O Ibovespa hoje encerrou em queda de 3,98%, a 110.611,58 pontos, pressionado pelas incertezas acerca da retomada econômica e pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, de anular as condenações do ex-presidente Lula.
Em pregão estressado, o Ibovespa abriu já no território negativo diante de números recordes da epidemia de covid-19 no Brasil, com diversos estados registrando superlotações em UTIs e falta de leitos hospitalares. O mercado põe na balança os impactos econômicos advindos da crise sanitária e buscam precificar duração desses efeitos.
Mas o principal índice acionário da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) mergulhou de vez depois da decisão do ministro Edson Fachin de invalidar as condenações contra o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva julgadas pela Lava Jato.
“A decisão é preliminar e terá ainda que ser julgada pelo plenário da Corte, além de ter novo encaminhamento na Justiça Federal de Brasília”, avaliou José Falcão Castro, especialista em renda variável da Easynvest. “O fato é importante e sério, porém todo cuidado é pouco, pois há um ‘efeito manada’ que normalmente o tempo prova ser excessivo!”
A decisão determinou a reabertura das ações penais e devolveu à Lula os direitos políticos, tirando-o do escopo da Lei de Ficha Limpa.
“Qual é o temor do mercado? Se confirmada, a elegibilidade de Lula antecipa o jogo eleitoral de 2022, que já está bastante adiantado com Bolsonaro em campanha para a reeleição desde que assumiu o primeiro mandato. O mercado teme que o presidente possa reforçar suas políticas populistas para não perder vantagem nessa disputa. Além disso, com Lula de volta ao quadro eleitoral, a polarização tende a repetir 2018, esvaziando as chances de uma candidatura de centro no ano que vem”, ponderou Falcão Castro.
Exterior arisco não ajuda
No exterior, a aversão ao risco é ditada pela nova alta das Treasuries, precificando que o Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, deve elevar as taxas de juros referenciais para conter a inflação.
Enquanto o mercado de trabalho estadunidense permanece aquecido, o Senado aprovou um novo pacote de estímulos na ordem de US$ 1,9 trilhão. Uma taxa de juros mais alta eleva o custo de capital de empresas e os ativos de risco, como as ações, são impactadas negativamente.
“O dólar continua ganhando força com as expectativas de recuperação da economia americana e política fiscal expansionista, enquanto o Fed insiste em manter os juros baixos. A alta dos juros dos Treasuries, que refletem os riscos inflacionários, reverte o fluxo dos emergentes e pressiona suas moedas”, ressaltou Falcão Castro.
Estatais pesam sobre Ibovespa
Entre as principais quedas da Bolsa brasileira estiveram as ações preferenciais da Petrobras (PETR4). Os ativos da petroleira caíram 5,63%, a R$ 21,13.
Mais cedo nesta segunda-feira, a companhia anunciou novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel nas refinarias, com vigência a partir da próxima terça-feira (9). A gasolina terá alta de 8,8% nas refinarias, sendo o sexto reajuste em 2021. Já o diesel terá alta de 5,5%, quinto reajuste no período.
A Petrobras ainda recebeu a indicação de seis nomes da União, através do Ministério de Minas e Energia e do Ministério da Economia, para seu conselho de administração.
As indicações aconteceram após quatro membros antigos terem pedido para deixar seus cargos depois da interferência do Governo Federal na presidência da estatal, que resultou na saída de Roberto Castello Branco. Três nomes da lista são de militares e três são da área técnica.
Enquanto isso, os ativos da Eletrobras (ELET3) viraram para baixa em meio a preocupação do mercado com a anulação de condenações de Lula.
Já as ações ordinárias do Banco do Brasil (BBAS3) encolheram mais de 4%. Os papéis seguiram a tendência de pares, como o Bradesco (BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4), que ficaram entre as piores queda do Ibovespa.