O Ibovespa alcançou pela primeira vez os 100 mil pontos nesta segunda-feira (18), mais precisamente às 14h44. Nesse momento foram atingidos os 100.027 pontos. É uma marca histórica para o principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3), que chegou a beirar os 37 mil pontos no início de 2016.
O desempenho do Ibovespa, desde então, tem sido bastante positivo, batendo seguidos recordes nos últimos meses. A guinada acontece principalmente pelo otimismo criado no mercado, ao longo do período eleitoral, com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência, e com a provável aprovação da reforma da Previdência, que tramita no Congresso.
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Altos e baixos no Ibovespa
A trajetória para que o índice chegasse à esperada marca, no entanto, foi cheia de altos e baixos. Criado em 2 de janeiro de 1968, os fatores que levam uma empresa a ser listada dentro do Ibovespa são dois:
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- Liquidez, ou seja, o quanto a ação dessa empresa é negociada num determinado número de pregões.
- Volume financeiro, ou o valor total dos negócios envolvendo ações de determinada empresa.
Criado inicialmente com valor de 100 pontos (2.288, corrigidos pela inflação) o Ibovespa valorizou 4.370% até chegar aos 100 mil pontos.
Pela forma como o índice é composto, acabam fazendo parte do Ibovespa companhias maiores e bastante negociadas, como Petrobras, Vale, Itaú e Bradesco.
Justamente por refletir o desempenho das maiores companhias do país, o índice também é um benchmark para a economia brasileira. Quando a economia vai mal, o Ibovespa reflete isso. O mesmo ocorre quando tudo vai bem.
Isso ocorreu, por exemplo, entre os anos de 1968 e 1971, quando ele se valorizou doze vezes, em um período conhecido como “milagre brasileiro“. O mesmo ocorreu nas crises, como a recente recessão, quando ele foi de mais de 61 mil pontos, em meados de 2014, para menos de 38 mil, em 2016.
Durante o “milagre econômico” o Brasil cresceu em taxas de 10% ao ano. E foi nessa época que os brasileiros começaram a se interessar para investimentos na Bolsa de Valores. Graças também a reformas promovidas pelo governo militar para facilitar esse movimento. Entre elas, a criação dos Fundos 157, que permitiam ao contribuinte aplicar até 10% do imposto de renda devido em fundos de ações. Somente em 1971 o Ibovespa subiu 78,24%. Entretanto, esse aumento maciço de investidores sem experiência nem orientação acabou gerando uma bolha. E em 1972 o índice caiu 51,97%.
Em 1976 o governo respondeu criando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), juntamente com a lei das S.A. O objetivo era aumentar a transparência do mercado e garantir alguma proteção aos acionistas minoritários após o estouro da bolha. Graças a essas mudanças os fundos de investimento também cresceram.
O Ibovespa passou por mudanças durante os choques do petróleo de 1973 e 1979 e a desvalorização cambial. Nesse momento a inflação começou a crescer e os fundos de debentures foram os mais requisitados. Mas a renda fixa se tornou protagonista de vez durante a década de 80. Anos marcados pela hiperinflação, que levava investidores também a procurar investimentos no overnight.
São Paulo se tornou a mais importante Bolsa de Valores brasileira no fim da década de 1980, após a quebra da Bolsa do Rio de Janeiro. O megainvestidor Naji Nahas realizou uma série de operações que decretaram o fim da bolsa carioca e de sete corretoras. O mercado então decidiu migrar em massa para São Paulo.
Outro golpe ocorreu durante o governo de Fernando Collor: o confisco de 80% de todos os depósitos. Nesse momento de liquidez escassa o valor das ações de todos os fundos caiu de forma expressiva.
Somente a partir de 1994 que ocorreu uma retomada nas atividades da Bolsa de Valores. Principalmente graças as privatizações e a estabilização monetária do Plano Real.
Nos últimos 30 anos a Bolsa de São Paulo enfrentou várias crises, como a mexicana, asiática, russa, a desvalorização do real, a crise da New Economy, o onze de setembro e a dos subprimes.
Há exatos vinte anos foi criado o sistema de home broker, que permite comprar ações diretamente pela internet. Isso levou a uma popularização dos serviços da Bolsa, que permitiu uma aumento exponencial dos investidores.
Oscilações mais recentes
Essa história de bear e bull market acompanhou o índice desde sua criação. Em 2002, por exemplo, o índice oscilava por volta dos 10 mil pontos, marca da qual foi se distanciando muito até maio de 2008, quando atingiu seu pico histórico que durou mais de 10 anos: 73.920 pontos no chamado intraday.
No fechamento de um dia, o maior valor daquele ano foi de 73.516,80 pontos.
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Todavia, depois desse pico, o Ibovespa iniciou queda brusca, provocada também pela “crise dos subprimes” inciada nos Estados Unidos. No prazo de um ano, o índice caiu para 29.435 pontos.
Mas voltou a subir puxado pela economia brasileira, graças também aos esforços do governo para manter o crescimento econômico. Os bons resultados registrados pelo Produto Interno Bruto (PIB) Brasil nos anos seguintes atraíram também investimentos na Bolsa de Valores.
Entretanto, de 2010 até a metade de 2017, o índice nunca chegou a superar a marca batida em 2008.
As escolhas econômicas dos governos da presidente Dilma Rousseff (PT), aliadas à crise de confiança causada por escândalos de corrupção, impactaram também no Ibovespa. A partir de 2011 o índice começou uma descida cada vez mais rápida. Uma queda que culminou no fim de 2015 e começo de 2016, quando alcançou seu menor valor desde março de 2009.
Desde então, o cenário econômico se tornou mais positivo. Após o impeachment de Dilma, os investidores voltaram a ganhar confiança. As reformas econômicas do governo do presidente Michel Temer também deram fôlego para a Bolsa de Valores. E em medida em que o País deixou o ano de sua maior depressão econômica, quando o PIB brasileiro encolheu 3,5%, o Ibovespa também ganhou corpo.
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Os investidores aumentaram sua confiança após a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. As promessas de sua equipe econômica, liderada pelo liberal Paulo Guedes, foram um sinal positivo para o mercado, que começou a acelerar.
Desde a posse do novo mandatário, a Bolsa de Valores bate recordes seguidos. Enquanto investidores do Brasil e do exterior aguardaram ansiosos por mais informações sobre a reforma da Previdência. A principal aposta do governo para sanear as contas públicas e assim tirar as travas dos investimentos represados nos últimos anos.
Esse aumento da confiança do mercado aparece com cada vez mais força nos números. A B3 informou em março que o número de brasileiros investindo na Bolsa de Valores bateu recorde em fevereiro. Há atualmente 919.403 pessoas físicas aplicando em ações no País.
Somente no segundo mês do ano, a B3 ganhou 61 mil novos investidores. Um aumento de quase 50% em relação aos 45 mil registrados em janeiro, quando o total foi de 858 mil.
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O número de brasileiros investindo na Bolsa de Valores acompanhou o andamento do Ibovespa. Esse número aumentou sensivelmente desde 2017, ano em que havia 619.625 pessoas físicas investindo em ações. Em 12 meses, essa quantidade saltou para 813.291, para então chegar aos aproximadamente 920 mil atuais.
Como funciona o Ibovespa
O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo tem por objetivo atuar como um termômetro do mercado financeiro, o chamado benchmark. É um indicador do desempenho de como foi a média das negociações realizadas em um determinado período. Sua metodologia de cálculo é definida pela própria B3, através de uma média de uma carteira teórica de ações.
A metodologia da escolha dos ativos que farão parte desse índice é composta basicamente por dois fatores: liquidez e volume das ações. O primeiro critério diz respeito ao número de negociações a que um papel é submetido durante os pregões. Já o segundo trata do montante financeiro negociado por meio daqueles ativos na Bolsa.
O fato de uma ação não se encontrar dentro do Ibovespa em determinado momento, no entanto, não significa necessariamente que a empresa em questão seja melhor ou pior que uma companhia com suas ações incluídas nesse parâmetro. Significa, sim, que as empresas que lá se encontram têm suas ações mais negociadas através de um volume financeiro mais relevante.