Ibovespa cai pela 11ª vez seguida, na pior série em 29 anos; Petrobras (PETR4) sobe após reajuste nos combustíveis e Vale (VALE3) recua

Após apresentar volatilidade nesta terça-feira (15), o Ibovespa fechou novamente em baixa no mês com queda de 0,55% aos 116.171,42 pontos, com a mínima diária de 116.033,15 pontos e a máxima de 117.697,25.

O volume financeiro do dia foi de R$ 26,5 bilhões.

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O aumento anunciado pela Petrobras (PETR4), de manhã, para os preços da gasolina e do diesel contribuía para o desempenho das ações da estatal nesta terça-feira – quase totalmente revertido, contudo, no fechamento (PETR3, -0,21%, PETR4, +0,72%). Mesmo quando ambas as ações ainda subiam, o sinal não era o suficiente para impedir que o Ibovespa chegasse, nesta terça, à 11ª queda consecutiva, igualando séries negativas de fevereiro de 1984 e de junho de 1970.

Na semana, o Ibovespa recua 1,60% no combinado das duas primeiras sessões, colocando as perdas do mês a 4,73% e limitando o avanço do ano a 5,87% – na última sessão de julho, o Ibovespa, então bem perto dos 122 mil pontos, acumulava ganho de 11,13% em 2023. De lá para cá, a aversão a risco se impôs essencialmente desde o exterior com a retração do investidor estrangeiro, que vinha se mantendo na ponta compradora na B3, adquirindo até então, em geral, dos institucionais e domésticos.

A sequência de dados ruins sobre o ritmo de atividade e o recente comportamento deflacionário dos preços na China fizeram acender a luz amarela para a segunda maior economia do globo, a que o Brasil e a B3 têm exposição significativa pelo peso das commodities para o País como para a Bolsa. Incertezas quanto ao grau de ajuste da política monetária nos Estados Unidos – ou seja, até que ponto o Federal Reserve ainda poderá elevar a taxa de juros de referência, tendo em vista os dados disponíveis até o momento – também resulta em ajustes nos Treasuries e nas ações listadas em Nova York.

O Ibovespa hoje terminou em direção similar às Bolsas dos Estados Unidos:

  • Dow Jones:  – 1,02%, aos 34.946,99 pontos;
  • S&P500:  – 1,16%%, aos 4.437,79 pontos;
  • Nasdaq:  – 1,14%, aos 13.631,05 pontos; 

O preço do dólar à vista fechou em alta de  0,43%, atingindo a máxima de  R$ 4,9868, após oscilar entre R$ 4,9602 e R$ 4,9977.

Hoje, a Petrobras (PETR4) registrou alta com as ações preferenciais da estatal subindo 0,91% nesta sessão, cotados a R$ 30,92, após a estatal anunciar reajustes nos combustíveis. Movimento inverso ocorreu com as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) que tiveram queda de 0,21%, a R$ 33,56.

A Vale (VALE3) teve um decréscimo de 1,05%, cotada em R$ 61,25.

Entre as maiores quedas do Ibovespa hoje, destaque para Gol (GOLL4), que despencou 12,07%, Azul (AZUL4), que registrou queda de 5,48%, e Via (VIIA3), que negativou 4,07%.

As 3 maiores altas do dia foram de BRF (BRFS3), Vibra (VBBR3) e Natura (NTCO3), que subiram 7,31%, 6,36% e 5,77%, respectivamente.

No setor bancário, o Bradesco (BBDC4) anotou alta de 0,26%, cotado a R$ 15,33. O Itaú (ITUB4)  fechou em queda de 0,55%, seguido pelo Banco do Brasil (BBAS3), que caiu 0,53%. O Santander (SANB11) caiu 0,70%.

China, dados nos EUA e incertezas no Brasil

Na China, dados de produção industrial, vendas do varejo e investimentos em ativos fixos vieram abaixo do esperado, alimentando os receios em torno da desaceleração econômica. Nos Estados Unidos, por sua vez, índice de atividade industrial também ficou aquém da previsão, e apesar de as vendas no varejo norte-americano terem surpreendido positivamente, a avaliação de parte do mercado, ainda que minoritária, é de que o resultado tende a ser insuficiente para mudar expectativa por novo aumento de 25 pontos-base nos juros do Federal Reserve, em setembro.

Em evento organizado pela XP em Brasília, a head de economia para América Latina do JPMorgan, Cassiana Fernandez, disse nesta terça que o banco revisou a projeção de crescimento da China em 2024, para 4%. Para os Estados Unidos, porém, a atividade não é vista mais como um problema e o foco, agora, está na inflação, acrescentou Cassiana. Segundo ela, o Fed provavelmente terá de manter a taxa de juros em patamar elevado por tempo mais longo do que o imaginado inicialmente.

