Com escalada da Selic, deterioração do cenário macroeconômico e risco fiscal iminente, os gestores de fundos pioraram suas expectativas para o Ibovespa no ano de 2022. Segundo pesquisa mensal do Bank of America (BofA), atualmente menos de um terço dos gestores vê o principal índice da bolsa brasileira acima do patamar de 120 mil pontos em 2022.
A pesquisa do BofA também apontou que apenas 21% dos que responderam ao banco veem as ações do Ibovespa com desempenho superior nos próximos seis meses, menor patamar para o indicador desde 2018.
Mais de 66% também frisam que esperam uma taxa de juros de dois dígitos até o fim de 2022, o que é consenso de mercado ante o ciclo de alta da Selic.
Apesar do pessimismo com o cenário da bolsa brasileira, somente 14% vê um encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem. O consenso segue mirando um crescimento econômico de 1% ou pouco menos do que isso.
A maioria também sinalizou crer que uma maior visibilidade política seria o melhor catalisador para um desempenho positivo do mercado de ações no ano de 2022.
O ponto mais crítico, segundo os entrevistados, é o risco fiscal, dados os recentes acenos do Planalto à possibilidade de furo do teto de gastos para o pagamento do Auxílio Brasil – que começa a ser pago hoje – e com o imbróglio dos Precatórios.
Com Projeto de Emenda à Constituição (PEC) no fim do trâmite, os precatórios podem gerar uma ‘bola de neve’ de R$ 580 bilhões a não serem pagos até o ano de 2036, segundo consultoria econômica da Câmara.
Quanto à moeda brasileira, os gestores esperam uma manutenção do patamar atual, ao passo que o dólar deve melhorar seu desempenho nos próximos seis meses – o que deve afetar o câmbio diretamente.
Os setores mais pressionados nesse contexto devem ser bancos e instituições financeiras, em conjunto com companhias de energia.
“Exportadores, pagadores de dividendos e empresas de crescimento ficam em ‘desuso’ entre os participantes da pesquisa, que preferem estratégias de reabertura, ações de valor e qualidade das companhias. Apesar disso, os níveis de caixa permanecem acima da média histórica da pesquisa, em 5,5%.”
Analistas preveem piora do Ibovespa para 2022
Em uma onda de revisões, o Safra deixou suas expectativas mais pessimistas para o Brasil, reduzindo a projeção do PIB e aumentando a do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Mas além das projeções macroeconômicas, nos primeiros dias de outubro o time de analistas do banco revisou o preço-alvo para o Ibovespa de 145 mil pontos para 121 mil pontos em 2021, após “incorporar uma condição macroeconômica mais desafiadora no âmbito político, fiscal e da atividade”.
A análise, vale frisar, precede a última decisão do Copom e as especulações sobre o furo do teto de gastos geradas após os anúncios do Governo Federal – que intensificaram o pessimismo do mercado.
“Acreditamos que a crise hídrica também é outro fator de risco a ser monitorado no ambiente doméstico. Por fim, considerando que o preço das commodities foi um grande impulsionador de resultados em 2021 para algumas empresas com peso representativo no índice, a recente queda no preço das matérias-primas e receios de uma maior desaceleração do crescimento econômico chinês são fatores que podem afetar a dinâmica de lucros para o Ibovespa nos próximos anos”, conclui.
O Itaú BBA também projetou um ano de 2022 com cenário econômico mais preocupante. Os analistas revisaram o crescimento do PIB de 0,5% de crescimento para uma queda de 0,5%, além de projetarem uma Selic de 11,25% ante 9% anteriores.
Apesar de ser mais pessimista do que o Safra, o banco ressalta que a retomada de pautas como a reforma administrativa pode ser um sinalizador para uma maior ‘resiliência fiscal’, o que deve ajudar a aliviar a pressão sob o orçamento público e reduzir as incertezas do cenário econômico futuro.
No caso da pesquisa do BofA sobre o Ibovespa, foram entrevistados 29 gestores com cerca de US$ 71 bilhões sob administração.
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