Líderes de influência no Índice Ibovespa, Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR4) dominaram as manchetes das últimas semanas com questões como debates sobre dividendos e fortes ruídos políticos. As ações das duas empresas com mais peso no índice da B3 estão em queda ao longo do ano.
Em meio a uma crise política e macroeconômica, a Vale (VALE3) acumula uma queda de mais de 20% nos três primeiros meses deste ano. A companhia passa por indecisões sobre quem assumirá o cargo de presidente da Vale, ao passo que as variações no preço do minério de ferro também impactam seu desempenho e preço de seu principal produto.
Enquanto isso, a controvérsia em torno dos dividendos da Petrobras segue ecoando no noticiário como um jogo de batata quente entre diretoria e governo. Sem definições claras sobre a distribuição de lucros extraordinários, os acionistas enfrentam um cenário de incerteza e os papeis já caem mais de 4% no ano.
Refletindo os desempenhos das empresas, o Ibovespa acumula uma queda de quase 5% (4,78% às 11h50 de Brasília) no ano.
“Defasada”, Vale (VALE3) derrete mais de 20% em 2024
Segundo Pedro Marcatto, operador de renda variável da B.Side, a Vale (VALE3) está entre as companhias que podem se destacar no Índice Ibovespa em um intervalo de curto a médio prazo.
“Apesar de enfrentar um cenário macroeconômico desafiador e ser o maior peso do índice Ibovespa, a Vale está muito defasada e é uma empresa com bons fundamentos”, comenta o especialista.
Segundo o analista CNPI da Suno Research, José Eduardo Daronco, o principal fator para a queda das ações da Vale é a economia chinesa, enquanto que “o ruído político atrapalha, colocando o foco em questões de menor relevância para o resultado”.
No quesito político, a saída recente do ex-conselheiro de administração da Vale, José Luciano Duarte Penido, divulgada através da carta de renúncia alfinetou a alta diretoria da empresa.
No documento, Penido afirma que “no conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse”.
A carta de renúncia do conselheiro ainda ressaltou o interesse dos acionistas privados, como Black Rock, Cosan (CSAN3) e Bradesco (BBDC4), de eleger um dirigente para a Vale que tenha uma relação melhor com o governo federal.
“Querem um CEO mais alinhado com eles para fazer valer a sua posição e definir o rumo que a Vale terá” afirmou José Daronco.
Na semana passada, o conselho da mineradora conseguiu encerrar as sondagens sobre um novo CEO da Vale, estendendo o mandato de Eduardo Bartolomeo até dezembro deste ano (anteriormente com vencimento em maio)
Agora, Bartolomeo deverá ajudar na transição e na formação da lista tríplice para um novo presidente para a mineradora. A saída do atual presidente já era ambicionada pelo governo, a fim da substituição pelo ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não efetivou-se em meio a massivas repercussões negativas.
Petrobras (PETR4): dividendos incertos e queda de 4,7% no ano
Empatada com o Itaú (ITUB4) entre as empresas de maior peso no Ibovespa, a Petrobras (PETR4) acumula uma queda bem mais enxuta que a Vale, de aproximadamente 4,7% no ano.
“Caso não continue sofrendo intervenções, a Petrobras tem espaço para valorizar mais”, comenta Marcatto.
Entre os pontos negativos da companhia agora, o executivo chama atenção para um marco de intervenção recente na petroleira, que pode ser seguido de outros, além da volatilidade (risco de mercado) do preço das commodities.
“Ao contrário da Vale, grande parte do impacto da Petrobras está relacionado à governança, onde se desdobra a discussão dos dividendos extraordinários”, afirma João Daronco, analista CNPI da Suno Research.
“O cenário macro é bem positivo para a Petrobras (PETR4) melhor do que no início do ano passado. Entretanto, por questões de governo e contra-argumentos de um lado e do outro, com a discordância do governo e de executivos, algumas incertezas são geradas, o que pode impactar o preço”, diz analista CNPI, João Daronco.
Apesar disso, o analista projeta uma geração de caixa superior a 10%, com um dividend yield na PETR4 entre 12% a 14% no atual patamar de preços, mesmo excluindo o pagamento dos extraordinários.
Na quinta-feira (14), a Petrobras comunicou uma proposta do conselho para o depósito de R$ 43,9 bilhões em uma reserva de remuneração de capital. Segundo fontes próximas com informações para a coluna da jornalista Débora Bergamasco, da CNN Brasil, a aposta é de que o repasse dos dividendos da Petrobras, em parte, aconteça até outubro deste ano.
Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) estão entre os maiores impactos negativos do Ibovespa
De acordo com Marcatto, “o maior detrator [do Ibovespa] está relacionado à Petrobras, em função de maior risco intervencionista, se tratando de uma empresa controlada pelo governo federal.” A razão disso para o especialista é a a polêmica do pagamento de dividendos.
“Além de Petrobras, Vale vem sofrendo impacto tanto da economia chinesa em função de uma atividade mais fraca no país, que enfrenta um longo período deflacionário, além da alta dos estoques do minério de ferro e a baixa atividade no setor de construção chinês”, comenta Marcatto.
Segundo o especialista, quando esses dois papéis são retirados da conta do índice, o resultado no Ibovespa “não tem uma razão de preço/lucro tão baixa assim.”
Os principais fatores de risco do Ibovespa no curto e médio prazo são as possibilidades de intervenção do governo nas estatais controladas e empresas com participação relevante, caso da Vale, conclui Marcatto.
Nesta manhã de segunda-feira, às 13h de Brasília, a Petrobras caía 1,71%, cotada a R$ 35,70. Enquanto isso, a Vale (VALE3) tinha alta de 1,41%, negociada a R$ 60,60.
O Ibovespa, por sua vez, caía 0,25%, registrando 126.345,88 pontos.