Ibovespa tem maior alta em 30 dias, apoiado por Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4); IRB (IRBR3) dispara 9%
O Ibovespa encerrou a sessão de hoje (22) com ganhos de 1,51%, aos 116.156,01 pontos, maior alta diária desde 21 de julho, quando o índice subiu 1,81%. A mínima do dia foi de 114.433,39 pontos, enquanto a máxima foi de 116.285,57 pontos. O volume financeiro foi de R$ 20,5 bilhões.
O Ibovespa voltou a ensaiar recuperação nesta terça-feira, em que chegou apenas ao segundo ganho diário deste agosto, mês no qual a B3 tem sofrido com a retração do investidor estrangeiro, segmento que já acumula saques líquidos na casa de R$ 10,6 bilhões no intervalo até a última sexta-feira, 18.
Nesta terça, o índice de referência da bolsa brasileira subiu 1,51%, aos 116.156,01 pontos, conseguindo se descolar da cautela que prevaleceu em Nova York:
- Dow Jones: -0,51%, aos 34.289,03 pontos;
- S&P500: -0,28%, aos 4.387,65 pontos;
- Nasdaq: +0,06%, aos 13.505,87 pontos.
O dólar à vista desvalorizou 0,76% frente ao real, a R$ 4,9407, registrando a mínima diária de R$ 4,9265.
Na semana, o índice passa a acumular leve ganho de 0,65%, vindo de perdas ao longo das quatro semanas anteriores. No ano, ainda sobe 5,85%. Com a retomada da linha de 116 mil pontos, o Ibovespa volta ao nível de encerramento em que estava há uma semana, no fechamento do último dia 15, quando chegou à 11ª da série de 13 perdas diárias, a mais longa de que se tem registro na Bolsa, desde 1968. A alta desta terça foi a maior desde 21 de julho (+1,81%).
Embora o cenário externo, nebuloso para China como para Estados Unidos – as duas maiores economias do globo -, permaneça como principal fator para a falta de apetite por risco que tem prevalecido desde a virada de julho para agosto, a perspectiva de votação final do arcabouço fiscal, possivelmente ainda no período da noite na Câmara dos Deputados, contribuiu nesta terça-feira para alguma descompressão no câmbio e na curva de juros, o que ajudou o desempenho das ações, observa Pedro Canto, analista da CM Capital.
Assim, com ativos de grande liquidez “amassados”, como os papéis de bancos – Banco do Brasil (BBAS3) avançou 2,26%, Itaú (ITUB4), +1,56%, Santander (SANB11), +1,25%, e Bradesco (BBDC4), +0,68% -, o dia foi também de recuperação para as ações com exposição ao ciclo externo.
Entre as ações de maior peso no índice, Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) fecharam em alta e puxaram o Ibovespa para cima. As ações preferenciais e ordinárias da petroleira subiram 1,48% e os papéis da mineradora variaram +2,25%. A Vale ficou à frente do setor metálico – destaque para Gerdau (GGBR4), +1,08%.
“Siderurgia e mineração tinham ficado bem para trás com as preocupações sobre a China, a perspectiva negativa sobre a economia chinesa que havia prevalecido nos últimos dias”, diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos. Ele destaca que o minério de ferro fechou, nesta terça, no maior patamar em três semanas, o que favoreceu também a Vale, ação com maior peso individual no Ibovespa e que se mantém muito descontada.
O principal destaque positivo do Ibovespa foi o IRB Brasil (IRBR3), que disparou 9,14%, seguido por Vibra Energia (VBBR3), que avançou 7,61%. A EzTec (EZTC3) por sua vez, teve uma valorização de 6,99%.
Entre as quedas, o principal destaque foi a Marfrig (MRFG3), que caiu 1,83%, enquanto a Petz (PETZ3) recuou 1,47%. O Carrefour (CRFB3) foi a terceira maior baixa do dia, com -0,97%.
Maiores altas e baixas do Ibovespa hoje
- Maiores Altas
- Maiores Baixas
O que movimentou o Ibovespa hoje?
Segundo Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, o Ibovespa hoje operou em alta com grande parte das ações que fazem parte do índice com performance positiva.
