Se o mercado de ações teve um protagonista neste ano, esse prêmio vai para a volatilidade. O Ibovespa, principal índice acionário da B3 (B3SA3), começou o ano aos 120 mil pontos e variou 31 mil pontos ao longo de 2021.
Na máxima, o Ibovespa chegou a 131 mil pontos e, na mínima, chegou a encostar nos 100 mil pontos. Para efeito comparativo, o S&P 500, principal índice de ações de Nova York, variou 1 mil pontos no ano, com a máxima em 4.743 pontos e a mínima em 3.662.
Acontece que, diferentemente dos Estados Unidos, no Brasil vivemos um combo de fatores prejudiciais para o mercado de ações neste ano. São eles:
- alta da taxa de juros,
- inflação acumulada em dois dígitos,
- disparada do dólar,
- risco político-fiscal;
- risco sanitário com a pandemia.
E, segundo especialistas, a maior parte desses fatores devem acompanhar o Ibovespa em 2022 também, com o agravante de ser um ano eleitoral, que promete acrescentar mais volatilidade ao mercado.
“Esperamos um ano desafiador do lado macroeconômico, com desaceleração do crescimento, inflação ainda elevada e a taxa de juros chegando em 11% ou mais. O Brasil permanece com uma dívida elevada (83% do PIB), e a trajetória dessa dívida será um dos grandes debates para o País no próximo cenário eleitoral”, escrevem os analistas da XP em relatório.
Com todas essas preocupações no radar, muitas instituições passaram a revisar suas projeções para o Ibovespa em 2022, adotando um tom mais conservador e temperando as estimativas com mais volatilidade.
Previsões para Ibovespa em 2022
De acordo com cinco instituições financeiras, o Ibovespa deve encerrar o ano de 2022 aos 120 mil pontos, aponta a média de previsões. Essa pontuação representa uma valorização de 15% em relação ao fechamento de quinta (104.466). Também é próxima da pontuação do início deste ano (119.024 em 04/01/2021).
Considerando todo o espectro de previsão, que projeta o tamanho da volatilidade também, as variações das instituições vão de 93 mil pontos a 145 mil. Já o cenário base para o final do ano é seguinte:
Instituição | Projeção atual |
Banco Safra | 121.000 |
Morgan Stanley | 120.000 |
Ativa Investimentos | 117.000 |
XP Investimentos | 123.000 |
Guide Investimentos | 120.000 |
A avaliação do Banco Safra levou em consideração a condição macroeconômica do País, que o banco analisa como desafiadora no âmbito político, fiscal e de atividade econômica.
“Com a alta persistente da inflação, juros mais elevados e crescimento econômico menor, elevamos as premissas de taxa de desconto e reduzimos as expectativas de crescimento de lucro para os próximos anos”, explicou o banco.
Já o Morgan Stanley afirma estar cauteloso em relação a sua alocação de ativos no Brasil, por acreditar em pressões negativas que jogam contra a valorização dos papéis no Ibovespa. “Continuamos vendo pouco upside para a economia doméstica surpreender em 2022.”
Volatilidade é protagonista
“Olhando para frente, os tempos que se avizinham nos parecem ser potencialmente mais voláteis do que o experimentado ao longo deste ano, devido às questões internas e externas”, diz relatório da Ativa Investimentos.
No ambiente interno, a aproximação das eleições é a principal ponderação da corretora para justificar a projeção para o Ibovespa em 2022. O analista Pedro Serra acredita que, embora seja cedo para fazer preço nos mercados, as movimentações do governo em prol de uma agenda mais popular poderá prejudicar o mercado.
Em relatório, a XP analisou cinco cenários eleitorais de anos anteriores para definir um padrão do mercado de ações nestes períodos. “Analisamos períodos eleitorais a partir de 2002, quando as políticas econômicas eram mais semelhantes às que temos hoje.”
Em 2002, as ações brasileiras caíram quase 30% nos seis meses antes das eleições daquele ano, e subiram 27% durante o semestre seguinte. Porém, em 2014, em ambas janelas de seis meses, antes e depois das eleições, os retornos foram positivos.
No entanto, olhando para outras janelas de tempo, os retornos foram positivos 12 meses e 3 meses antes das eleições, e positivas para todas as janelas pós-eleições. Com isso, a corretora conclui que não há um padrão, que os períodos eleitorais diferem entre si.
Ibovespa está barato
No mais, “o mercado brasileiro é sensível aos movimentos do mercado global, como a volatilidade cambial, períodos de bonanças e crises econômicas globais, e mudanças nos preços das commodities”, dizem os analistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig que assinam o relatórios.
Eles destacam que todos são fatores que podem afetar as ações brasileiras do Ibovespa e em outros índices mais do que as incertezas políticas domésticas.
Para os especialistas da corretora, o índice Ibovespa já está barato atualmente, com sua relação preço/lucro de 12 meses atual em 7,6x. Trata-se de um desconto de quase 30% em relação à média da carteira teórica de ações, que tem uma média de 15 anos de 11,2x.
Porém, o prêmio de risco do índice, que mede a diferença entre o rendimento de renda variável e a taxa de juros real, está atualmente em 7,8%, bem acima da média de longo prazo de 4,9%. Em vista disso, eles ponderam sobre três considerações que devem ser feitas para se posicionar em ações brasileiras em 2022. são elas:
- Buscar ações ligadas a commodities, elas oferecem proteção contra a inflação e o dólar mais alto;
- Procurar empresas de crescimento “secular”, pois continuam protegidas mesmo no cenário macro desafiador;
- Olhar para oportunidades específicas, de ações de qualidade que caíram muito no Ibovespa.