O Ibovespa hoje encerrou o pregão desta terça-feira (6) em queda de 2,17%, aos 109.763,77 pontos, após oscilar entre 109.348,31 e 112.202,77 pontos. Em setembro, ainda registra leve avanço de 0,22% após a correção desta terça, que limita o ganho do ano a 4,71%. O giro da sessão foi a R$ 31,2 bilhões.
Foi a maior queda porcentual desde 17 de junho (-2,90%), quando perdeu o nível de 100 mil pontos em fechamento pela primeira vez desde 27 de outubro de 2020.
Até esta terça-feira, o índice da B3 resistia aos fatores de risco externo – como a crise de energia na Europa, a desaceleração chinesa e o processo de elevação de juros nos EUA – que tem abalado o apetite por risco nas praças globais. Mas o discurso da segunda-feira à noite do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em sinal reiterado nesta terça pelo diretor de Política Monetária, Bruno Serra, lançou os ativos brasileiros a uma forte correção, com pressão sobre a curva de juros, o câmbio e as ações listadas na B3.
“A fala do presidente do Banco Central, sobre a inflação persistente e perspectiva de uma Selic alta por mais tempo, elevou a percepção de risco e ocasionou movimento de realização em praticamente todas as ações que compõem o Ibovespa”, diz Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, destacando também o “estresse” na curva de juros e a apreciação do dólar frente ao real, com aumento da “aversão a risco no curto prazo”.
“Lá fora há também continuidade no processo de elevação de juros, para conter a inflação. Aqui, ontem à noite, o discurso de Campos Neto, de que algum ajuste na Selic ainda seja necessário, jogou um pouco de água fria na expectativa do mercado de que os juros parariam no patamar em que já estão”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Moliterno destaca em especial a correção desta terça no setor de varejo, devolvendo recuperação recente, revertida agora pela percepção de que os juros ainda não chegaram ao teto no Brasil. O índice de consumo (ICON) fechou em baixa de 2,07%, queda superior à vista em materiais básicos (IMAT -1,44%), em dia também negativo para as commodities. O setor de construção, exposto a custos de crédito, também sofreu na sessão desta terça-feira.
Em evento em São Paulo na noite de segunda-feira, Campos Neto foi cauteloso quanto a juros e inflação no País, esfriando a recente euforia do mercado com relação aos ativos brasileiros, nesta véspera de feriado da Independência – na quarta, haverá negócios lá fora, mas não aqui. “Bruno Serra também falou hoje sobre ajuste residual na Selic em setembro, trazendo sinalização de que os dados macro não estão ainda tão bons, o que resultou em aversão a risco aqui”, diz Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.
“Campos Neto surpreendeu um pouco com discurso mais duro, mais ‘hawk’, com a indicação de que a Selic pode subir a 14% na reunião do dia 21, e o mercado leu como uma dica de que a taxa de juros pode ir a 14% (ao ano) e parar. Precificava-se majoritariamente que pararia a 13,75%, o que resultou em alteração das apostas (para a reunião de setembro) na medida em que daqui a pouco eles (diretores do BC) entram em período de silêncio”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Mais do que a indicação de que a porta permanece aberta para novo aumento da Selic em setembro – mês sobre o qual o mercado já havia sido instruído pelo Copom quanto à possibilidade de um aumento “residual” -, o que bateu mais forte foi a sinalização de que o BC não cogita corte de juros antecipado, em razão de inúmeros fatores de incerteza não só externos como também domésticos, entre os quais o financiamento de programas sociais no próximo ano – o que, na visão emitida na segunda por Campos Neto, será um desafio significativo.
Na avaliação do economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, que mantém a projeção de Selic terminal em 13,75%, as falas recentes de dirigentes do Banco Central parecem direcionadas a retirar da curva de juros a precificação de cortes adiantados da taxa de juros de referência. “Acho que eles quiseram tirar ou diminuir essas precificações de corte tão cedo, até porque a inflação projetada ainda está acima da meta”, avalia Weeks. “Eu não acho que tenha mudado o cenário para o fim do ciclo.”
Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luís Otávio de Souza Leal, as declarações da segunda e da terça são um “recado” de que o mercado está muito otimista, na visão do BC, quanto ao início do ciclo de cortes em 2023. “Para o BC, não interessa ter o mercado muito otimista com o início do ciclo de corte de juros quando você está em um processo de elevação das taxas”, observa o economista.
Bolsas de Nova York
Os mercados acionários de Nova York registraram queda, nesta terça-feira. Em pregão volátil, investidores avaliaram dados mistos dos Estados Unidos. Houve aumento na chance de uma alta mais agressiva de juros neste mês pelo Federal Reserve (Fed), segundo monitoramento do CME Group, o que tende a pressionar as ações. O Nasdaq registrou sua sétima queda consecutiva, maior sequência do tipo para ele desde 2016, segundo a Dow Jones Market Data.
- Dow Jones: -0,55%, aos 31.145,30 pontos;
- S&P 500: -0,41%, aos 3.908,19 pontos;
- Nasdaq: -0,74%, aos 11.544,91 pontos.
O dólar à vista fechou em alta de 1,63%, a R$ 5,2381, após oscilar entre R$ 5,1648 e R$ 5,2508.
Os contratos futuros de petróleo fecharam em queda nesta terça-feira, enquanto o mercado ainda digere a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) de cortar a produção de petróleo em 100 mil barris por dia (bpd). Além disso, o óleo foi pressionado pelo fortalecimento do dólar e por preocupações renovadas do lado da demanda.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril do WTI para outubro caiu 0,01%, ou US$ 0,01, a US$ 86,88. Na Intercontinental Exchange (ICE), o Brent para novembro fechou com queda de 3,04%, ou US$ 2,91, a US$ 92,83.
O contrato futuro do ouro fechou em baixa, nesta terça, pressionado pela força do dólar. Com isso, mesmo o quadro de relativa cautela nos mercados não foi suficiente para levar o metal precioso ao território positivo.
O ouro para dezembro fechou em queda de 0,56%, em US$ 1.712,90 a onça-troy, na Comex, divisão de metais da New York Mercantile Exchange (Nymex).
No Ibovespa hoje, apenas dez ações finalizaram no campo positivo, com altas modestas.
A liderança do ranking das maiores altas ficou com TIM (TIMS3), que subiu 2,19%. Também do setor de telecom, considerado mais defensivo e resiliente em dia de aversão ao risco, Telefônica (VIVT3) subiu 0,77%. Ainda figurou o topo do ranking São Martinho (SMTO3), avançando 1,97%, em seu segundo dia de negociação no índice.
Na ponta oposta, liderou MRV (MRVE3), em queda de 8,51%, seguida por Via (VIIA3), que caiu 7,67% e Magazine Luiza (MGLU3), que cedeu 7,41%.
Grandes bancos também ficaram no vermelho: Itaú (ITUB4) perdeu 0,93%, Bradesco (BBDC3, BBDC4) desvalorizou 0,93% e 0,62%, nesta ordem, Santander (SANB11) recuou 0,60%. O Banco do Brasil (BBAS3) foi o que mais sofreu entre os pares, recuando 4,80%, em movimento de realização, após valorização mais forte nos últimos dias.
Entre as blue chips, Petrobras (PETR3, PETR4) registrou -3,52% e -3,69%, respectivamente, e Vale (VALE3), -2,38%.
Maiores altas do Ibovespa:
- TIM (TIMS3): +2,19% // R$ 12,15
- São Martinho (SMTO3): +1,97% // R$ 28,95
- Telefônica (VIVT3): +0,77% // R$ 42,10
- Suzano (SUZB3): +0,56% // R$ 44,98
- Carrefour (CRFB3): +0,54% // R$ 20,45
Maiores baixas do Ibovespa:
- MRV (MRVE3): -8,51% // R$ 10,86
- Via (VIIA3): -7,67% // R$ 2,89
- Magazine Luiza (MGLU3): -7,41% // R$ 4,00
- CVC (CVCB3): -7,12% // R$ 7,17
- Qualicorp (QUAL3): -6,58% // R$ 8,95
Outras notícias que movimentaram o Ibovespa
- Aliansce Sonae (ALSO3) vende shoppings para fundo imobiliário; entenda a transação
- Eletrobras (ELET3) recebe ordem de execução para pagar R$ 6,8 bi em ação sobre compulsórios
Aliansce Sonae (ALSO3) vende shoppings para fundo imobiliário; entenda a transação
Na semana passada, a Aliansce Sonae (ALSO3) divulgou ao mercado a venda de dois shoppings do seu portfólio. Porém, a empresa não tinha informado o nome do comprador. Segundo apuração do Estadão, quem comprou os ativos da empresa foi um novo fundo de investimento imobiliário, que busca se tornar um dos maiores do país, com patrimônio líquido superior a R$ 1 bilhão.
O gestor Felipe Rodrigues foi o fundador da Legatus, gestora especializada em investimento em shoppings. Ele estará à frente do novo FII, que ainda não teve seu nome divulgado. O Estadão também afirma que, após a venda da gestora no ano passado, Rodrigues está montando uma parceria com um banco de investimento.
A empresa vendeu os shoppings de Londrina (PR) e Vila Velha (ES), no valor de R$ 176,7 milhões. Além disso, o FII assinou a opção de compra de participações outros empreendimentos da Aliansce Sonae: Shopping da Bahia, Plaza Sul e Passeio das Águas, todos no valor de R$ 288,5 milhões. Neste caso, a opção deverá ser cumprida até dezembro deste ano. Ao todo, o FII deve investir R$ 465,1 milhões nos ativos.
A Aliansce tem vendido uma série de ativos nos últimos meses. O objetivo da empresa é evitar a concentração de shoppings nas mesmas regiões que atua a BrMalls. É que a Aliansce Sonae está em processo de fusão com a BrMalls.
Por isso, ela não quer problemas com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que pode barrar os planos das empresas caso haja concentração econômica.
Porém, nada impede que determinadas fatias de seus imóveis sejam vendidas, principalmente visando a reciclagem do seu portfólio. Com maior dinheiro em caixa, a Aliansce Sonae teve aprovada pelo Cade a captação de R$ 1 bilhão por meio de debêntures. A empresa quer quitar dívidas e seguir investindo.
Sem aquisições no radar, a Aliansce Sonae tornou-se a nova administradora do Shopping Eldorado, sem intenção de compra. No momento, a empresa demonstra interesse no portfólio da Brookfield nas cidades de São Paulo e no Rio de Janeiro.
Eletrobras (ELET3) recebe ordem de execução para pagar R$ 6,8 bi em ação sobre compulsórios
A Eletrobras (ELET3) recebeu uma ordem de execução da Justiça para pagar R$ 6,8 bilhões do empréstimo compulsório de energia elétrica, executado pela Eagle Equity Funds. A empresa informou sobre o mandado na noite da segunda-feira (5) em fato relevante.
A Eletrobras afirmou que a ação é “infundada e que os valores não são devidos ao autor” e que adotará todas as “medidas cabíveis para a sua defesa na ação de execução”.
Os valores cobrados são referentes a supostos títulos executivos extrajudiciais emitidos na década 1960 e 1980 para pagamento do empréstimo compulsório de energia elétrica, segundo a Eletrobras.
Esse empréstimo compulsório ocorreu para custear expansões no setor elétrico. A companhia diz que tem R$ 26 bilhões de reais em provisões sobre processos de compulsórios no balanço da Eletrobras, segundo informações do Reuters.
A ação da Eagle Equity Funds corre na 1ª Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais e Conflitos Arbitrais de Brasília.
A Eletrobras mencionou o entendimento firmado pelo STJ (superior Tribunal de Justiça), dotado de efeito vinculante, que pacificou o tema das obrigações ao portador do empréstimo compulsório e define o prazo de pagamento das obrigações ao portador emitidas pela Eletrobras.
Desempenho dos principais índices
Além do Ibovespa, confira o fechamento dos principais índices da bolsa hoje:
- Ibovespa hoje: -2,17%
- IFIX hoje: -0,13%
- IBRX hoje: -2,20%
- SMLL hoje: -2,68%
- IDIV hoje: -1,85%
Cotação do Ibovespa nesta segunda (5)
O Ibovespa fechou o pregão da última segunda-feira (5) em alta de 1,21%, em 112.203,35 pontos.
(Com informações do Estadão Conteúdo)