As quedas seguidas registradas recentemente se explicam pelos temores globais em relação à economia da China, além das recentes altas dos treasuries americanos, que geraram fuga de capital de ativos de risco para investimentos de menor risco.
Embora as Bolsas de Nova York tenham caído, o Ibovespa hoje segue os principais índices de ações da Ásia e da Europa, que também fecharam no campo positivo. Além disso, o minério de ferro teve uma forte valorização na China, impactando de forma positiva as ações de siderúrgicas e mineradoras.
Entre as maiores altas do Ibovespa hoje, um dos destaques foi o IRB (IRBR3), que também sobe em movimento de correção. Minerva (BEEF3) avança com a baixa do arroba do boi e com a valorização do dólar nos últimos dias.
Um dos destaques positivos do dia foi o setor de construção civil, tendo como destaques MRV (MRVE) e Tenda (TEND3), que tiveram seu preço-alvo elevado por alguns analistas recentemente. Quanto às ações com maior peso no índice, a Vale (VALE3 subiu em meio à valorização do minério de ferro na China.
A Marfrig (MRFG3) caiu após ter registrado forte valorização no início de agosto, e acabou devolvendo toda a alta depois que a companhia anunciou um aumento do capital social, com a emissão de novas ações (follow-on).
“Os juros futuros operaram em queda hoje, após vários pregões em alta. As altas recentes estavam diretamente ligadas ao movimento de alta nos Treasuries americanos. Um dos possíveis motivos da queda é o alívio do dólar, que hoje opera em queda, bem como na provável aprovação do Arcabouço Fiscal, que deve ocorrer hoje. O dólar opera em queda, após diversos dias de alta, em um movimento de correção natural”, conclui Cardozo.
Fluxo externo para a B3 se mantém como um fator de preocupação
Apesar do fôlego mostrado pelo índice em um dia de giro bem fraco, o fluxo externo para a B3 se mantém como um fator de preocupação. Nos primeiros 18 dias do mês, com apenas uma alta diária no intervalo – na última sexta-feira -, quase metade do fluxo de ingresso de capital estrangeiro em 2023 tomou a porta de saída, reduzindo o saldo líquido do ano desse importante segmento a R$ 13,466 bilhões.
“Os juros americanos dos Treasuries continuam nos maiores níveis desde 2007, e isso ainda não foi para o preço das ações por lá, cujo desempenho tem sido amparado em especial pelo setor de tecnologia, concentrado no Nasdaq mas com peso também no S&P 500, em meio às novidades em torno da inteligência artificial”, diz o analista da CM Capital.
“Aqui, a percepção quanto ao fiscal melhorou, e a Selic está caindo, mas a B3 é vista também como uma proxy de China, pela exposição que tem a commodities, o que ajuda a entender essa retirada dos estrangeiros em agosto.
Com investidor doméstico apenas, fica difícil subir”, acrescenta Canto, notando que, no fim de julho, o S&P 500 estava a cerca de 5% de sua máxima histórica, e desde então a correção do índice amplo de Nova York é de 4,39% em agosto.
“Alguma coisa não está muito certa com os preços”, diz o analista, destacando o descasamento entre o nível dos índices de ações em Nova York, mesmo com a moderada correção em curso, e os rendimentos dos Treasuries, livres de risco. Como agosto é um mês de férias no hemisfério norte, com movimentos usualmente mais contidos no período, um ajuste mais forte pode vir em setembro com a normalização dos negócios, observa também o gestor de renda variável da Western Asset, Cesar Mikail – caso, até lá, não venham catalisadores que alterem a cautela quanto ao cenário externo.
Nesse contexto, o mercado global estará atento a mais uma edição do simpósio anual de Jackson Hole, especialmente ao pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira, em busca de eventuais pistas sobre a política monetária americana, com os juros de referência por lá já na faixa de 5% ao ano. Os dados, em particular os do mercado de trabalho nos EUA, continuam a vir fortes, o que modifica aquele viés que prevalecia quanto às chances de pausa, de proximidade de fim de ciclo de alta dos juros americanos, que guiava também a retomada de otimismo do mercado no fim de julho, aponta Canto, da CM Capital.
Último fechamento do Ibovespa
O Ibovespa terminou o pregão de ontem (21) em baixa de 0,85%, aos 114.429,35 pontos.
Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil