Após renovar máximas em 2023, quando o Ibovespa deve engrenar novamente?

No final de 2023, o Ibovespa renovou algumas vezes a sua máxima histórica de fechamento. No dia 27 de dezembro, o índice encerrou a sessão em alta de 0,49%, estabelecendo a marca definitiva em 134.193 pontos. De lá para cá, no entanto, o principal indicador da B3 perdeu força, sendo que em 2024, apresenta recuo de cerca de 4,50%, negociando ao redor dos 128 mil pontos.

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O otimismo na reta final de 2023 se deu, sobretudo, pelas sinalizações de que o Federal Reserve não iria mais subir os juros, o que gerou uma perda da atratividade para renda fixa norte-americana. Com isso, o índice Bovespa foi impulsionado por uma forte entrada de recursos, principalmente estrangeiros. E mesmo após as altas sucessivas, muitas gestoras e casas de análise continuavam afirmando que a Bolsa estava barata.

“O quarto trimestre de 2023 foi marcado pelo retorno do otimismo no mercado financeiro. Mesmo com as altas, o preço sobre lucro (P/L) do índice Ibovespa fechou o ano em 8,0 vezes, bem abaixo da média histórica de 10,9 vezes. Para retornar à média, o Ibovespa teria que apresentar valorização de cerca de 40%”, diz a Investo em carta divulgada no fim do ano passado.

À época, a casa citou também o principal fator que poderia “acabar com a festa” nos mercados.

“Como ponto de atenção, a atual onda de otimismo no mercado pode ser atenuada caso a economia dos Estados Unidos se mantenha mais ativa do que esperado pelos analistas, postergando, assim, o início do ciclo de corte de juros por parte do banco central americano. Nesse sentido, o ambiente externo tende a ser o principal fator que pode gerar maior volatilidade na bolsa de valores brasileira no curto prazo”, projetou a casa responsável pelo fundo de investimento em ações Investo Mega Trends, que busca capturar as transformações do mercado de forma antecipada via ETFs.

O cenário, de fato, se concretizou. Dados de inflação e atividade nos Estados Unidos não deram segurança o suficiente para o Federal Reserve iniciar o ciclo de relaxamento do aperto monetário. Com isso, o mercado, que projetava uma queda nos juros para março, voltou a apresentar aversão ao risco.

“O principal motivo da volatilidade é a expectativa pelo corte de juros nos Estados Unidos. A curva por lá havia precificado uma queda para março, mas agora alguns falam até em segundo semestre. Isso em função de dados piores em relação à inflação, o que traz volatilidade no curto prazo.”, complementa João Mamede, gestor de renda variável da AZ Quest, gestora que tem em seu portifólio o fundo AZ Quest Ações FIC DE FIA, cujo objetivo é entregar retornos acima do Ibovespa por meio do investimento em ações de alta liquidez.

Qualquer índice de ações funciona como uma espécie de engrenagem. E para que essa engrenagem gire, é necessário uma entrada constante de recursos. Na reta final de 2023, a engrenagem do Ibovespa estava girando a todo vapor. Em 2024, contudo, esse fluxo secou. Como consequência, a engrenagem emperrou.

“Estamos vendo muitos resgates, muita saída de recursos. Em fundos multimercados, fundos de ações…Isso também está em linha com a nova regulação dos chamados títulos incentivados, o que abre espaço para a renda fixa”, diz William Dominice, um dos responsáveis pelo fundo Clave Total Return (long bias) da Clave Capital, cujo benchmark é IPCA + Yield IMA-B.

Volta do otimismo é questão de tempo?

A incerteza sobre o início do corte de juros nos Estados Unidos é a principal causa para a volatilidade recente do Ibovespa, segundo os analistas. Por outro lado, no Brasil, a taxa Selic já vem em trajetória de queda, o que serve como um alento e um possível gatilho à frente para a Bolsa brasileira

“A economia brasileira aparece em destaque no cenário global, com a inflação aparentemente controlada, e convergindo para a meta e com ciclo de queda de juros, realizado pelo Banco Central, em andamento”, diz a Investo.

“O movimento aqui continua sendo de queda nos juros. A discussão é sobre quanto será a taxa terminal. Acreditamos que esse número vá ser substancialmente menor do que o observado atualmente, o que deve favorecer a bolsa principalmente em relação à entrada de recursos”, projeta Dominice, da Clave. 

“E aí você vai ter uma combinação de juros caindo no Brasil, com a Selic fechando o ano ao redor de 9%, e a queda nos juros nos EUA servindo de combustível para os mercados. Estamos com uma visão bastante otimista para a Bolsa. Acreditamos que há potencial para fecharmos bem acima das máximas históricas neste ano”, completa Mamede, da AZ Quest.

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Quais setores podem se destacar no Ibovespa?

Na visão da AZ Quest, esse deve ser o ano das mid e small caps, em detrimento das blue chips. Ou seja: empresas de menor capitalização, que se beneficiam da queda de juros, devem ter performance superior às gigantes do mercado.

“No ano passado, a Petrobras (PETR4) puxou muito o índice para cima, por exemplo, o que não deve acontecer neste ano. Com riscos políticos envolvendo tanto Petrobras quanto Vale (VALE3), não devemos ver essas empresas que têm maior peso no índice performando tão bem. Empresas mais atreladas aos juros, mais alavancadas, mais cíclicas, devem performar melhor em um ambiente de juros para baixo”, explica Mamede.

Visando as ações de menor capitalização, uma das alternativas é o fundo AZ Quest Small Mid Caps FIC FIA, que busca entregar retornos acima do índice SMLL.

A descrição dada por Mamede, de empresas cíclicas e atreladas aos juros, se aplica ao setor de varejo, por exemplo. No entanto, ele faz destacar que esse segmento, em específico, ainda não brilha os olhos da AZ Quest.

“Ainda não estamos, necessariamente, muito otimistas com consumo e varejo doméstico, setor que costuma chamar a atenção em momentos de queda de juros. A dinâmica operacional do setor ainda é muito desafiadora no curto prazo. Acreditamos mais em construção civil, que está indo super bem, por exemplo, e gostamos também de alguns shoppings centers”, diz.

Já William Dominice, da Clave, chama a atenção para alguns potenciais negócios que vêm acontecendo entre empresas do Ibovespa, e prevê novas oportunidades nessa direção.

“Em três meses do ano, nós já tivemos várias movimentações no sentido de fusões e aquisições: Petroreconcavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3), Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3), além do Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) propondo o fechamento de capital da Cielo (CIEL3). Então quando acontece esse tipo de negociação, você tem mais oportunidade de ganho, e nós da Clave acreditamos que novas operações acontecerão. Continuamos comprados nos setores de utilidade pública e financeiros, e vendidos em empresas alavancadas, que estão passando por dificuldades momentâneas no Ibovespa”, completa.

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Guilherme Serrano Silva

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