No Brasil, ainda que o modo bombeiro tenha sido acionado no mesmo dia, os investidores seguem atentos a eventuais sequelas no relacionamento do governo com a Câmara dos Deputados, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter questionado, em entrevista divulgada ontem, o que considera como excesso de poder na Casa. Haddad buscou se explicar publicamente ainda na segunda-feira, mas as declarações iniciais resultaram em mal-estar e adiamento de reunião técnica que a equipe econômica e lideranças parlamentares teriam ontem sobre a votação do arcabouço.

Em meio a incertezas domésticas e externas, a curva de juros operou na abertura de desta terça com maior estresse nas pontas curtas e longas, trabalhando em alta, e o dólar deu continuidade ao movimento de apreciação frente ao real, saindo da região de R$ 4,74, em pregões anteriores, e chegando nesta terça-feira a buscar máxima a R$ 5, observa Rosiane Duarte, analista da Toro Investimentos.

Nesta terça-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o reajuste nos combustíveis, promovido pela Petrobras, terá impacto na inflação – ele estima que possa afetar o IPCA em 0,40 ponto porcentual, entre agosto e setembro. “Hoje teve um aumento grande em combustíveis. O impacto da gasolina é direto, na cadeia. Ainda terá algumas revisões com o reajuste de hoje”, disse Campos Neto, em evento na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

O presidente do BC disse também que o Brasil tem feito um “pouso suave” na inflação com pouco custo para o crescimento da economia, e voltou a citar revisões, para cima, nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. Campos Neto observou, no mesmo evento, que o Brasil é um dos poucos países com inflação encaixada para os próximos anos.

Em nota, a Ativa Investimentos avaliou como positivo o aumento dos preços do diesel e da gasolina anunciado nesta terça-feira pela Petrobras, da ordem de 25% e 16%, respectivamente. A corretora, porém, manteve a recomendação neutra para os papéis da estatal. O reajuste vale a partir da quarta, 16, nas refinarias da companhia.

Maiores altas e quedas do Ibovespa hoje

O que movimentou o Ibovespa hoje?

Para Leandro Petrokas, diretor de research, mestre em finanças e sócio da Quantzed, nesta terça-feira (15) houve um movimento nítido de aversão a risco nas bolsas globais com o S&P e Nasdaq caindo, além do índice VIX em alta e a Europa operando em baixa.

“Os mercados internacionais, de mau humor, contagiaram o mercado aqui e há muita preocupação com relação à China também. Então, tem um movimento de aversão a risco bolsas mundo afora que colabora para mais este pregão de queda”, diz Petrokas. 

Ontem, foram divulgados dados sobre a economia chinesa que vieram abaixo das expectativas do mercado, com retração da atividade econômica. 

No cenário do Ibovespa, entre os destaques estão BRF (BRFS3), Vibra Energia e Natura (NTCO3), reagindo a aos bons dados de balanços. “No caso de Natura, houve uma redução do prejuízo na base anual e também o Ebitda ajustado em alta”, explica Petrokas. 

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Outro ativo que sobe bem é a Vibra Energia, que também divulgou balanço. Apesar da queda no lucro, Petrokas afirma que em alguma medida o mercado esperava um número pior. 

A BRF também soltou um resultado de prejuízo de 1,3 bilhão no 2T23, mas um dos pontos importantes para motivar a alta foi o aumento de capital da Marfrig (MRFG3). “A Marfrig apresentou alta volatilidade e com isso é possível que BRF esteja reagindo de forma positiva a essa notícia. BRF pode ser que faça ancoragem, ou seja, que seja a contraparte do aumento de capital da Marfrig”, diz o analista. 

Já entre os destaques negativos Gol, Azul e Via. Gol e Azul, empresas do setor aéreo, desabaram sensíveis a dois fatores: taxa de juros e alta do petróleo. Além disso, Gol teve rebaixamento de compra para a neutra por parte do Citibank e emissão de bônus de subscrição, que pode diluir os acionistas.

Em relação à Via, Petrokas aponta a estrutrura de capital frágil da empresa, com elevado endividamento, e o baixo desempenho “A Via pretende fechar de 50 a 100 lojas ainda em 2023. Essa notícia pode estar tendo impacto ainda agora no mercado, que já não enxerga com bons olhos as ações da Via, que inclusive nesse momento atinge a mínima dos últimos 7 anos.” 

“Então, juros para cima, petróleo elevado, não especificamente no dia de hoje, pesam na expectativa do mercado em relação ao desempenho das companhias aéreas, e VIA3, setor de varejo, também muito sensível à curva de juros”, conclui Petrokas. 

Último fechamento do Ibovespa

O Ibovespa terminou o pregão de ontem (14) em queda de 1,06%, aos 116.809 pontos

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Vinícius Alves

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