckmin como líder da equipe de transição. A piora veio com os ruídos sobre a PEC de Transição e o risco fiscal”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “A ideia de tirar o Auxílio Brasil do teto de gastos, o que abriria recursos para promessas de campanha, não está sendo bem-vista pelo mercado. A partir do momento em que se coloca o programa social fora do teto, abre brechas pela frente”, acrescenta.

Pela manhã, o IPCA de outubro trouxe uma quebra na sequência de deflação no intervalo de julho a setembro. “O índice de difusão continua superior a 60%, talvez ainda acima do esperado, e os núcleos ainda apresentam sentido altista para a inflação, talvez mais alta do que o projetado para 2022”, diz a economista Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais.

Bolsas de Nova York

As bolsas de Nova York tiveram sua melhor sessão em dois anos, incluindo uma alta acima de 6% do Nasdaq, seguindo a publicação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) americano em outubro.

A desaceleração nas marcações deu perspectivas para a redução no aperto monetário do Federal Reserve (Fed), que vem pressionando ativos ao longo do ano.

  • Dow Jones: +3,70%, aos 33.715,37 pontos
  • S&P 500: +5,54%, aos 3.956,37 pontos
  • Nasdaq: +7,35%, aos 11.114,15 pontos

O dólar à vista disparou 4,14%, a R$ 5,3966, após oscilar entre R$ 5,2454 e R$ 5,4148.

Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta nesta quinta-feira, 10, após uma sessão marcada pela volatilidade.

A commodity foi beneficiada pela desvalorização robusta do dólar, na esteira dos dados do índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos, que cravaram a expectativa de que o Federal Reserve (Fed) deve desacelerar a alta de juros. Por outro lado, o óleo foi pressionado por preocupações com a demanda chinesa.

O petróleo WTI para dezembro fechou em alta de 0,74% (US$ 0,64), a US$ 86,47 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), enquanto o Brent para janeiro de 2023 subiu 1,10% (US$ 1,02), a US$ 93,67 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

O contrato mais líquido do ouro fechou em alta nesta quinta-feira, 10, em uma sessão marcada pela desvalorização do dólar, após dados do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos cravaram a expectativa de que o Federal Reserve (Fed) pode desacelerar a alta de juros.

Na Comex, divisão para metais da New York Mercantile Exchange (Nymex), o ouro com entrega prevista para dezembro fechou em alta de 2.33%, a US$ 1.753,70 por onça-troy.

No Ibovespa hoje, a maior alta veio com a CSN Mineração (CMIN3), de 2,77%, seguida pela Suzano (SUZB3), com variação de +2,29%. Enquanto isso, a Vale (VALE3) subiu 1,91%, enquanto os papéis da Embraer (EMBR3) registraram ganhos de 0,75%. Já a Klabin (KLBN11) valorizou 0,71%.

Na ponta negativa, a bolsa de valores hoje foi marcada por grandes quedas na casa dos dois dígitos para diversas empresas. Das 14 empresas que mais caíram na sessão de hoje (10), 13 delas tiveram perdas maiores que 10%.

O principal destaque foi a Azul (AZUL4), com forte queda de 17,83%. A Yduqs (YDUQ3) despencou 13,92% e Hapvida (HAPV3) afundou 13,67%. A CVC (CVCB3) registrou queda de 13,33%, enquanto Carrefour (CRFB3) recuou 13,07%.

Maiores altas do Ibovespa:

Maiores baixas do Ibovespa:

Além disso, a B3 (B3SA3) fundou 12,66%, enquanto o Magazine Luiza (MGLU3) teve baixa de 10,96%.

Outras notícias que movimentaram o Ibovespa

  • Lula afirma que Petrobras não será ‘fatiada’ e nega que Banco do Brasil será privatizado
  • B3 compra Neurotech por até R$ 1,1 bilhão
  • Eletrobras: analistas recomendam compra, mesmo com prejuízo no 3T22: “Resultados poluídos”

Lula afirma que Petrobras não será ‘fatiada’ e nega que Banco do Brasil será privatizado

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva disse que “a Petrobras não vai ser fatiada”, informando que o Banco do Brasil não vai ser privatizado. A fala foi feita na manhã desta quinta-feira (10), em discurso com deputados no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.

Lula também reforçou o discurso de “reconstruir o país”, mas disse que “as empresas públicas brasileiras voltarão a ser respeitadas”.  Após a fala, o valor do Ibovespa despencou, puxado pela queda de diversas empresas acima dos dois dígitos.

Se mostrando contrário à privatização, Lula diz que “o Banco do Brasil não vai ser privatizado, a Caixa Econômica, o BNDES, o BNB e o Basa voltarão a ser bancos de investimento, inclusive para pequenos e médios empreendedores”.

Lula diz que alguns conceitos serão mudados no Brasil. “Muitas coisas que são consideradas como gastos nesse país. Temos que passar a considerar como investimento”.

“Não é possível que se tenham cortado dinheiro da Farmácia Popular, em nome de que é preciso cumprir a meta fiscal, cumprir a regra de ouro. Sabe qual é a regra de ouro desse país? É garantir que nenhuma criança vá dormir sem tomar um copo de leite e acordar sem um pão com manteiga para comer todo dia”, completou Lula.

B3 compra Neurotech por até R$ 1,1 bilhão

A B3 divulgou a aquisição da empresa de tecnologia Neurotech, especializada na criação de sistemas e soluções de inteligência artificial, machine learning e big data. O valor a ser desembolsado pode alcançar R$ 1,14 bilhão.

Até o fechamento da operação, a B3 vai pagar valor previsto da compra, de R$ 569 milhões.

A B3 também vai pagar o valor do aporte ao capital social da Neurotech, de aproximadamente R$ 50 milhões, para quitar obrigações e indenizações do término do programa de opções de compra e subscrições de ações da companhia de tecnologia.

Na aquisição da B3, está inserido o comprometimento do pagamento futuro de cerca de R$ 523 milhões em earn-outs, que vai depender do cumprimento de determinadas metas de desempenho.

A B3 aponta que o preço final da operação ainda está sujeito a ajustes comuns em transações dessa natureza.

Eletrobras: analistas recomendam compra, mesmo com prejuízo no 3T22: “Resultados poluídos”

No 3T22, a Eletrobras registrou um prejuízo líquido de R$ 88 mil. No mesmo trimestre do ano passado, a empresa havia reportado um lucro líquido de R$ 965 milhões.

Os analistas do BTG Pactual dizem que o balanço do terceiro trimestre de 2022 da Eletrobras consolidou Santo Antônio Energia, refletindo todas as mudanças estruturais vindas do processo de capitalização.

Já os analistas da XP dizem que a Eletrobras vem atravessando um processo de reorganização.

O atual CEO da Eletrobras, Wilson Ferreira, diz que “mantém uma comunicação contínua com o mercado sobre diversos pontos essenciais que compõem a tese de investimentos após a privatização”.

Cotação do Ibovespa nesta quarta (9)

O Ibovespa encerrou a sessão da última quarta-feira (9) em queda de 2,22%, aos 113.580,09 pontos.

(Com informações do Estadão Conteúdo)

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João Vitor Jacintho

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