Ibovespa fecha sessão em baixa pela 10ª vez seguida, maior série negativa desde 1984; Petrobras (PETR4) sobe e Vale (VALE3) desaba
Após oscilar nesta segunda-feira (14), o Ibovespa fechou a sessão em baixa pela décima vez no mês a 1,06%, aos 116.809 pontos, com a mínima diária de 116.529,96 pontos e a máxima de 118.081,90 pontos.
O volume financeiro do dia foi de R$ 22,1 bilhões.
Ainda em grau relativamente discreto de correção, que chegou hoje à casa de 4% no mês, o Ibovespa deu prosseguimento nesta abertura de semana à sequência negativa que coincidiu com o início de agosto, em baixa desde então, hoje pela 10ª vez consecutiva – algo não visto desde as 11 perdas seguidas em fevereiro de 1984, que haviam igualado, por sua vez, outras 11 quedas em junho de 1970, conforme levantamento do AE Dados.
“Houve piora do sentimento do investidor, o que afeta em especial o setor de commodities, por conta da China, que tem desacelerado, o que pesou bastante no mercado hoje, em dia negativo para os preços das matérias-primas lá fora, inclusive para o petróleo”, diz João Piccioni, analista da Empiricus Research. “Um mix pior para commodities pode pegar também na nossa moeda”, acrescenta o analista.
O Ibovespa hoje terminou em direção oposta das Bolsas dos Estados Unidos
- Dow Jones: +0,08%, aos 35.308,26 pontos;
- S&P500: +0,58%, aos 4.489,83 pontos;
- Nasdaq: +1,05%, aos 13.788,33 pontos;
O preço do dólar à vista fechou em alta de 1,25%, atingindo a máxima de R$ 4,9656, após oscilar entre R$ 4,9121 e R$ 4,9711.
Hoje, Petrobras (PETR4) registrou alta com as ações preferenciais da estatal subindo 0,26% nesta sessão, cotados a R$ 30,64. Movimento similar ocorreu com as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) que tiveram alta de 0,48%, a R$ 33,63.
Impactada pelo cenário econômico chinês, a Vale (VALE3) teve queda de 3,10%, cotada a R$ 61,90.
Entre as maiores baixas do Ibovespa hoje, destaque para Yduqs (YDUQ3), que despencou 13,50%, Petz (PETZ3) registrou queda de 7,06% e Lojas Renner (LREN3) negativou 6,59%.
As 3 maiores altas do dia foram de Alpargatas (ALPA4), Suzano (SUZB3) e CPFL (CPFE3), que subiram 1,61%, 1,32% e 1,31%, respectivamente.
No setor bancário, o Bradesco (BBDC4) anotou queda de 0,52%, cotado a R$ 15,29. O Itaú (ITUB4) também fechou em queda de 1,45%, seguido pelo Banco do Brasil (BBAS3), que caiu 0,99%. O Santander (SANB11) caiu 0,44%.
“Foi mais um dia de queda para o Ibovespa, agora aos 116 mil pontos, ainda puxado pelo exterior, com notícias ruins sobre o setor imobiliário da China, que segue patinando. E aqui, do lado doméstico, expectativa ainda pelo reajuste dos preços da Petrobras nas refinarias ante a defasagem em relação às cotações internacionais do petróleo”, diz Bruna Centeno, sócia e especialista da Blue3 Investimentos, mencionando também abertura na curva de juros, nos curtos como nos vencimentos mais longos, em razão do aumento da percepção de risco global e doméstica.
Se, por um lado, eventual recomposição nos preços praticados pela Petrobras – ainda esta semana – seria positiva para a empresa, por outro os agentes de mercado monitoram os efeitos que poderá trazer para a inflação – após a acentuação do IPCA de julho, em alta de 0,12% na margem, acima do esperado para o mês, ter decorrido essencialmente do grupo Transportes, pelo efeito do avanço nos preços da gasolina ao consumidor. Aceleração adicional na inflação corrente pode esfriar as apostas em um ritmo mais acentuado de afrouxamento monetário, observa a analista da Blue3.
“O dado de atividade doméstica divulgado hoje, o IBC-Br, veio acima do esperado, mas o mesmo índice mostrou fortes sinais de desaceleração, no segundo trimestre frente ao primeiro”, diz Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos, acrescentando que o que tem predominado, no momento, é a percepção negativa sobre a economia chinesa, o que tira força do Ibovespa, agora abaixo dos 117 mil, para buscar a retomada dos 120 mil pontos. Em reflexo das incertezas sobre a China, especialmente desde o ‘default’ da empresa Country Garden na semana passada, a perspectiva para as commodities não é das melhores. Dessa forma, “Vale, a ação de maior peso individual no Ibovespa, caiu hoje 3%”, observa a analista.
Mais cedo, “as bolsas do Japão e da China recuaram, com a Zhongzhi, uma empresa financeira chinesa enfrentando problemas de pagamento de dívidas – o regulador bancário da China, preocupado com potencial contágio, criou uma força-tarefa para examinar os riscos da instituição”, aponta em boletim a Monte Bravo Investimentos.
Na B3, depois de o Ibovespa ter igualado na sexta-feira, em extensão, séries bem mais agudas de correção vistas em agosto de 1998 e fevereiro de 1995, ambas superiores a 20%, o ajuste de agosto de 2023, mesmo com o índice sempre em baixa nos fechamentos desde o começo do mês, está agora pouco acima de 4%, após ganhos acumulados entre abril e julho, com destaque para o avanço de 9% em junho.
Em janeiro, o Ibovespa deu a largada em 2023 no positivo, com o índice a 113,4 mil pontos no fechamento daquele mês, mas adernou em fevereiro (-7,49%) e março (-2,91%), encerrando o primeiro trimestre abaixo dos 102 mil pontos, com recuperação sustentada ao longo do trimestre seguinte, que o deixou bem perto dos 122 mil pontos no encerramento de julho, no início deste terceiro trimestre.
Maiores altas e quedas do Ibovespa hoje
O que movimentou o Ibovespa hoje?
A China é um dos principais fatores de queda do Ibovespa hoje, afirma Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.
“A China vem apresentando problemas em grandes conglomerados financeiros, que tem ligação com o setor imobiliário por lá. Isso vem causando “dor de cabeça” aos detentores de bonds das empresas desse setor”, diz Fernandes.
Ele cita que esse cenário acabou derrubando o mercado de ações ligadas a commodities, principalmente as metálicas, fazendo a Vale cair e impactando o Ibovespa.
Além disso, Fonseca enumera outros fatores para a queda, como: o vencimento de opções e futuro do Ibovespa (quarta-feira), e vencimento de opções de ações (sexta-feira), trazendo maior sentimento de risk-off aos investidores.
“Acredito que as recentes quedas do Ibovespa nos últimos 10 dias mostram que o mercado já estava precificando um corte de juros um pouco mais agressivo por parte do Copom e, após a divulgação do corte, o mercado entrou num modo de realização de lucros e chegou a pressionar a curva de juros, precificando um possível corte de -0,75% em alguma reunião deste ano, que acabou sendo frustrado pelo presidente do Banco Central”, diz ele.
Entre os destaques positivos estão as altas de Alpargatas, Locaweb e Grupo Soma que, de acordo com Fernandes, são ativos que estão bem por causa dos resultados operacionais divulgados no trimestre. A CPFL também subiu refletindo o bom resultado divulgado na última sexta-feira, acima das expectativas do mercado.
Em relação às quedas, hoje despencam ações do segmento de educação. Entre elas a Yduqs e nima, após o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, impor travas para aberturas de novos cursos de medicina. “Além disso, nima ainda divulgou um resultado fraco e pior que o esperado pelo mercado, acelerando ainda mais a queda no papel”, diz Fernandes.
A Cogna também cai, mas em menor proporção por ter cursos mais diversificados.
Ademais, Fernandes aponta que nossa curva de juros segue subindo – um reflexo da versão de riscos dos investidores, principalmente por conta da alta das treasuries nos EUA. “Isso vem colocando em dúvida se o FED vai realmente parar de subir juros em 2023, pois caso contrário, o diferencial de juros entre Brasil e EUA deve cair de forma mais rápida do que o mercado esperava.”
Por fim, o mercado também especula sobre uma alta nos combustíveis devido a um reajuste no diesel e gasolina por parte da Petrobras, o que pode pressionar a inflação. “Um aumento nos combustíveis, combinado a um dólar mais forte, acaba impactando a inflação, que deve voltar a acelerar”, explica Fernandes.
Último fechamento do Ibovespa
O Ibovespa terminou o pregão da última sexta-feira (11) em queda de 0,24%, aos 118.065,14 pontos.
Com Estadão Conteúdo