Por volta das 16h dessa quinta-feira (21), o Ibovespa despencava 3,31%, aos 107.223 pontos, reagindo à sinalização da possível quebra no teto de gastos.
Se por um lado o Ibovespa despenca, por outro, o dólar hoje decola 2,04%, frente ao real, valendo R$ 5,674 na venda.
No mesmo horário, todas as ações do Ibovespa operavam em queda, sendo que os papéis da GetNet (GETT11) e Banco Inter (BIDI11; BIDI4) tinham as maiores quedas.
Ontem, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmou que parte do pagamento do Auxílio Brasil, programa que pretende substituir o Bolsa Família e pagará um benefício de R$ 400, está fora da regra fiscal.
Durante um evento virtual de entidade da construção civil, Paulo Guedes apontou que no que depender da equipe econômica, o Auxílio Brasil poderá ser financiado com cerca de R$ 30 bilhões fora do teto de gastos. Segundo o economista, o movimento não seria necessário se o Senado tivesse aprovado a reforma do Imposto de Renda.
Com isso, o mercado está apreensivo com a possibilidade de quebra do teto de gastos.
João Beck, economista e sócio da BRA, explica que “o ministro da Economia é visto pelo mercado como guardião do cofre. Foi fato que o desrespeito ao teto de gastos foi atacado por diversas frentes do governo e até do congresso. Mas é a primeira vez que o Ministro da Economia, Paulo Guedes, sinaliza nessa mesma direção ao dizer que ou irá antecipar uma revisão do teto de gastos se pede um ‘waiver’, uma licença para gastar com essa camada temporária de proteção. Para completar, Bolsonaro ainda disse que irá dar um auxílio aos 750 mil caminhoneiros para compensar a alta do diesel. Com isso, o Ibovespa cai mais de 4%.”
Ele completa dizendo que “é interessante o significado da palavra ‘waiver’ na história fiscal brasileira. Nos anos 90, o Estado era devedor do FMI e descumpria frequentemente os compromissos assumidos. Para evitar penalizações mais graves ao descumprimento, o governo brasileiro pedia um “waiver”. Era um termo de compromisso que combinava um pedido de perdão com a promessa de novos esforços compensatórios para cumprir o prometido no futuro.”
“O reflexo no mercado é obvio e sabido até aos menos iniciados: dólar para cima e bolsa para baixo. Mas outros dias de notícias menos piores já causaram essas variações de mesma intensidade – negativas pra bolsa e positivas pro dólar. O maior impacto mesmo é nos contratos de DI Futuro que projetam Taxa Selic ainda mais alta nos próximos meses. A bomba vai cair no colo do Banco Central que precisará subir ainda mais os juros pra remunerar e segurar o capital dentro do país. E juros mais altos, puxa pra cima os encargos da dívida, uma conta salgada que pode mais do que compensar as benesses distribuídas hoje pelo governo”, aponta Beck.
Última cotação do Ibovespa
De forma distinta ao Ibovespa hoje, o índice acionário encerrou as negociações na última quarta com uma alta de 0,10%, aos 110.786.43 pontos. O dólar, por sua vez, encerrou a sessão de ontem em queda de 0,59%, negociado a R$ 5,56.