Ibovespa: XP piora projeção para a Bolsa até o fim do ano
A XP Investimentos observa uma melhora no cenário externo, com indicadores econômicos mais favoráveis nos EUA e uma recuperação na China. No entanto, a equipe de research da XP avalia que os ativos brasileiros continuam a enfrentar pressões devido a riscos internos. Nesse contexto, a XP reduziu o valor justo do Ibovespa de 149 mil para 145 mil pontos – ainda que, hoje, o Ibovespa esteja operando aos 122 mil pontos.
“Embora o cenário de taxas mais elevadas nos EUA continue afetando o Brasil, alguns riscos domésticos também continuam pesando no índice Bovespa: riscos fiscais, riscos de política monetária, após a última reunião do Copom, e aumento da interferência do governo em algumas empresas”, comenta a XP.
Com as taxas de juros estimadas permanecendo mais altas por um tempo maior, os analistas dizem que a alavancagem das empresas é um ponto de observação para alocações na Bolsa de Valores de São Paulo.
“Quando olhamos para o desempenho do Ibovespa, usando a Dívida Líquida/Ebitda como seu indicador de alavancagem, o número está um pouco acima de sua média histórica, com 2,4x contra a tendência de longo prazo de 2,0x. Setorialmente, Elétricas & Saneamento, Indústria, Consumo Básico e Saúde são os setores mais alavancados”, afirma a research.
No entanto, a XP avalia as ações brasileiras como atrativas com um P/L (Preço/Lucro) de 7,5x.
Ibovespa: setor de saúde teve melhor desempenho em maio, diz XP
Em maio, segundo a XP, o setor de saúde registrou um dos melhores desempenhos, impulsionado pelos bons resultados da Hapvida (HAPV3) e da Rede D’Or (RDOR3), que juntas representam 76% do peso do setor no índice.
O setor de alimentação e bebidas também teve um mês positivo na composição do Ibov, beneficiado pelos bons resultados dos frigoríficos, o que levou a uma revisão de lucros positiva para o segmento.
Por outro lado, diz a XP, o setor de educação teve o pior desempenho do mês novamente, pressionado pelo cenário de juros altos por mais tempo.
“O setor de papel e celulose também registrou mais um mês negativo, afetado pelas notícias da oferta da Suzano (SUZB3) pela International Paper e por um movimento de realização de lucros, à medida que os investidores questionam se os aumentos de preços vão continuar”, pontua a research.
Analistas veem sinais de melhoras na China e EUA
Em maio, a XP observou uma melhora contínua no cenário externo, especialmente até meados do mês, com a economia dos EUA mostrando sinais de moderação e a China evidenciando recuperação.
Nos EUA, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho indicaram uma desaceleração em relação à resiliência observada nos meses anteriores. “Dados como o emprego não-agrícola (nonfarm payroll) e a inflação ao consumidor em abril apresentaram resultados melhores do que o esperado”, explicam os analistas.
Os resultados corporativos do primeiro trimestre de 2024 nos EUA foram novamente positivos, com 80% das empresas do S&P 500 superando as estimativas de lucro, resultando em uma surpresa média de +8,3%. Isso, combinado com tendências macroeconômicas favoráveis, levou o S&P 500 a novas máximas históricas em maio, com uma alta de 4,8%, apesar da queda nos últimos dias do mês.
Na China, o aumento dos estímulos ao mercado imobiliário, dados sólidos da balança comercial e a recuperação dos PMIs de manufatura impulsionaram os preços das commodities e os mercados chineses. O MSCI China subiu 2% em maio e 6,5% no acumulado do ano, destacando-se entre os índices de melhor desempenho.
“Apesar desse cenário global positivo, questões domésticas impediram que o Brasil se beneficiasse. As ações brasileiras caíram 3% em maio, acumulando uma queda de 9% em reais em 2024 e de 16% em dólares, posicionando o Brasil como um dos piores mercados do ano”, conclui a XP.
Ibovespa chega perto do fim do semestre em tom negativo
Apesar de o índice da B3 se aproximar do fim do primeiro semestre no negativo, analistas ainda mantêm uma visão construtiva para o índice ao longo de 2024. Assim como no final do ano passado, a grande expectativa do mercado hoje é a possível redução dos juros nos Estados Unidos.
“A cotação do Ibovespa neste mês assustou um pouco mais. Mas esse estágio já vem se arrastando desde o início do ano, com a saída do capital estrangeiro rumo ao mercado norte-americano, que está barato. É um compasso de espera, até o Federal Reserve de fato cortar os juros. Então não vejo fim do otimismo com a Bolsa brasileira, mas sim um cenário externo que está puxando capital estrangeiro e, consequentemente, pesando aqui”, opina Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
“O cenário ainda é positivo. A trajetória de queda nos juros continua. A gente só precisa de mais tempo para retomar o ciclo de queda aqui no Brasil e iniciar o ciclo de queda lá nos Estados Unidos”, complementa Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos.
O tão esperado ciclo de cortes nos juros norte-americanos pode acontecer em julho. Caso esse cenário se concretize, portanto, a Bolsa no Brasil pode ter dias melhores no segundo semestre.
“Acreditamos que o cenário segue apontando para o lado certo, que é a queda em julho. Então é natural que a gente não veja o Ibovespa caindo para baixo do patamar dos 125 mil pontos. Mas, certamente, o mercado segue com a questão fiscal no radar”, completa Faust.